sábado, 28 de fevereiro de 2015

Aposta em um Irã moderado é arriscada e pode fazer Obama perder aliados
David Brooks - NYT
Mike Groll/AP
Ao longo dos últimos séculos, diplomatas ocidentais projetaram continuamente pragmatismo em seus oponentes ideológicos. Eles frequentemente assumem que nossos inimigos são movidos pelos mesmos cálculos de interesse nacional que motivam a maioria dos regimes. Eles presumem que os interesses econômicos falarão mais alto que a ideologia e religião, que cálculo e estadismo prudente superarão a megalomania.
Eles presumiam que os líderes mundiais antes de 1914 não seriam estúpidos o bastante para permitir que a paixão nacionalista os lançasse em uma Guerra Mundial; que Hitler não seria louco o bastante para iniciar uma segunda; que os radicais islâmicos não queriam realmente fazer sua região regredir ao século 12; que sunitas e xiitas nunca deixariam sua rixa sectária se transformar em um confronto cataclísmico em lugares como o Iraque.
O governo Obama está fazendo projeções semelhantes atualmente. Ele está apostando que o Irã pode se transformar em um regime fundamentalmente normal, no qual se pode contar que colocará o PIB acima da ideologia e religião e fazer a coisa pragmática.
As negociações nucleares do Irã não são apenas sobre centrífugas; são sobre o futuro do Oriente Médio. Por meio de uma série de declarações ao longo dos últimos anos, o presidente Barack Obama deixou razoavelmente claro a forma como vê o futuro.
Ele busca afastar o Irã do radicalismo da revolução e atá-lo a um sistema econômico e diplomático internacional. Ao chegar a um acordo nuclear e suspender as sanções, o Irã reemergiria como um parceiro natural dos Estados Unidos na região. Ele conta com uma classe média de alta escolaridade que está interessada na prosperidade e não é terrivelmente antiamericana. A integração global fortaleceria os moderados iranianos e reforçaria as tendências democráticas.
Assim que estiver enredado no sistema global, o Irã trabalharia para domar o Hizbollah e o Hamas e cooperaria para encontrar soluções em Gaza, no Iraque e na Síria. Haveria um equilíbrio de poder mais estável entre as grandes potências. Em troca de uma boa cidadania global, o Irã seria mais rico e mais influente.
Para conseguir essa distensão, Obama precisa obter um acordo nuclear. Ele fez uma série de sacrifícios surpreendentes para obtê-lo. Em 2012, o presidente jurou que não permitiria que o Irã mantivesse um programa nuclear. Seis resoluções do Conselho de Segurança da ONU apoiaram esse princípio. Mas, se os relatos do acordo proposto estiverem corretos, Obama abandonou essa política.
Segundo a estrutura relatada, o Irã manteria milhares de centrífugas. Todas as restrições ao seu programa nuclear seriam temporárias e gradualmente retiradas ao longo de uma década. Segundo alguns relatos, não haverá limites aos mísseis balísticos do Irã, nenhuma resolução para as atividades armamentistas do Irã. O monitoramento e fiscalização ficariam a cargo de um regime de inspeção que tem sido bom, mas permeável.
Enquanto isso, os Estados Unidos ofendem seus antigos aliados, como Israel, Arábia Saudita e Egito, sem terem certeza que o Irã está realmente disposto a se juntar a eles. Há uma chance de que os rivais regionais do Irã sintam a necessidade de ter seus próprios programas nucleares, de forma que mergulharíamos em uma espiral de proliferação.
Tudo isso pode ser defensável se o Irã realmente estiver disposto a mudar de lado, se a religião e a ideologia deixarem de ter papel no pensamento do regime. Mas pode ser que o Irã esteve disposto a ser um pária internacional ao longo da última geração por um motivo. Pode ser que o Irã financie grupos terroristas e desestabilize regimes como o do Iêmen e do Marrocos por um motivo. Pode ser que os líderes do Irã realmente acreditem no que dizem. Pode ser que os líderes do Irã sejam tão motivados apocalipticamente, paranóicos e antiamericanos dogmáticos quanto seus pronunciamentos sugerem que são. Pode ser que o Irã seja tão desestabilizador e inclinado à hegemonia como todas suas ações recentes sugerem. O Irã pode ser especialmente radical se a região como um todo se inflamar ainda mais pela rivalidade sunita-xiita ou mergulhar em fanatismo cada vez maior ao estilo do Estado Islâmico.
Nós realmente queremos um Irã com capacidade nuclear no meio disso tudo?
Se os líderes iranianos acreditam no que dizem, então as políticas americanas deveriam ser exatamente o oposto do que está se buscando agora. Em vez de abraçar e enriquecer o Irã, as sanções deveriam ser endurecidas para isolá-lo ainda mais e enfraquecê-lo. Em vez de aceitar uma capacidade nuclear, eliminar essa capacidade deveria voltar a ser o elemento central da política americana. Em vez de um condomínio com o Irã que ofende aliados tradicionais como a Arábia Saudita, Egito e Israel, os Estados Unidos deveriam construir uma estratégia regional em torno do fortalecimento das relações com esses pilares históricos.
É difícil saber o que se passa nas almas da liderança do Irã, mas uma aposta gigante está sendo feita em uma interpretação. Março pode vir a ser um mês ruinoso para o Oriente Médio. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, pode enfraquecer as relações entre Estados Unidos e Israel, especialmente na esquerda democrata. O mundo pode aceitar uma capacidade nuclear iraniana. Os esforços voltados a mitigar um regime inamistoso podem acabar o enriquecendo e o encorajando.
Tradutor: George El Khouri Andolfato

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