Argentina à frente do Brasil na reconstrução
Vitória de Macri em eleições legislativas
contra kirchnerismo e peronistas comprova a viabilidade nas urnas de uma
plataforma de reformas liberais
O Globo
Brasil e Argentina, por diversas circunstâncias históricas de formação,
costumam cumprir ciclos semelhantes na política. É o que mostram as
fases de autoritarismo e distensão. Assim como os surtos de populismo.
Se os brasileiros tiveram Getulio Vargas, os argentinos contaram com
Juan Domingo Perón — para azar da Argentina, um caudilho que se enraizou
de forma bem mais profunda no país do que o varguismo no Brasil.
A coincidência mais recente, e ainda em fase de desdobramentos, é o
esgotamento, aqui e lá, de projetos populistas, conduzidos pelo casal
Kirchner — Néstor e Cristina —, e pela dupla Lula e Dilma. Com algumas
características peculiares a depender do lado da fronteira, ambas as
experiências, como foi previsto, resultaram em euforia no povo e em alta
popularidade dos governantes, no início, com um desastroso desfecho em
meio à inflação alta, à recessão e ao desemprego.
Também os dois países buscam emergir dos escombros, e, como fica
claro no resultados das eleições legislativas realizadas domingo, a
Argentina está à frente do Brasil neste aspecto.
É inegável que o fato de, no país vizinho, Cristina Kirchner ter sido
sucedida por Maurício Macri, com um projeto oposto ao do kirchnerismo,
facilita a transição para a estabilidade. Diferente do Brasil, em que
Michel Temer, eleito pelos mesmos votos dados a Dilma Roussef, a quem
sucedeu de forma legal, recebe graves acusações de corrupção, e, para se
salvar, precisa barganhar apoio no Congresso pela via do fisiologismo.
O Mudemos, de Macri, de centro-direita, ganhou dos
nacionais-populistas do kirchnerismo no domingo, batendo o próprio
peronismo. Derrotou o populismo nas cinco principais províncias
argentinas. Das 23 províncias, ganhou em 13. Mesmo que não tenha obtido
controle do Congresso, ganhou força para tocar reformas — outra
similaridade com o Brasil, a necessidade de mudanças estruturais nas
áreas fiscal e trabalhista, por exemplo.
A maior vitória política ocorreu no distrito de Buenos Aires, base de
40% do eleitorado nacional, e no qual o candidato de Mudemos ao Senado,
Esteban Bullrich, ultrapassou os 40% dos votos, bem à frente de
Cristina K, com pouco mais de 37%, segundo boletins divulgados na manhã
de ontem. A ex-presidente, com este resultado, ganha assento no Senado,
mas carrega a marca da derrota política.
Outra vantagem argentina em relação ao Brasil é que as vitórias de
Macri nas eleições presidenciais e no domingo fortalecem junto ao povo
uma proposta liberal de governo. Prova que é possível apoio eleitoral a
uma plataforma de ajuste. O momento político argentino mostra, porém,
que é necessário um líder político que tome a responsabilidade de dizer a
verdade para o eleitorado e convencê-lo.
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