sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Sermão aos peixes

Vem viver comigo, sê o meu amor
E os prazeres da paixão provaremos
De areias douradas e regatos de cristal
o rio correrá manso,murmurando, aquecido
Mais por teus olhos do que pelo sol;
os peixes enamorados suplicarão
a si próprios poder trair.
Quando nadares nua nesse banho de vida
Cada peixe que habita
esses regatos de águas translúcidas
Nadará, apaixonado, para ti,
Mais feliz por te apanhar, do que cair em teus braços.
Se, sendo vista assim, fores censurada,
por tua formosa nudez,
Pelo sol, ou pela Lua
com a tua beleza e alvura
a ambos eclipsarás;
E se eu puderes te contemplar nua,
Dispensarei as luzes,
Do sol e da lua,
tendo-te apenas a ti a me iluminar.
Que os traidores curiosos, com moscas de seda
Nada tenham a comemorar
Dos pobres peixes que se deixam fisgar.
Porque tu não precisas de tais artimanhas
Pois que tu própria és a tua própria isca,
E o peixe que não seja por ti apanhado,
Ah! é muito mais sensato do que eu.
Como me é dolorido pensar nisso,
Imobilizado ,
dentro do teu samburá!

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