sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Quatro anos de conflito e a destruição do patrimônio cultural da Síria
Stephen Heyman 
Um olhar sobre o prejuízo irreparável causado ao patrimônio cultural do país por quase quatro anos de conflito
A ONU estima que pelo menos 191 mil pessoas foram mortas e milhões foram desabrigadas como resultado da guerra civil na Síria.
Esses custos humanos ofuscaram o prejuízo irreparável causado ao patrimônio cultural do país durante quase quatro anos de conflito. Cinco dos seis Patrimônios Mundiais da Unesco na Síria sofreram danos, de acordo com uma análise recente por satélite da Associação Americana para o Avanço da Ciência.
Este mês, a Unesco convocou uma reunião em sua sede em Paris para ver o que poderia ser feito para impedir maiores danos a esses locais. Parte do desafio, afirmou Giovanni Boccardi, diretor da Unesco de preparação para emergências, é convencer a comunidade internacional de doadores que a herança cultural também merece proteção urgente.
"Há uma relação muito estreita entre os ataques contra as pessoas e a dimensão cultural", disse ele, lembrando como o levante civil no Iraque em 2006 foi provocado pela destruição da cúpula do santuário xiita Al-Askari, do século 10, em Samarra. "A aniquilação intencional de qualquer vestígio do patrimônio cultural, seja ele tangível ou intangível, faz parte de uma estratégia de guerra. Esta questão não deve ser considerada um luxo, uma preocupação de uma elite de antiquários."
Um dos patrimônios mais atingidos foi a antiga cidade murada de Aleppo. Em 2012, o seu famoso souk do século 17, muitas vezes descrito como o maior mercado coberto do mundo, foi severamente danificado pelo fogo.
No ano passado, um minarete do século 10, da mesquita de Umayyad ali perto, desintegrou-se após ser atingido por fogo de artilharia. "A imagem é realmente desoladora", disse Boccardi em entrevista por telefone. "Fomos informados de danos a construções importantes em Aleppo até mesmo nesta semana."
Os combates danificaram outros patrimônios, incluindo a fortaleza dos cruzados Crac des Chevaliers e as antigas ruínas de Palmyra, um importante sítio arqueológico. No norte do país, aparentemente desabrigados buscaram abrigo dentro das chamadas Cidades Mortas, uma série de assentamentos romanos e bizantinos bem preservados que haviam sido abandonados por mais de um milênio.
A lista da destruição continua. "Ouvimos relatos da destruição de uma antiga sinagoga, de museus saqueados no norte, de pilhagem extensa de sítios arqueológicos menos conhecidos", disse Boccardi, destacando um assentamento romano, Apamea, que hoje está cheio de buracos escavados por caçadores de tesouros que roubaram mosaicos das paredes e dos pisos. "O local está completamente irreconhecível."
Boccardi disse que entre as iniciativas apresentadas na reunião de Paris havia a ideia de fazer com que os antagonistas no conflito de alguma forma concordassem em manter "zonas culturais protegidas" em torno de certos locais, como a Mesquita de Umayyad danificada em Aleppo.
"No final das contas, a maior parte dos envolvidos reconhece que certos lugares têm um valor comum que é importante proteger", disse ele. "Poderia ser a semente de um possível processo de reconciliação no futuro."
Tradutor: Deborah Weinberg

Nenhum comentário: