quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Grécia se afirma como porta de entrada da China na Europa
Pequim amplia sua presença em Atenas em torno do porto e do antigo aeroporto 
María Antonia Sánchez-Vallejo - El País
Louisa Gouliamaki/AFP
Praticamente todos os armadores gregos estão estabelecidos no porto de Pireu Praticamente todos os armadores gregos estão estabelecidos no porto de Pireu
Um passeio pelas ruas do Pireu, localidade de 160 mil habitantes unida a Atenas pela ininterrupta sucessão de edifícios e a sinuosidade do metrô e dos bondes, é uma incursão na China mais laboriosa e fabril: lojas de conveniência abertas 24 horas, bazares, grandes armazéns que ocupam quarteirões (ou hangares preteridos pela deslocalização do trabalho dos estaleiros); letreiros abundantes em mandarim e inglês, de despachantes na mesma rua onde antes as companhias de navegação gregas exibiam seu poderio. Essa é a paisagem que oferece nos últimos anos o maior porto da Grécia, cujo terminal de passageiros registra por ano 20 milhões de movimentos, entre nativos e turistas.
O outro grande terminal, o de carga, está destinado a se transformar na porta europeia da Rota da Seda 21, graças aos ambiciosos planos comerciais de Pequim (e a insistente necessidade econômica grega).
Com 230 milhões de euros (cerca de R$ 770 milhões) sobre a mesa, a estatal chinesa Cosco reforçou em novembro seu controle no principal porto comercial da Grécia; seus produtos entrarão pela porta da frente da Europa graças ao salvo-conduto helênico.
A Cosco opera no Pireu desde 2009, quando conseguiu por 500 milhões de euros (R$ 1,72 billhão) uma concessão por 35 anos para administrar a metade do terminal de carga, triplicando a atividade nesses anos, apesar das críticas de parte da opinião pública, por considerá-la uma cessão de soberania - o Estado controla os 50% restantes - e dos poderosos sindicatos portuários, que não se cansam de denunciar as condições de trabalho abusivas da Cosco.
"Nenhum país da Europa oferece esse potencial", indicou nesta primavera Fu Cheng, porta-voz da empresa chinesa, salientando que o movimento atual de 6 mil contêineres por dia poderá disparar com a recente concessão.
Os cálculos preveem para 2021 uma capacidade anual de 7,2 milhões de contêineres. "O Pireu será o maior porto mediterrâneo e um dos maiores centros de distribuição de mercadorias no leste da Europa."
Mas pelo Pireu entrarão não somente mercadorias chinesas, como também japonesas, como demonstra a circulação de três a quatro trens semanais, cada um deles com 38 vagões, do Pireu para Nitra, na Eslováquia, onde a Sony possui uma fábrica de montagem de televisores que abastece toda a Europa.
Fontes da Sony afirmam que graças ao controle chinês do Pireu a distribuição é muito mais fluida e reduz em dez dias as rotas anteriores.
O porto grego, portanto, será o eixo sobre o qual vai girar a presença chinesa na Europa, mas não é o único (Pequim também está interessada no porto de Salônica e na rede ferroviária grega).
No antigo aeroporto de Atenas, o Ellinikó, vendido em novembro por 915 milhões de euros, a empresa grega Lamda - dedicada aos negócios imobiliários na Grécia, mas também na Romênia, Sérvia, Bulgária e Montenegro -, pretende levantar um macrocomplexo residencial, comercial e turístico, com um investimento de 8 bilhões de euros e a criação de dezenas de milhares de postos de trabalho.
Por trás do projeto está a gigante chinesa Fosun, o maior conglomerado privado do país asiático e, em menor medida, uma companhia de Abu Dhabi.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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