sábado, 28 de fevereiro de 2015

Fabricante de cerejas em NY escondia plantação de maconha no subsolo
Vivian Yee - VEJA
Richard Perry/The New York Times
Funcionário da Dell's Maraschino Cherries faz o trabalho de limpeza, em Nova York (imagem de arquivo). Um dos donos da empresa, Arthur Mondella, se suicidou quando a polícia descobriu que ele escondia uma enorme plantação de maconha no subsolo Funcionário da Dell's Maraschino Cherries faz o trabalho de limpeza, em Nova York (imagem de arquivo). Um dos donos da empresa, Arthur Mondella, se suicidou quando a polícia descobriu que ele escondia uma enorme plantação de maconha no subsolo
A vida alternativa de Arthur Mondella estava escondida por trás de um portão eletrônico, atrás de uma frota de carros de luxo, atrás das portas de um armário, atrás de um conjunto de prateleiras de aço controladas por um botão, atrás de uma parede falsa e descendo por uma escada em um buraco no concreto.
Ali, em um porão antigo por baixo da fábrica de cerejas marasquino no Brooklyn que ele havia herdado de seu pai e seu avô, ele plantava uma fazenda de maconha com espaço para 1.200 plantas. Abaixo do escritório onde atuava como diretor da Dell Maraschino Cherries Co., ele mantinha uma pequena biblioteca empoeirada e um quadro de cortiça com notas pregadas. A maioria dos livros tratava de métodos de propagação de plantas. Menos um: "A Enciclopédia Mundial do Crime Organizado".
Grande parte da história das operações ocultas de Mondella, 57, que se matou com um tiro na terça-feira (23) quando os investigadores encontraram suas plantas de maconha, continua frustrantemente incompreensível para sua família e amigos. Os investigadores não sabem como ele distribuía a maconha, há quanto tempo ele a cultivava e quem o ajudava.
O mais intrigante são os motivos de Mondella para esconder sua operação no âmbito de um negócio que era, ao que tudo indica, saudável e em expansão --e para tirar sua vida tão de repente, quando foi capturado.
Na quinta-feira, dia do velório privado de Mondella, a empresa disse que continuaria no negócio das cerejas. Grandes cadeias de restaurantes que compravam as cerejas da Dell, incluindo a Red Lobster e a TGI Friday, disseram que seus menus não seriam afetados.
Mas nos escritórios do procurador do distrito do Brooklyn, Kenneth P. Thompson, o foco era desembaraçar, na fábrica de tijolos vermelhos em Dikeman Street, qual parte do negócio era de cerejas e qual parte era de maconha.
"Nós estamos estudando as conexões reais entre a maconha e a fábrica, e se alguma parte do negócio de cerejas realmente não passava de um esforço para mascarar a operação de maconha", disse um policial que conhece a investigação e pediu para não ser identificado porque o inquérito está em andamento.
Com o cheiro forte do processamento das cerejas e a grande quantidade de energia elétrica que a fábrica consumiria naturalmente, "o lugar era muito conveniente" para mascarar tanto o odor quanto a energia necessária para cultivar as plantas de maconha, disse o policial.
No entanto, como o labirinto do porão era tão bem escondido, seria plausível que os funcionários da fábrica de cereja não soubessem do segredo do chefe. Mondella pode ter sido a única pessoa com acesso à garagem, onde guardava vários veículos de luxo, e à entrada para o porão, disse um funcionário.
Ainda assim, o tamanho da operação tornou improvável que Mondella fosse a única pessoa envolvida. Abrangendo cerca de 230 metros quadrados, o complexo subterrâneo incluía um escritório, uma grande sala de plantio, uma área de armazenamento, um freezer para as plantas colhidas e um elevador. Uma rede com 120 lâmpadas especiais para cultivo brilhava sobre as plantas com intensidades variáveis, de acordo com o tamanho de cada planta; um sistema de irrigação mantinha a umidade. Os investigadores apreenderam cerca de 60 tipos de sementes de maconha.
Os agentes nunca tinham visto uma operação tão grande em Nova York, disse o policial.
"Para montar isso, tem que ter encanadores e eletricistas muito sofisticados e que trabalham sem qualquer registro", disse ele, "e Arthur Mondella, pelo que sabemos, não tinha esse tipo de habilidade".
A primeira vez que os investigadores receberam uma denúncia sobre Mondella e drogas ilegais foi há cerca de cinco anos, disse ele, mas não deu em nada.
Em uma investigação separada sobre as alegações de que a Dell estava poluindo o abastecimento de água de Red Hook, o promotor do distrito e o Departamento de Proteção Ambiental da cidade decidiram fazer uma busca por infrações ambientais na fábrica. Foi durante essa pesquisa na terça-feira que eles tropeçaram na plantação de maconha. (A investigação sobre poluição ainda está ativa.)
O inquérito sobre a droga ainda está em seus estágios iniciais. Mas o policial disse que os investigadores estavam estudando de perto se a operação tinha ligações com o crime organizado. Eles acreditam que Mondella tenha necessitado de ajuda para manter a plantação e para distribuir o produto, e um sindicato do crime organizado poderia ter fornecido essa ajuda.
Para a família e os amigos de Mondella, as revelações sobre suas operações ocultas foram "um choque e uma aberração", disse em entrevista Michael Farkas, advogado que representa a família Mondella e a gestão da Dell.
A empresa era considerada uma das maiores produtoras de cerejas no país. Embora muitos fornecedores de cereja estivessem desaparecendo na época em que Mondella assumiu o negócio, em 1983, o mercado parece estável agora, graças em parte à popularidade das cerejas marasquino no exterior, disse Robert McGorrin, presidente do departamento de ciência dos alimentos da Universidade Estadual do Oregon, onde o atual método de processamento de cerejas em salmoura, em vez de álcool, foi desenvolvido na década de 20.
Os policiais estão perplexos em relação aos motivos de Mondella. Embora os investigadores estejam triando uma quantidade substancial de provas, eles não têm esperança alguma de conseguir acesso aos dados do iPhone 6 de Mondella, que, como outros novos modelos do iPhone, é criptografado com um código criado pelo usuário que nem mesmo a Apple diz poder desbloquear.
"Ninguém parece ter tido qualquer indício de que isso estava acontecendo, e certamente não parecia haver qualquer circunstância estranha ou traumática que pudesse explicar isso", disse Farkas. "O negócio não estava indo mal, o negócio estava indo muito bem. Não tínhamos ciência de qualquer grande problema na vida de Arthur. Alguém sabe, mas nós estamos todos à espera de respostas aqui."
Tradução: Deborah Weinberg

Um comentário:

Unknown disse...

estou chocado, representava ele no Brasil e vendia para importadores as cerejas dele, estive em viagem com ele ao Chile em busca de matéria prima