sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Aproximação de EUA e Cuba deve alimentar batalhas políticas contra Obama
Ashley Parker e Jonathan Martin - NYT
Reprodução/Twitter
Obama vira o guerrilheiro Che em montagem no Twitter Obama vira o guerrilheiro Che em montagem no Twitter
O anúncio surpreendente de que os Estados Unidos e Cuba vão restaurar relações diplomáticas, incluindo a abertura de uma embaixada em Havana, poderá alterar uma das linhas divisórias mais persistentes na política norte-americana. Ainda, poderá moldar a luta entre democratas e republicanos pelo governo da Flórida.
Por mais de uma geração, os republicanos assumiram uma posição linha-dura contra a nação comunista, ganhando apreço do bloco politicamente potente de cubano-americanos, que há muito é uma força crucial na decisão de eleições no Estado. Mas essas animosidades diminuíram com a mudança de geração, e os eleitores mais jovens que têm laços familiares com Cuba –mas não lembranças diretas da ilha sob Fidel Castro– têm se mostrado dispostos a apoiar os democratas.
A população latina da Flórida também é cada vez mais composta por ex-moradores de Porto Rico, que geralmente votam nos democratas. O presidente Obama venceu duas vezes no Estado e os candidatos republicanos à presidência têm uma dificuldade extrema de vencer sem conquistar os votos da Flórida no Colégio Eleitoral.
Agora, as questões debatidas no Estado provavelmente mudarão, mesmo com a persistência das antigas disputas com Cuba.
A notícia ofereceu um vislumbre antecipado das dificuldades diante de Jeb Bush, o ex-governador republicano da Flórida, que na terça-feira (16) anunciou cogitar concorrer à presidência em 2016.
Apesar de Bush ter elogiado a soltura de Alan Gross, em um discurso neste mês para um grupo de exilados cubanos pró-embargo no Biltmore Hotel, em Coral Gables, Flórida, ele pediu pelo endurecimento do embargo.
"Suspender o embargo muda o fato de que o governo recebe quase todo o dinheiro das pessoas que viajam à ilha?", indagou Bush.
"Cuba é uma ditadura, falando de forma simples e clara. Os Estados Unidos só deveriam ter relações com Cuba quando houver um progresso nos direitos humanos básicos do povo cubano, incluindo a libertação dos presos políticos, eleições livres e justas, respeito pelo Estado de direito, cessação da desestabilização dos países da região e a adoção de uma economia de livre mercado."
Entre a nova geração de cubano-americanos há uma paixão bem menor pelo embargo. Há ainda menos entre aqueles de origem porto-riquenha.
"A cada dia que passa, a proporção do eleitorado latino que vem dos cubanos da era do embargo encolhe, e agora são vastamente superados em número por uma explosão de novos eleitores porto-riquenhos", avalia Steve Schale, um estrategista democrata na Flórida que trabalhou em ambas as campanhas de Obama ali. "Além disso, os netos e agora bisnetos daqueles cubanos da era do embargo têm uma visão muito mais aberta em relação à questão cubana."
Mesmo assim, o senador Marco Rubio, republicano da Flórida e um candidato potencial em 2016, atacou a reaproximação na quarta-feira (17).
"O anúncio de hoje iniciando uma mudança dramática na política americana em relação à Cuba é apenas outra em uma longa fila de tentativas fracassadas do presidente Obama de apaziguar regimes inamistosos a qualquer custo", disse Rubio, um cubano-americano, em uma declaração. "Quando a América não está disposta a defender a liberdade individual e a liberdade de expressão política a 145 quilômetros de nossa costa, isso representa um revés terrível para as esperanças de todos os povos oprimidos ao redor do mundo."
Rubio disse que "a América será menos segura em consequência da mudança de política pelo presidente" e prometeu usar sua posição como futuro presidente do subcomitê para o Hemisfério Ocidental do Comitê de Relações Exteriores do Senado para bloquear os esforços diplomáticos do presidente com Cuba.
O senador Robert Menendez, democrata de Nova Jersey, e um dos três senadores descendentes de cubanos, também criticou o presidente, que como parte do acordo maior com Cuba, soltou três espiões cubanos que foram presos em Miami em 2001. Menendez, presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado, alertou que a troca estabelece "um precedente extremamente perigoso".
"Vamos deixar claro", disse, "isso não foi um ato 'humanitário' por parte do regime Castro. Foi uma troca de espiões condenados por um americano inocente. Essa troca assimétrica convidará nova beligerância em relação ao movimento de oposição de Cuba e o endurecimento do controle ditatorial do governo sobre seu povo".
O senador Bob Corker, republicano do Tennessee, que assumirá como presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado em janeiro, foi mais reservado.
"A nova política americana anunciada pelo governo é sem dúvida abrangente, e até o momento não há um entendimento real de quais são as mudanças que o governo cubano está preparado a fazer", ele disse em uma declaração. "Nós examinaremos atentamente as implicações dessas grandes mudanças na política no próximo Congresso."
Ana M. Carbonell, uma estrategista republicana cubano-americana no Sul da Flórida, disse que a decisão de Obama colocará pressão sobre Hillary Clinton.
"Ela terá que fazer uma avaliação séria sobre isso e decidir de que lado da história ela deseja estar", disse Carbonell. Caso Clinton concorra à presidência, ela disse, suas chances de vencer na Flórida sofrerão "a menos que ela se distancie dessa decisão".
Carbonell rejeitou a ideia de que a mudança de geração entre os cubano-americanos e o aumento da população porto-riquenha na Flórida tornou a questão do embargo menos potente nas disputas eleitorais no Estado. Ela apontou para a disputa deste ano ao governo estadual, na qual o governador impopular, Rick Scott, um republicano que apoia o embargo, derrotou Charlie Crist, um democrata.
"Crist seria o primeiro governador da Flórida na história abertamente a favor da normalização das relações e veja os resultados", ela disse. (Crist venceu decisivamente entre os latinos de origem não cubana, mas apenas por margem estreita entre os cubano-americanos.)
Clinton tem defendido a normalização das relações com Cuba há algum tempo. Ela escreveu a respeito em seu livro, "Hard Choices" e falou passionalmente a respeito durante uma entrevista em meados do ano.
"Eu gostaria de ver o fim dele", disse Clinton sobre o embargo. "Eu acho que ele é um fracasso."
Clinton argumentou que o embargo escorou o governo Castro, porque as autoridades cubanas podem culpar os Estados Unidos por todos os problemas do país. Além disso, ela disse, o embargo não teve nenhum impacto na liberdade de expressão ou na libertação de presos políticos.
A ex-secretária de Estado disse que gostaria de ver os Estados Unidos influenciarem Cuba por meio do comércio e turismo. Ela também disse que esperava por uma solução da situação de Gross e por algum dia poder viajar ao país.
Tradutor: George El Khouri Andolfato

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