sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Ver para crer
Quando a empresa privada é apanhada em delito, o único e necessário caminho para os agentes do Estado é levá-la para os tribunais
Luiz Garcia - O Globo
Ao descobrir, com lamentável atraso, um fabuloso escândalo nas relações entre a Petrobras e empresas privadas, a presidente Dilma Rousseff fez uma ressalva curiosa e, pode-se dizer, perigosa.
Segundo ela, é preciso punir os culpados — uma afirmação que se poderia dizer desnecessária, embora sempre útil no clima em que vivemos há bastante tempo — mas é necessário proteger as empresas particulares e a estatal.
Não parece ser uma proposta fácil. Na Petrobras, sempre é possível fazer uma limpeza nos quadros. No resto da proposta, as coisas se complicam. Quando a empresa privada é apanhada em delito, o único e necessário caminho para os agentes do Estado é levá-la para os tribunais. Não existe a solução de deixar na mão dos cidadãos que se portaram mal a responsabilidade de fazerem igual limpeza. Não estão, digamos assim, à altura da faxina.
É sintomática, e óbvia, a resposta do setor privado envolvido na sujeira. Por exemplo, no caso de Sérgio Cunha Mendes, vice-presidente da Mendes Júnior. Segundo ele, o esquema batizado de “clube do cartel” nasceu na Petrobras. O suborno pago pelas empresas particulares não teria sido uma oferta das empresas, e sim um achaque nascido na própria empresa estatal. É, obviamente, uma desculpa em farrapos: na área das atividades econômicas, ninguém paga suborno sem que isso seja favorável aos seus interesses.
Segundo Dilma, a estatal já vinha passando por “um rigoroso processo de aprimoramento de gestão”. Para a turma da calçada, resta apenas um comentário: “Imaginem se não estivesse.”
Quanto ao destino das empresas privadas, a presidente se mostrou preocupada com o seu futuro. Ela acha possível punir os envolvidos no escândalo sem que leve para o espaço as empresas que eles hoje comandam, como seus proprietários que são. Para a turma acima citada, é ver para crer.

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