terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Apesar de gasolina mais barata, cresce uso do transporte público em cidades dos EUA
Jon Hurdle - NYT
Kena Betancur/Getty Images/AFP
 2,7 bilhões de viagens foram feitas nos transportes públicos no terceiro trimestre de 2014 2,7 bilhões de viagens foram feitas nos transportes públicos no terceiro trimestre de 2014
David Needham achou que precisaria comprar um carro quando se mudou de San Francisco para Minneapolis-St. Paul em fevereiro de 2013, mas teve uma surpresa agradável quando descobriu que a cidade que adotou tem um sistema de transporte coletivo que atende a todas as suas necessidades sociais e de trabalho, permitindo que ele e sua família fiquem livres do carro. Needham, 29, um desenvolvedor de sites para organizações sem fins lucrativos e pequenas empresas, mora a cinco minutos à pé de um novo sistema de veículos leves sobre trilhos  --o chamado VLT--, que passam a cada dez minutos e o levam para o centro de Minneapolis em cerca de 30 minutos por uma tarifa de cerca de US$ 2.
"Quando me mudei aqui para St. Paul, percebemos que morávamos na rota de um novo sistema de VLT e de um grande corredor de ônibus, e não precisávamos mesmo de um veículo", disse Needham. Ele, sua mulher Alyscia, e sua filha de 18 meses já estão sem carro há cerca de um ano.
Needham usa a Linha Verde, de 17 quilômetros, que desde que foi inaugurada, em junho, já atraiu 36 mil passageiros em um dia típico de semana, um número que já está se aproximando dos 41 mil projetados para a linha até 2030, disse Drew Kerr, assessor de imprensa da Metro Transit, a agência de transportes da cidade. A linha custou US$ 957 milhões para ser construída, metade dos quais foram financiados pelo governo federal, disse Kerr.
Passageiros como Needham têm uma boa relação custo-benefício com o transporte público, assim como moradores de muitas outras cidades onde o investimento no transporte está levando a números recordes de passageiros e persuadindo mais pessoas a deixarem os carros em casa, apesar da queda recente nos preços da gasolina.
A Associação Norte-Americana de Transporte Público disse que cerca de 2,7 bilhões de viagens foram feitas nos transportes públicos no terceiro trimestre de 2014 - um aumento de 1,8%, ou cerca de 48 milhões de viagens, em relação ao mesmo período no ano passado --o maior número do terceiro trimestre desde que os registros do grupo começaram em 1974.

Aumento

Entre as cidades que tiveram aumento no número de passageiros estão San Francisco, Chicago e Nova York. Todas reportaram aumentos anuais no número de passageiros tanto no trimestre passado quanto nos primeiros nove meses de 2014.
O aumento nacional, que vem depois da maior alta em 57 anos no número de passageiros durante todo ano de 2013, reflete a melhoria na abrangência, na frequência das viagens e na qualidade do transporte público, e enfraquece a ligação tradicional entre os preços da gasolina e o uso dos transportes, disse Michael Melaniphy, presidente da associação.
Enquanto no passado o crescimento do uso de transportes públicos resultava do aumento nos preços da gasolina, e as pessoas normalmente voltavam a usar carros quando o preço da gasolina recuava novamente, a relação está se desfazendo à medida que os serviços públicos de transporte melhoram, diz Melaniphy.
A prova mais recente da quebra dessa relação é o aumento do número de passageiros numa época em que os preços da gasolina caíram ao nível mais baixo em mais de quatro anos, disse ele. "As pessoas estão dizendo: 'comecei a usar por causa dos preços dos combustíveis; mas continuei por causa da experiência'", disse ele.
Uma vez que 60% das viagens são feitas por pessoas a caminho do trabalho, o aumento do número de passageiros também foi alimentado pelo fortalecimento da recuperação econômica, que gera mais empregos, e pelas melhorias como horários mais frequentes e disponibilidade de aplicativos que oferecem aos usuários atualizações em tempo real sobre os serviços de transporte.
Na Filadélfia, a passageira Kara Sarvey pega o trem para ir de casa, no subúrbio de Conshohocken, até o trabalho, no centro, a 24 quilômetros, e disse que nunca considerou dirigir para o trabalho, embora ela tenha carro.
Sarvey, 26, profissional de marketing de uma editora de livros didáticos médicos disse que pegar o trem operado pela Southeastern Pennsylvania Transportation Authority economiza tanto dinheiro quanto tempo para ela, em comparação a dirigir sozinha em uma rodovia notoriamente congestionada. "Nunca nem pensei em ir de carro para o trabalho", disse ela. "Eu simplesmente não quero ficar no trânsito congestionado todo dia."

Recorde

Em Boston, onde o número de passageiros aumentou para um recorde de 37,2 milhões em outubro, apesar de um aumento de 5% nas passagens três meses antes, o uso de ônibus, trens e metrôs reflete em parte melhorias no sistema existente, em vez de acréscimos, diz Beverly Scott, diretora-executiva da Massachusetts Bay Transportation Authority.
As melhorias, no valor de US$ 1 bilhão ao longo dos últimos dois anos, incluíram a inauguração, em março, do funcionamento durante a madrugada --nas sextas-feiras e sábados--, a reabilitação de algumas estações de trem, e a disponibilidade de passagens móveis que podem ser ativadas através dos celulares dos passageiros, diz Scott.
O uso do transporte está chegando a uma média recorde de 1,4 milhões de viagens por dia, diz ela. O aumento do uso de transporte público também reflete um estilo de vida cada vez mais urbano por parte dos moradores mais jovens que demandam comunidades mais voltadas para os pedestres, bicicletas e transportes públicos, diz Scott.
O aumento do uso dos transportes públicos é um sinal de uma mudança em relação ao estilo de vida dos subúrbios, que caracterizou a geração anterior mas pode não ser compatível com os mais jovens, disse Scott. "Não é sustentável, e as pessoas sabem disso agora", disse ela. "É um retrato do que os EUA eram há 30, 40 anos. Estamos pintando um novo retrato em termos de para onde vamos, e é muito coerente com fornecer um transporte público de qualidade."  
Tradutor: Eloise de Vylder

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