sábado, 31 de janeiro de 2015

Eleição de novo presidente da Itália põe primeiro-ministro à prova 
Chefe do governo propõe um antigo ministro de Andreotti  
Pablo Ordaz - El País 
Tony Gentile/Reuters
Matteo Renzi, primeiro-ministro da Itália  
Matteo Renzi, primeiro-ministro da Itália
Nunca se pode ter certeza de nada na política italiana, mas Sergio Mattarella, jurista siciliano de 73 anos com um longo passado familiar e pessoal na política, tem muitos votos para se transformar, neste sábado (31), no substituto de Giorgio Napolitano na Presidência da República.
A proposta, feita na quinta-feira (29) pelo primeiro-ministro da Itália, Matteo Renzi, também teve um efeito curioso. O Partido Democrático (PD), cujo setor mais esquerdista vem exercendo a única oposição real ao governo presidido por seu jovem líder, lhe deu seu apoio unânime e o mais caloroso aplauso, enquanto Silvio Berlusconi, em quem Renzi esteve se apoiando para levar adiante suas reformas, deu por rompido seu idílio antinatural.
A razão deve ser buscada em 1990. Sergio Mattarella, então ministro democrata-cristão no governo de Giulio Andreotti, se demitiu em protesto contra a aprovação de uma lei que concedia três canais de televisão ao império de mídia de Berlusconi. Depois de sua fase na Democracia Cristã (DC), Mattarella contribuiu para fundar o PD e fez parte dos governos de Massimo D'Alema, que o nomeou vice-presidente e ministro da Defesa, e de Giuliano Amato. Atualmente, é juiz do Tribunal Constitucional, mas sua biografia também é cruzada pelos golpes da máfia.
Ao apresentar sua candidatura diante da assembleia do PD, Renzi disse: "Sergio, que a partir de sábado poderemos chamar de senhor presidente, é um homem das instituições e da legalidade. E também é um homem que viveu a dor pessoalmente durante a temporada de grandes crimes da máfia". Em 1980, a Cosa Nostra assassinou seu irmão, Piersanti, então presidente da região da Sicília.
Embora a candidatura de Mattarella já tenha obtido a promessa de apoio de alguns partidos do centro político e do SEL (Esquerda, Ecologia e Liberdade), de Nicky Vendola, sua provável eleição não ocorrerá até sábado. Segundo estabelece a Constituição de 1947, nas três primeiras votações são necessários dois terços dos votos (673), enquanto na quarta já é suficiente a maioria simples (505). Por isso, as três primeiras votações --a primeira se realizou na tarde de quinta-feira-- se transformam em puro trâmite, e de fato os grandes partidos decidiram depositar a cédula em branco.
Ainda que a composição dos 1.009 "grandes eleitores" --senadores, deputados e representantes das regiões-- seja praticamente igual àquela que, na primavera de 2013, não conseguiu entrar em acordo e provocou a eleição de Giorgio Napolitano, hoje o panorama é muito mais claro. A liderança institucional e política de Renzi, reforçada durante a assembleia do PD, a decomposição paulatina do Movimento Cinco Estrelas e a agonia política de Silvio Berlusconi reduzem sensivelmente a possibilidade de surpresas de última hora.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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