Brasil e AL mais vulneráveis
O Estado de S.Paulo
Em vez de protestar contra o rebaixamento da nota de
crédito do País pela Standard & Poor's, a presidente Dilma Rousseff
deveria dar atenção à advertência do Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID): os países latino-americanos estão menos
preparados para um choque externo do que estavam em 2007, quando bancos
americanos começaram a quebrar, prenunciando a Grande Recessão. O aviso
vale para toda a região e é especialmente útil para países como o
Brasil, onde se combinam vários desajustes importantes - inflação
elevada e resistente, contas públicas em deterioração, baixo ritmo de
crescimento econômico e transações correntes no vermelho.
Sem discutir em detalhe os grandes problemas de cada país, o estudo
chama a atenção principalmente para a piora das condições fiscais e para
a dependência crescente, na região, de financiamentos externos. O
quadro geral, sem dúvida, é bem menos animador do que o de alguns anos.
Durante a maior parte da última década, a América Latina (AL), com
exceção de algumas economias muito mal administradas, chamou a atenção
pela melhora de seus fundamentos. Durante muito tempo a região havia
sido conhecida pela instabilidade política e pela frequência das crises
financeiras e econômicas.
Países latino-americanos eram clientes habituais dos programas de
ajuda financeira do FMI e podiam servir, em manuais de economia, como
exemplos perfeitos da relação entre desajustes fiscais e desequilíbrio
das contas externas. Na metade dos anos 90 o Chile ainda era a exceção
mais notável. Mas nessa época o cenário já começava a mudar, embora a
região ainda tenha sido amplamente afetada por uma crise interna - a do
México, em 1995 - e as da Ásia e da Rússia, em 1997 e 1998. A crise
brasileira de 1999 foi em parte um reflexo de erros domésticos e em
parte um reflexo do problema da Rússia.
Nos primeiros anos do século 21 a imagem da América Latina mudou. O
fato foi reconhecido até com entusiasmo nas assembleias conjuntas do FMI
e do Banco Mundial, inicialmente com alguma cautela: a mudança seria
duradoura? Mas a nova imagem acabou fazendo parte do cenário
internacional, quando se confirmaram, por alguns anos, a melhora das
finanças públicas e o fortalecimento das contas externas. Com
fundamentos muito melhores que em várias décadas anteriores, os
latino-americanos suportaram bem os impactos da crise agravada a partir
de 2008 e os efeitos da recessão nas economias desenvolvidas.
Quando a crise começou, a maior parte dos governos latino-americanos
tinha condições de recorrer a políticas contracíclicas, aumentando os
gastos para estimular a atividade e até afrouxando o controle monetário.
Em alguns países, no entanto, os estímulos fiscais foram prolongados e
incluíram despesas permanentes. As contas externas também se
enfraqueceram e esse novo quadro justifica a preocupação indicada no
estudo do BID.
Os autores do estudo levaram em conta a possível combinação de três
choques: um aperto monetário mais rápido que o esperado, se o
crescimento econômico americano superar as previsões; uma queda de
rentabilidade do capital nos Estados Unidos; e um crescimento chinês
mais lento que o estimado até agora. Os efeitos desses choques foram
comparados com um cenário básico - as projeções de janeiro do FMI.
Para o conjunto das economias, o crescimento passaria de 3,3% ao ano
entre 2014 e 2016 (projeção do FMI) para 3,2%. O efeito geral seria
muito pequeno. No caso do México, o resultado seria positivo, porque o
efeito preponderante seria o da recuperação econômica dos Estados
Unidos. Para Chile, Colômbia, Equador e Peru o resultado negativo seria
sensível, mas a menor expansão ainda seria 4% (caso da Colômbia). O
crescimento brasileiro, já baixo no cenário básico (2,8%) passaria a
2,4%, principalmente por causa da dependência em relação à China. A
expansão americana seria pouco aproveitada. A estagnação industrial e a
baixa competitividade do Brasil, bem conhecidas dos brasileiros, já são
componentes da paisagem.
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