quinta-feira, 30 de abril de 2015

Reunião do Conselho do Ártico se aproxima à sombra das tensões com a Rússia
Steven Lee Myers - NYT
AFP
O presidente russo, Vladimir Putin, discursa durante evento em Moscou para marcar o aniversário de um ano da anexação da Crimeia O presidente russo, Vladimir Putin, discursa durante evento em Moscou para marcar o aniversário de um ano da anexação da Crimeia
Um vice-primeiro-ministro da Rússia, Dmitri O. Rogozin, que está na impedido de viajar para grande parte da Europa, provocou uma briga diplomática no último fim de semana, quando passou pela Noruega a caminho do polo Norte.
Rogozin, parte de uma delegação que incluía padres portando água benta e um estandarte de Jesus Cristo, estava no topo do mundo para abrir uma estação de pesquisa científica na calota polar que está encolhendo e para proclamar, de modo ostensivo, o interesse da Rússia na região.
"O Ártico é uma Meca russa", ele se gabou pelo Twitter.
A excursão de Rogozin ocorreu dias antes da reunião bienal do Conselho do Ártico, uma organização internacional criada para promover a cooperação na região, que terá início na sexta-feira na Ilha Baffin, no extremo norte do Canadá.
A missão do conselho agora está sendo abalada pela deterioração das relações com a Rússia devido à sua intervenção na Ucrânia. As ações da Rússia resultaram em sanções e proibições de viagem a dezenas de autoridades, como Rogozin, e a proibição de venda de tecnologia e serviços americanos para ajudar a Rússia a explorar seus recursos de energia potencialmente enormes no Ártico.
O presidente Vladimir Putin respondeu aumentando as patrulhas aéreas ao longo da fronteira da Rússia com os países da OTAN, incluindo aqueles que são membros do Conselho do Ártico, em um ciclo de confrontos reminiscente da Guerra Fria.
Ele também começou a aumentar o número de tropas e bases em resposta ao aumento do transporte comercial ao longo da Rota do Mar do Norte e a um protesto do Greenpeace Internacional, em 2013, contra a primeira plataforma de petróleo da Rússia em águas além de sua costa norte.
"Eles estão forçando os limites", disse a senadora Lisa Murkowski, republicana do Alasca, que participará da reunião de sexta-feira (25), como parte da delegação americana liderada pelo secretário de Estado, John Kerry.
"O Ártico deveria ser uma zona de paz", disse Murkowski durante um discurso recente no Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, em Washington, citando o propósito da fundação do Conselho do Ártico. "Eu acredito absolutamente nisso, mas também reconheço que dentro de uma zona de paz, deve-se demonstrar respeito um pelo outro."
A atividade militar da Rússia no Ártico e sua vasta reivindicação territorial às águas dali acentuam a prioridade estratégica dada por Putin à região, à medida que a mudança climática a abre para intensa concorrência por seus recursos naturais.
O Conselho do Ártico – composto pelo Canadá, Dinamarca, Estados Unidos, Finlândia, Noruega, Rússia e Suécia, assim como por países observadores e organizações – foi criado em 1996 como um fórum diplomático para tratar das questões originadas dessa concorrência econômica e política.
Nunca foi a intenção do conselho ser um fórum para debater assuntos militares e de segurança, e até recentemente, parecia imune às divergências políticas mais amplas.
Na reunião do conselho em Nuuk, Groenlândia, em 2011, os membros adotaram seu primeiro acordo legalmente vinculante para coordenar as operações de busca e resgate por 13 milhões de milhas quadradas de oceano.
Em 2013, em Kiruna, Suécia, o conselho assinou um acordo semelhante para coordenar os esforços de limpeza em caso de derramamento de petróleo, algo que não é mais uma possibilidade hipotética, dado o primeiro transporte de petróleo pela Rússia de sua plataforma no Mar de Kara, em abril do ano passado.
O Canadá, o anfitrião da reunião deste ano, impôs sanções às autoridades russas devido à crise na Ucrânia e criticou a anexação da Crimeia pela Rússia em março de 2014. Após a reunião, os Estados Unidos assumirão a presidência do conselho, permitindo ao governo Obama determinar sua agenda pelos próximos dois anos.
O primeiro alto representante para o Ártico do Departamento de Estado, Robert J. Papp Jr., um almirante reformado e ex-comandante da Guarda Costeira, anunciou que a agenda americana se concentrará na segurança do oceano e do desenvolvimento econômico, e nas políticas do presidente Barack Obama para tratar da mudança climática. Ele e outras autoridades disseram que não esperam que as tensões com a Rússia minem essas metas.
Mas a agenda do governo já enfrenta pressões domésticas e internacionais, incluindo exigências conflitantes de grupos ambientais, que desejam novas restrições à exploração de petróleo, e autoridades como Murkowski, que deseja promover o desenvolvimento econômico do Alasca ao permitir maior exploração de petróleo.
Na quinta-feira, Kerry falou com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, mas a reunião do Conselho do Ártico foi apenas parte da conversa, que foi dominada pela acusação do governo Obama de que a Rússia está aumentando as forças na Ucrânia e proximidades.
Lavrov, que participou da última reunião do conselho há dois anos, se recusou a ir desta vez. Ele citou conflito de agenda, mas muitos suspeitam que sua decisão foi uma retaliação ao boicote pelo Canadá de uma reunião sobre assuntos do Ártico na Rússia. Em seu lugar, a Rússia enviará seu ministro dos Recursos Naturais e Meio Ambiente, Sergei Y. Donskoi, que também esteve presente na viagem de Rogozin ao polo Norte no último fim de semana.
As crescentes tensões aumentaram a preocupação entre aqueles que defendem a cooperação no Ártico. Um grupo de 45 autoridades, especialistas e outros que se reúnem regularmente para fazer recomendações à presidência americana do conselho, pediu aos Estados Unidos e outros países que evitem permitir que as tensões em torno da Ucrânia impeçam o progresso dos esforços para tratar das questões políticas, econômicas e sociais na região.
Tradutor: George El Khouri Andolfato 

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