terça-feira, 12 de agosto de 2008

Canto amigo

"Eu te direi: poderás te libertar do peso da vida,
Poderás encontrar um amigo no fantasma que te habita,
Os homens poderão amordaçar os tiranos que quiserem
se transformar num só.
Eu te direi: da própria fraqueza emerge a força,
E muitas vezes a renúncia é o esquema da vitória.
Se conheces o dom que vem do alto e que afasta!
Por que aumentas o terror que rodeia o teu lar,
Por que em vez dos retratos dos poetas
Que prolongam no tempo a corrente do amor e da fraternidade
Suspendes na tua casa fotografias de couraçados e de fortalezas volantes
Por que acreditas no julgamento dos chefes transitórios do homem
Por que recusas pão e brinquedos às crianças, dando-lhes granadas
Que futuro preparas, homem amigo, para os teus descendentes
Ó meus irmãos, eu ando entre vós como o sobrevivente
duma cidade arrasada.
Ouvi os últimos acordes do meu canto de perdão e de ternura
Antes que as rádios extingam minha palavra com anúncios de guerra.
Ó meus irmão, eu sou aquele que não ri, o que não mistifica,
Eu sou o que vos poderia odiar e que vos ama,
Eu sou aquele que espera a vitória divina sobre as forças do mal
Que agem poderosamente dentro de mim e de vós."
Murilo Mendes

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