O atraso dos preços
Celso Ming - O Estado de S.Paulo
O ex-presidente do Banco Central (BC) professor Affonso
Celso Pastore calcula que o custo do represamento de apenas dois preços
administrados, o da energia elétrica e o dos combustíveis, ultrapassa R$
34 bilhões, somente para evitar um ponto porcentual na inflação anual.
Pastore pode estar sendo generoso com o governo Dilma. O custo
certamente é maior do que esses R$ 34 bilhões se, além da conta a ser
paga pelo custo adicional de energia elétrica e da perda de arrecadação
da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) cobrada sobre
os combustíveis, forem computadas as perdas dos Estados e municípios
apenas com receitas de ICMS. É que esses impostos cobrados sobre a
energia elétrica e sobre os combustíveis são importante fonte
tributária, especialmente para os Estados do Norte e do Nordeste.
Ainda teriam de ser aferidos os prejuízos do setor privado com esses
achatamentos. Há, por exemplo, os do setor do etanol, uma vez que o
congelamento dos preços da gasolina impõe, também, um teto para os
preços do seu produto.
No último Relatório de Inflação, o BC adiantou outros estragos
causados pelo represamento dos preços administrados, que correspondem a
23% dos praticados na economia. E aí se incluem as tarifas dos
transportes urbanos, da telefonia fixa e os preços dos remédios.
Todo governo que cede facilmente a tentações populistas fica propenso
a cair nesse tipo de armadilha. Dureza é sair dela depois. As tarifas
de energia elétrica estão atrasadas entre 15% e 25%, calcula Pastore. E
as da gasolina, entre 10% e 15%. A correção é inevitável por duas
razões. Primeira, porque, além das perdas fiscais, produzem distorções. A
principal delas é induzir ao consumo excessivo. É o que está
acontecendo mais claramente com a gasolina, fator que provoca aumento
das importações e, portanto, abre um rombo nas contas externas. O mesmo
pode-se dizer da energia elétrica. Tarifas baixas não ajudam a
racionalização do consumo e exigem o acionamento das termoelétricas a
óleo diesel, a custos muito mais altos, que, por sua vez, contribuem
para o aumento das importações. Portanto, o reajuste dos preços é
necessário para conter o consumo.
Em segundo lugar, a correção dos preços tem de ser feita para
restabelecer o equilíbrio dos preços relativos dentro da economia, de
modo a eliminar algumas das distorções já mencionadas.
O BC já chamou a atenção para o fato de que a falta de reajustes nos
preços relativos é, por si só, fator que amontoa inflação, na medida em
que leva os agentes econômicos a remarcações defensivas de seus próprios
preços, porque esperam reajustes de insumos importantes para qualquer
momento.
O governo Dilma vai sendo pressionado para apressar os reajustes,
mais porque o atraso de alguns preços inviabiliza objetivos estratégicos
do governo - caso dos investimentos da Petrobrás e da Eletrobrás - do
que por apelos por racionalidade econômica. Mas resistirá até onde
puder, porque teme por pesados custos eleitorais que seriam deflagrados
por reajustes dos combustíveis e da energia elétrica. E nessa área,
quanto mais tarde forem feitas, mais caro sairão as correções.
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