quinta-feira, 30 de abril de 2015

Bendine precisa da ajuda da santa
O presidente da Petrobras indicou que já resolveu o caso da SBM, atropelando o Tribunal de Contas da União
Elio Gaspari - FSP
O presidente da Petrobras usa na lapela um broche com a imagem de Nossa Senhora de Aparecida. Que ela o proteja. O comissário acaba de anunciar que no seu plano de investimentos, "talvez você pegue uma SBM, que é uma importante fornecedora".
Importantíssima, porém proibida de fazer negócios com a empresa que Bendine preside. A SBM é uma das maiores companhias da Holanda. Em 2012 faturou algo como US$ 5,5 bilhões e 60% de seus negócios vieram da Petrobras, a quem aluga navios, sondas e plataformas. Dois anos depois, ela pagou uma multa de US$ 240 milhões por ter distribuído propinas pelo mundo afora. No seu acordo com o governo holandês, a empresa reconheceu que molhou mãos em Angola e na Guiné Equatorial. Em relação à Petrobras, apareceram apenas "bandeiras vermelhas". Tudo bem. Foram pagas comissões "legítimas" de US$ 139 milhões ao seu representante no Brasil, que a esta altura mora em Londres. O petrocomissário Pedro Barusco confessou que a SBM pagava-lhe propinas desde 1997. Graças a elas, fez um pé de meia de US$ 22 milhões.
Ao dizer que a SBM "é uma importante fornecedora", de duas uma: Bendine não lê jornais ou acredita que pode dizer o que bem entende. Como a primeira hipótese é implausível, resta a segunda. Maria das Graças Foster, sua antecessora, acreditou que era uma "Dama de Ferro" e talvez tenha até acreditado que na infância viveu no Morro do Alemão. Referindo-se à sua capacidade de combater roubalheiras na empresa, disse que "não ficará pedra sobre pedra"
Parolagem.
A SBM foi uma das primeiras empresas a entrar na roda da Lava Jato e em novembro passado a doutora Graça suspendeu os contratos que ela mantinha com a Petrobras, vedando-lhe acesso a novas licitações. Documentos da própria SBM mostram que na transação do navio-plataforma P-57, vendido por US$ 1,2 bilhão, a comissão foi de US$ 36,3 milhões. Barrada no baile, a SBM começou a negociar um acordo de leniência com a Controladoria-Geral da União. A CGU pedia uma indenização de R$ 1 bilhão e a SBM teria oferecido R$ 400 milhões. No dia 17 de março chegou-se a um memorando de entendimento cujo teor ainda não é conhecido. Sabe-se apenas que contém a base para a discussão de um "acordo mutuamente aceitável". Esses acordos destinam-se a proteger as empresas das malfeitorias atribuídas a funcionários. Tudo bem, desde que a empresa conte quanto deu, quem pagou e quem recebeu. Sem essa fulanização, inverte-se a equação e blinda-se os malfeitores. Compra o próprio silêncio.
Aldemir Bendine antecipou sua própria leniência para com a "importante fornecedora". Atropelou a CGU e o Tribunal de Contas da União, a quem cabe a última palavra, e deixou as duas instituições numa situação constrangedora.
Pode-se entender que bancos, empreiteiras ou fornecedores de equipamentos e propinas queiram proteger suas reputações e, sobretudo, seus investimentos em projetos micados. A pior maneira para se conseguir isso é o estilo trator, com a ajuda de hierarcas da Petrobras atropelando instâncias e empulhando a patuleia. Foi assim que se criou a encrenca desvendada pela Lava Jato. Desde 1997, a SBM, Pedro Barusco e outros petrocomissários faziam as coisas no peito. Deu no que deu.

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