Bendine desagrada a corpo técnico da Petrobras e mercado financeiro
PEDRO SOARES - FSP
O nome de Aldemir Bendine para a presidência da Petrobras
desagradou parte do corpo técnico da companhia, que esperava um nome de
peso do setor privado tanto para comandar a estatal como para a
diretoria financeira –cargo a ser ocupado pelo vice-presidente de
finanças do Banco do Brasil, Ivan Monteiro.
A própria Graça Foster, presidente demissionária da estatal, havia
sugerido à presidente Dilma Rousseff, mais de uma vez, que a melhor
saída para a crise de credibilidade da companhia a escolha para ambos os
postos nomes de peso do setor privados, compondo com técnicos da
Petrobras para as demais diretorias.
A tendência é que as demais diretorias sejam ocupadas, ainda que
interinamente, por gerentes graduados de cada área de negócio:
Exploração e Produção, Gás e Energia e Abastecimento.
Para diretoria de Abastecimento (que controla a parte de refino,
distribuição e transporte de combustíveis), o mais cotado, até agora, é
Rubens Silvino, gerente-executivo-corporativo da área. Na prática, ele é
o número dois do diretor demissionário, José Carlos Cosenza. O
executivo comandou a Liquigás, subsidiária da Petrobras para
distribuição de gás de cozinha.
Bendine tampouco conta com a simpatia do mercado financeiro. "É um nome
que não sinaliza o fim da forte ingerência política na companhia, que
nos últimos anos tem atendido mais aos interesses do acionista
controlador [a União] do que a busca por rentabilidade", disse Marco
Aurélio Barbosa, analista da CM Capital.
Segundo o especialista, a reação negativa do mercado, expressa pela
queda dos papéis da empresa, sinaliza que o uso da companhia para fazer
política monetária (com o controle do preço dos combustíveis para
segurar a inflação) continuará e investimentos pouco rentáveis também
devem seguir. "Não nos parece que ele terá autonomia necessária para
melhorar os indicadores da Petrobras."
O problema da estatal é que muitos projetos, mesmo sem o retorno
adequado, foram colocados nos planos de negócio para atender "aos
interesses do governo", como os empreendimentos que integram o PAC, de
acordo com Barbosa. Com o represamento dos reajustes, a estatal teve de
se endividar para fazer tocar as obras.
A escolha de Bendine, dizem analistas e funcionários da estatal,
sinaliza ainda uma derrota para o ministro Joaquim Levy, escalado para
buscar um nome de peso no mercado financeiro.
Até o último momento, o governo tentou convencer Murilo Ferreira, da
Vale, e outros executivos, como Henrique Meirelles (ex-Banco Central) e
Paulo Leme (do banco Goldman Sachs Brasil) a assumir a missão. A leitura
é que nomes desse porte só assumiriam com "carta branca", o que
dificilmente Dilma daria nesse momento, pressionada pela investigação Lava Jato, que apura corrupção na estatal.
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