Inchaço da máquina pública
O Estado de S.Paulo
O Poder Executivo federal tem 757.158 cargos
efetivos e 113.869 cargos de confiança e comissionados, além de 20.922
contratos temporários, de acordo com dados da Secretaria de Gestão
Pública, ligada ao Ministério do Planejamento. São quase 900 mil cargos,
distribuídos entre 39 Ministérios e a Presidência da República. É um
número difícil de ser justificado, especialmente quando se tem em conta o
grau de eficiência do Estado brasileiro. Um Estado inchado dificilmente
é um Estado eficiente, estando mais para o seu oposto - um Estado que
consome a riqueza nacional e produz burocracia.
Nesse
conjunto de quase 900 mil cargos há uma fatia que chama a atenção. São
os cargos de confiança ou comissionados de responsabilidade direta da
Presidência da República, conhecidos pelas siglas DAS (Direção e
Assessoramento Superior) e NE (Natureza Especial). No Brasil, eles vêm
crescendo de uma forma perigosa. Em 2002, último ano do governo de
Fernando Henrique Cardoso, eram 18.450 cargos dessa espécie. Em 2006, ao
final do primeiro mandato de Lula, eram 19.847. Em 2010, o número
saltou para 21.952, o que não deixa de ser um reflexo da diferença de
política fiscal entre os dois mandatos de Lula. Em seu primeiro governo,
ainda havia alguma responsabilidade quanto aos gastos públicos. Agora,
ao final do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, os cargos de
confiança e comissionados de responsabilidade direta da Presidência são
23.008.
São números muitos distantes do que se vê em outros
países. Estima-se que nos Estados Unidos existam 4 mil cargos similares
aos cargos de confiança e comissionados brasileiros. Na Alemanha, não
chegariam a 600. Essa diferença abissal de cargos - sem contar os
tamanhos das economias do Brasil e dos dois países citados - mostra que
quantidade não é eficiência. Ao contrário, aqui parece ser que o menos é
mais.
Não é raro ouvir comentários no sentido de que a
Constituição de 1988 levou ao inchaço do Estado brasileiro. É um fato
que, nos anos posteriores à volta da democracia, o Estado cresceu. No
entanto, a responsabilidade não parece estar na letra da Constituição, e
sim numa determinada interpretação. O texto constitucional é bastante
claro ao afirmar que a administração pública deverá respeitar os
princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência - princípios estes bem distantes do inchaço estatal.
E
quando a Constituição trata dos cargos de confiança e comissionados,
classifica-os como exceção, destinando-os "apenas às atribuições de
direção, chefia e assessoramento". Como se vê, os postulados
constitucionais não batem com os atuais 23 mil cargos de confiança ou
comissionados de responsabilidade direta da Presidência da República.
Será
que há a necessidade de tanto cacique no Estado brasileiro? Será que o
País é assim tão idiossincrático, exigindo para as suas funções estatais
tamanha quantidade de pessoas?
Também não se deve fazer
vista grossa ao fato de que, durante os anos em que o PT está no poder, a
questão dos cargos de confiança e comissionados do Estado brasileiro
não foi e não continua sendo apenas uma questão quantitativa.
Houve
um planejado aparelhamento da máquina pública levado a cabo
sistematicamente com as nomeações de confiança, numa intencional
confusão entre partido e governo. Aparelhamento este que é fruto de uma
visão ideológica do Estado, que desvirtua a sua finalidade de serviço à
sociedade, para servir a um grupo determinado, e alcança não apenas a
administração pública federal, mas também as empresas estatais.
A
atual situação econômica do País e a necessidade de uma mudança na
gestão da política fiscal, na qual se gaste bem menos do que se vem
gastando, podem ser uma boa oportunidade para enfrentar um problema que
só vem aumentando - o tamanho do funcionalismo federal, especialmente a
quantidade de cargos de confiança e comissionados. Pode-se ter a grata
surpresa de que o menos às vezes é mais, com um Estado mais enxuto e
mais eficiente.
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