sábado, 25 de abril de 2015

Ataques com drones contra a Al Qaeda podem ter minado liderança do grupo
Declan Walsh - NYT
AP/Reprodução
Montagem com o americano Warren Weinstein e o italiano Giovanni LoPorto, os dois reféns mortos em ataque norte-americano à Al Qaeda na fronteira entre Paquistão e Afeganistão em janeiro de 2015 Montagem com o americano Warren Weinstein e o italiano Giovanni LoPorto, os dois reféns mortos em ataque norte-americano à Al Qaeda na fronteira entre Paquistão e Afeganistão em janeiro de 2015
As revelações de novas perdas importantes entre a alta liderança da Al Qaeda na região tribal do Paquistão ressaltam como anos de ataques americanos com drones diminuíram e dispersaram as altas fileiras do grupo militante, o forçando a ceder proeminência e influência a braços mais agressivos no Iêmen e Somália.
Apesar de um ataque da CIA com drones que matou dois reféns ocidentais ter levado a intensas críticas ao programa de drones e, potencialmente, a uma reavaliação dele, os sucessos americanos ao longo dos anos de visar e matar importantes membros da Al Qaeda em sua base reduziu a liderança do grupo militante e o deixou diante de escolhas difíceis, disseram autoridades de contraterrorismo e analistas.
Esse processo de atrito foi acelerado pela ascensão do Estado Islâmico, cuja brutalidade e propaganda superior têm resultado em maior atração de fundos e recrutas. No cinturão tribal, um esforço militar paquistanês iniciado em meados do ano passado forçou os comandantes da Al Qaeda a recuarem para áreas ainda mais remotas, como o Vale de Shawal, onde dois deles foram mortos ao lado de Warren Weinstein, um refém americano, e Giovanni Lo Porto, um refém italiano, em 15 de janeiro.
Até mesmo a morte de Weinstein, um refém valioso que há muito a Al Qaeda buscava trocar por prisioneiros ou dinheiro, é emblemática do estado do cerco. Enquanto na Síria o Estado Islâmico transforma a execução de reféns em um espetáculo macabro de propaganda, a Al Qaeda não obteve nenhum dividendo de seus cativos eliminados, mesmo que inadvertidamente, por seus adversários americanos.
"O núcleo da Al Qaeda é uma sombra do que era", disse uma autoridade americana de contraterrorismo, em uma avaliação repetida por várias autoridades europeias e paquistanesas.
Os paquistaneses estimam que a Al Qaeda perdeu 40 membros leais, de todos os escalões, em ataques americanos com drones nos últimos seis meses – um número maior do que outras fontes informam, mas indicativo de uma tendência maior. Agora, eles dizem, os comandantes da Al Qaeda estão voltando para os locais relativamente seguros e isolados para os quais antes fugiram, como as montanhas no leste do Afeganistão e o Sudão.
Mas especialistas em militância alertam que é cedo demais para declarar o fim da liderança da Al Qaeda, cuja paciência e adaptabilidade são as principais características, e que, apesar da adversidade, continua sendo o principal grupo jihadista concentrado em atacar o Ocidente.
"As pessoas sempre querem saber quando o trabalho será concluído", disse Michael Semple, um especialista em militância da Queen's University Belfast, na Irlanda do Norte. "Eu não acho que podemos falar disso. Eles estão na defensiva, não sendo eliminados."
A revelação pelo presidente Barack Obama de que a CIA matou quatro americanos em janeiro –dois reféns e dois importantes líderes da Al Qaeda – ofereceu um raro vislumbre de uma guerra nas sombras que já dura uma década na região tribal do Paquistão, assim como um indício de quão difícil permanece obter informações sobre as atividades da Al Qaeda ali. Apesar dos ataques que mataram Weinstein e Lo Porto terem ocorrido vários meses atrás, Obama disse que a morte deles só foi confirmada recentemente.
Há pouca dúvida de que os vales profundos e florestas se tornaram um refúgio mortal para a liderança da Al Qaeda. "Os drones deixaram a Al Qaeda em pedaços", disse uma autoridade de segurança paquistanesa em Peshawar, falando sob a condição de anonimato. "Eles estão em desarranjo, tentando se reorganizar, mas tendo dificuldade para encontrar pessoas capazes de liderar a organização."
O grupo depositou as esperanças por uma nova liderança na Al Qaeda do Subcontinente Indiano, uma ramificação local iniciada em setembro pelo líder da Al Qaeda, Ayman al-Zawahri, visando responder aos esforços de recrutamento do Estado Islâmico.
Por ora, a alta liderança da A Qaeda provavelmente estará preocupada com sua sobrevivência, em vez de planejar ataques ao Ocidente, disse Semple.
"Eles têm modos de sobreviver e os caras que permanecem são bons", ele disse. "Mas será que podem se reunir para planejar ataques aos Estados Unidos? Eu não acho que estão realizando muitas reuniões."
De modo mais amplo, entretanto, as perguntas sobre a capacidade da Al Qaeda de se recuperar provavelmente encontrarão respostas em sua rivalidade com o Estado Islâmico, não nos vales do Waziristão. O Estado Islâmico fez a presença da Al Qaeda na mídia encolher ao longo do ano passado, por meio do uso agressivo do Twitter e um fluxo constante de novas divulgações.
Para os recrutas jihadistas, o líder do Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi, parece uma figura mais atraente do que o velho e relativamente insosso Al-Zawahri da Al Qaeda. Mas do Iêmen à Somália e Síria, Al-Zawahri mantém a lealdade de comandantes jihadistas dedicados que dizem preferir o estilo de militância da Al Qaeda.
E há a questão mais ampla sobre se a força da Al Qaeda está em sua rede, ou na ideia que representa.
"Apesar de Zawahri estar em silêncio, a rede não está morta", escreveu recentemente Aaron Y. Zelin, um analista do Instituto Washington. "A partir da informação disponível, parece que a rede está seguindo em frente."
Tradutor: George El Khouri Andolfato 

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