quinta-feira, 30 de abril de 2015

Ataques americanos no Afeganistão vão além das promessas da Casa Branca
Azam Ahmed e Joseph Goldstein - NYT
Stringer/Reuters
Integrante do grupo Taleban aguarda execução de três homens na província de Ghazni, no Afeganistão Integrante do grupo Taleban aguarda execução de três homens na província de Ghazni, no Afeganistão
Meses após o presidente Barack Obama declarar formalmente que a longa guerra dos Estados Unidos contra o Taleban estava encerrada no Afeganistão, as forças armadas americanas estão realizando regularmente ataques aéreos contra forças insurgentes de baixa intensidade e enviando tropas das Operações Especiais diretamente em ação sob o disfarce de "treinamento e orientação".
Para justificar a continuidade da presença das forças americanas no Afeganistão, funcionários do governo insistem que o papel das tropas está relegado a contraterrorismo, definido como o rastreamento dos resquícios da Al Qaeda e de outros grupos terroristas globais, e treinamento e orientação para as forças de segurança afegãs, que assumiram grande parte da luta.
Em público, as autoridades enfatizam que o Taleban não está sendo visado a menos que seja para "proteção das forças", quando os insurgentes estão ameaçando imediatamente as forças americanas.
Mas entrevistas com autoridades americanas e ocidentais em Cabul e Washington oferecem um quadro de um escopo mais agressivo de operações militares contra o Taleban nos últimos meses, à medida que os insurgentes continuam obtendo ganhos sobre as forças do governo em dificuldades.
Em vez de encerrar a guerra americana no Afeganistão, as forças armadas estão usando sua ampla liberdade para transformá-la em uma campanha contínua de ataques aéreos – em grande parte missões de drones – e assaltos pelas Operações Especiais que, na prática, ampliam ou rompem os parâmetros descritos publicamente pela Casa Branca.
Autoridades e oficiais militares ocidentais disseram que as forças americanas e da OTAN realizaram 52 ataques aéreos em março, meses após o fim oficial da missão de combate. Muitos desses ataques aéreos, que totalizaram 128 nos primeiros três meses do ano, visavam comandantes talebans de baixo e médio escalão nas áreas mais remotas do Afeganistão.
Em janeiro, quando as autoridades em Washington saudavam o fim da missão de combate, cerca de 40 tropas das Operações Especiais dos Estados Unidos foram posicionadas na província de Kunar, para aconselhar as forças afegãs que lutavam com o Taleban por um punhado de aldeias ao longo da fronteira com o Paquistão.
Com as tropas em solo, o comando da coalizão liderada pelos Estados Unidos requisitou ataques aéreos com a autoridade de proteção das forças, segundo dois oficiais militares ocidentais, que falaram sob a condição de anonimato porque os detalhes da operação não são públicos.
"Eles estão posicionando pessoal em solo em lugares para justificar os ataques aéreos", disse um dos oficiais. "Não se trata de proteção das forças quando estão na ofensiva."
Comentando sobre a continuidade das operações militares contra o Taleban, o mais alto comandante americano no Afeganistão, o general John F. Campbell, negou veementemente as acusações de que está colocando tropas em risco para justificar mais ataques aéreos.
Ele insistiu que está dentro de sua alçada visar insurgentes talebans que representem uma ameaça não apenas às tropas americanas ou da OTAN, mas a qualquer uma das forças de segurança afegãs. E suas opções em solo são claras, ele disse em uma entrevista, mesmo que a descrição pública delas por Washington não seja.
"Washington dirá o que tem que dizer politicamente para muitos públicos diferentes e não tenho nenhum problema com isso", disse Campbell. "Eu entendo quais são minhas autoridades e o que tenho que fazer com as forças afegãs e minhas forças. E se isso não puder ser vendido para a mídia, eu não tenho que me preocupar com isso."
Ele acrescentou: "Combate, guerra e transição, como conhecemos, é algo muito complexo, Para mim, não é preto e branco".
As operações continuam durante um período problemático para as forças de segurança afegãs, à medida que o Taleban continua obtendo ganhos. Membros das forças armadas e policiais do país estão sendo mortos pelos insurgentes em uma taxa maior do que a do ano passado. E nos primeiros três meses deste ano, as coisas já pareciam piores: o número de mortos aumentou 54% em comparação ao mesmo período no ano passado, segundo uma autoridade ocidental e uma afegã, que falaram sob a condição de anonimato porque os números não são públicos.
Algumas autoridades ocidentais expressaram de modo privado desconforto com o papel americano e questionaram como o prolongamento da estratégia americana no Afeganistão seria mais eficaz neste ano do que foi nos últimos 13.
"Não estou surpreso por estarem prosseguindo desse modo", disse um diplomata ocidental que vive em Cabul. "O que surpreende é o quanto disso estão fazendo."
Muitos dos ataques descritos pelas autoridades não apresentavam base discernível para proteção de forças ou caçada de terroristas. Um incluiu um ataque na província de Kunar que feriu dois mineiros; outro em Ghazni matou vários "combatentes talebans comuns" e, no máximo, um comandante taleban, segundo o chefe do conselho de paz provincial.
Em fevereiro, um líder taleban descontente foi morto em um ataque com drone na província remota de Helmand. Apesar do comandante, o mulá Abdul Rauf Khadim, ter jurado fidelidade ao Estado Islâmico, não havia evidência de que estava realizando ou mesmo planejando operações significativas.
Quando lhes foi pedido para justificarem o ataque, as forças armadas americanas não disseram que foi para fins de contraterrorismo, mas a descreveram como proteção das forças –apesar das forças americanas não estarem posicionadas na área há anos.
Quando perguntado sobre essa decisão, Campbell respondeu com uma pergunta: "Você sabe o que ele tinha em mente?" ele disse sobre o mulá Khadim.
As forças armadas disseram estar autorizadas a posicionar treinadores das Forças Especiais em solo, mas que não devem avançar contra o alvo juntamente com seus pares afegãos. Em áreas hostis, entretanto, esses restrições com frequência não significam muito.
Neste mês, por exemplo, um soldado das Forças Especiais americanas foi baleado no peito enquanto orientava comandos afegãos que realizavam uma operação contra o Taleban, na rebelde província de Logar, segundo dois oficiais militares ocidentais. A bala atingiu a armadura do soldado e ele sobreviveu, disseram os oficiais.
Mas quando confrontados com os relatos sobre o aumento do papel de combate americano no Afeganistão, funcionários do governo Obama rejeitaram veementemente as alegações.
Um desses casos ocorreu em novembro, quando Josh Earnest, o secretário de imprensa da Casa Branca, buscou desacreditar um artigo do "New York Times" relatando que Obama aprovou discretamente uma autorização de combate expandida para as forças americanas no Afeganistão em 2015.
"Os militares americanos não estarão engajados em operações específicas visando membros do Taleban apenas por serem membros do Taleban", disse Earnest na ocasião. Ele apontou apenas duas circunstâncias que poderiam resultar em operações de combate: proteção dos soldados americanos ainda posicionados no Afeganistão e a missão de contraterrorismo contra a Al Qaeda e grupos semelhantes.
No domingo, entretanto, um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional emitiu uma declaração que pareceu ampliar as circunstâncias, dizendo que as forças americanas podem fornecer apoio de combate às tropas afegãs em "circunstâncias limitadas, para prevenir efeitos estratégicos negativos a essas forças de segurança afegãs".
Tradutor: George El Khouri Andolfato 

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