quinta-feira, 30 de abril de 2015

O que está por trás das mudanças de cargo na família real e no governo saudita
Benjamin Barthe - Le Monde
Reuters
Aproveitando a guerra no Iêmen, o soberano da Arábia Saudita, Salman bin Abdul Aziz, efetuou na quarta-feira (29) várias nomeações que aumentam a centralização do poder no reino. Onipresentes na mídia desde o início da campanha contra as milícias houthistas, os dois ministros mais poderosos do país, Mohamed Bin Nayef (Interior) e Mohamed Bin Salman (Defesa), galgaram mais um degrau no poder executivo saudita.
O primeiro, de 55 anos, havia sido nomeado vice-príncipe herdeiro com a coroação de Salman, no final de janeiro, e foi promovido a príncipe herdeiro, substituindo o príncipe Muqrin, o mais jovem dos filhos ainda vivos de Abdul Aziz, o rei fundador. O segundo, com cerca de 30 anos (sua data de nascimento varia de acordo com a fonte), que é o filho preferido do rei, assumiu o cargo ocupado por Mohamed Bin Nayef e se tornou assim o segundo na ordem de sucessão, ao mesmo tempo em que mantém sua pasta de ministro. Por fim, Salman substituiu o incansável Saud al-Fayçal, à frente da diplomacia saudita há quarenta anos, pelo embaixador do reino nos Estados Unidos, Adel al-Jubeir, também bastante em evidência desde o início da intervenção militar no Iêmen.
Essa nova rodada de nomeações reais confirma o constante e aparentemente inexorável avanço de Mohamed Bin Nayef na direção do poder supremo. O Sr. Segurança do reino, ainda com a aura de seu sucesso pelo combate à Al-Qaeda nos anos 2000, em janeiro passou à frente do príncipe Mitaeb Bin Abdallah, filho do falecido rei Abdallah, que também estava de olho no cargo de vice-príncipe herdeiro. Na sequência, Bin Nayef foi projetado à liderança de um Conselho de Assuntos Políticos e de Segurança, recém-criado, que lhe dava a última palavra para tudo aquilo que afeta a segurança nacional, a prioridade número um nesse período de instabilidade extrema, caracterizada pelo avanço do Estado Islâmico ao norte do reino, no Iraque, e pela desintegração do Estado iemenita, ao sul.
A versão oficial afirma que o príncipe Muqrin renunciou por vontade própria. Mas esse recuo não surpreende, considerando a relativa circunspecção que havia acompanhado sua ascensão ao organograma real. Sua suposta falta de envergadura e sobretudo a origem iemenita de sua mãe, que as más línguas do reino dizem ser uma simples escrava de Abdul Aziz, sempre despertaram resistências. Se em 2013 o rei Abdallah o havia nomeado vice-príncipe herdeiro, foi antes de tudo para barrar o clã dos Sudayris, um dos ramos mais poderosos da família Saoud, então encarnado por Salman, e cuidar das chances de seu filho Mitaeb.
Euforia nacionalista
Ao tirá-lo do cenário político, alguns meses depois de afastar dois filhos de Abdallah, o novo rei consolida a preeminência recuperada dos Sudayris. Os três cargos mais importantes do país das duas mesquitas santas agora são ocupados por membros dessa prestigiosa linhagem, uma vez que Mohamed Bin Nayef também é originário dela.
Levado a assumir um espaço cada vez maior em vista da idade já avançada de Salman (79 anos), "MBN" deverá se entender com outra figura ambiciosa, Mohamed Bin Salman, que é pelo menos 20 anos mais novo. Sendo já diretor do gabinete de seu pai, além de ministro da Defesa, ao obter o cargo de vice-príncipe herdeiro ele engata em um avanço fulgurante dentro da hierarquia saudita. A euforia nacionalista que tem reinado no país desde o início dos bombardeios no Iêmen, embora Riad por enquanto não tenha atingido nenhum de seus objetivos de guerra, calou aqueles que se preocupavam com sua total falta de experiência e de sua suposta falta de sofisticação.
Por ora, de acordo com especialistas em Arábia Saudita, nenhum sinal de rivalidade despontou entre os dois homens. Para compensar o fato de que dentro do Conselho de Assuntos Políticos e de Segurança Mohamed Bin Salman está sob tutela de Mohamed Bin Nayef, um segundo Conselho foi criado, encarregado do desenvolvimento econômico e social, no qual o primeiro comanda o segundo.
Essa dupla precisará de criatividade para que a Arábia Saudita saia da crise iemenita por cima. Apesar do anúncio feito na semana passada de que teria terminado a fase de bombardeios intensivos, os ataques continuam em um ritmo constante.

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