Cacoete autoritário limita análises econômicas
Reação violenta de Dilma, PT e Lula à análise
do Santander sobre pesquisas eleitorais lembra críticas à imprensa no
mensalão e levará bancos a praticar a autocensura
O Globo
Podia-se creditar apenas ao estado de nervos no núcleo da campanha da
presidente Dilma a reação violenta dela, do seu partido e do
ex-presidente Lula à análise feita para clientes preferenciais do banco
Santander em que altas da Bovespa são relacionadas a pesquisas
eleitorais negativas para o projeto da reeleição.
Para o PT,
segundo seu presidente, Rui Falcão, tratou-se de “terrorismo eleitoral”.
A própria Dilma considerou “inadmissível para qualquer país”, disse em
sabatina na “Folha de S.Paulo”, a interferência do mercado financeiro no
processo eleitoral. Já Lula, em um evento na CUT, pediu a demissão da
analista responsável pelo texto. Talvez seja o primeiro político de
origem no sindicalismo a defender publicamente a demissão de um
assalariado.
Mas a explicação para reação tão violenta não é
conjuntural. O vozerio petista tem a ver com o cacoete autoritário de
frações hegemônicas no partido contra a liberdade de expressão. Mesmo de
departamentos de análise de instituições financeiras, as quais, daqui
para frente, praticarão a autocensura, como foi obrigada a fazer a
imprensa durante a ditadura militar. Talvez este seja o objetivo da
resposta petista em uníssono.
A imprensa profissional conhece esta
reação típica petista diante de informações que não agradem o partido.
Foi assim no escândalo do mensalão, em cujo início o próprio presidente
Lula pediu desculpas ao país. Logo depois, ele e partido passaram a
negar o malfeito e a acusar a divulgação dos fatos como parte de um
projeto “golpista”. O Santander, grupo financeiro espanhol, sabe agora o
que significa contrariar o PT. O presidente mundial do banco, Emilio
Botín, por coincidência em viagem ao Brasil, acompanha de perto a
pedagógica experiência.
Para azar do banco espanhol, no Brasil, em
que o Estado tem grande ingerência na economia, o setor financeiro é
particularmente vulnerável à ação regulatória dos governos. A mudança de
uma resolução do Banco Central, numa penada, pode produzir milhões: em
lucros ou prejuízos.
Entende-se, portanto, que mesmo campanhas
publicitárias de grandes conglomerados financeiros privados reproduzam
um certo ufanismo nacionalista típico da visão que o Planalto tem do
país nesses tempos eleitorais. O que aconteceu na Copa do Mundo foi
típico.
Em alguma medida, o Brasil de Dilma lembrou a Argentina de
Cristina Kirchner. Lá, quando a economia estava subordinada ao
truculento secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno,
escritórios de consultoria que divulgassem estimativas independentes da
inflação eram punidos com pesadas multas. Moreno e Casa Rosada queriam
impedir comparações com a inflação oficial, manipulada.
O Brasil,
felizmente, devido a suas instituições, está muito distante da Argentina
kirchnerista. Mas os governos têm cacoetes muito parecidos.
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