sábado, 25 de abril de 2015

Ativos da gestão Gabrielli encolheram mais
87% dos R$ 47,4 bi que a Petrobras perdeu por desvalorização vieram de projetos anunciados por ex-presidente
Maior perda de valor, de R$ 22 bi, foi com o Comperj, hoje parado; ex-presidentes não falaram sobre o tema
SAMANTHA LIMA - FSP
De cada real dos R$ 47,4 bilhões que a Petrobras lançou como perda por desvalorização e abandono de projetos em 2014, pelo menos R$ 0,87 corresponde a investimentos anunciados na gestão de José Sergio Gabrielli. Ele presidiu a empresa entre 2005 e fevereiro de 2012.
As baixas foram a maior contribuição para que a estatal registrasse prejuízo de R$ 21,6 bilhões no período.
Foram realizadas considerando a nova realidade do petróleo, ineficiência dos projetos e dificuldade de conclusão devido ao envolvimento de empreiteiras na Operação Lava Jato.
A conta considera os R$ 44,6 bilhões que foram descontados do valor de ativos cuja previsão de geração de caixa caiu, mais R$ 2,8 bilhões gastos em duas refinarias no Nordeste que não saíram --nem sairão-- do papel.
A conta da desvalorização dos ativos pela baixa capacidade de gerar receita foi feita pelo que contabilmente a empresa chama de teste de imparidade --estima-se o que o ativo pode gerar em caixa para a empresa no futuro e calcula-se o valor presente. No balanço, esse valor será lançado se for menor que o valor contábil do ativo.
Esse teste foi aplicado a R$ 79 bilhões em ativos, do total de R$ 600 bilhões em ativos imobilizados. Desse montante, a empresa foi obrigada a subtrair R$ 44,6 bilhões, devido à constatação de que eles não gerariam resultado satisfatório. Dos ativos que não vão gerar receita suficiente, a refinaria de Abreu e Lima --perda de R$ 9,1 bilhões-- nasceu em 2005.
De 2006, foram concebidos o Comperj, com perda de R$ 21,8 bilhões; o Complexo Petroquímico de Suape, perda de R$ 3 bilhões; e a compra dos campos de Cascade e Chinook, no golfo do México, com perda de R$ 4,2 bilhões.
Entre 2012 e 2014, Suape havia gerado prejuízo de R$ 4,5 bilhões.
É de 2007 a ideia de comprar 87,5% da refinaria Nansei, em Okinawa. No processo de aquisição da unidade, assim como em Pasadena, a diretoria enviou ao conselho de administração --então presidido por Dilma Rousseff-- relatório que omitia os riscos do negócio.
Uma das áreas da estatal condenou o negócio por não ver chance de retorno do investimento, como mostram documentos da época.
A Petrobras anunciou, no mês passado, que ia de- sativar a refinaria japonesa, depois de investir cerca de US$ 500 milhões no negócio.
No ano seguinte, 2008, foi a vez do anúncio de duas refinarias, no Maranhão e no Ceará.
Apenas a terraplanagem e a elaboração de projetos consumiram R$ 2,8 bilhões. Os planos foram engavetados devido à redução das margens de refino.
Na gestão de Graça Foster, foi adquirida, em 2013, uma unidade de fertilizantes da Vale, em Araucária, por US$ 234 milhões. A baixa feita, agora, foi de R$ 260 milhões.
Há também perdas de R$ 4,1 bilhões referentes a campos de petróleo no Brasil, e de R$ 224 milhões na unidade da África, que tem ativos na Nigéria. Os ativos foram adquiridos a partir do fim da década de 1990.

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