As preocupantes declarações de Joaquim Barbosa
O ex-presidente do STF contribui para a
defesa de indicações sérias de novos ministros ao denunciar a
interferência de interesses privados no tribunal
O Globo
Bem ao seu estilo, o ministro Joaquim Barbosa se despediu do Supremo
Tribunal Federal sem cumprir o protocolo. Para não ouvir os discursos de
praxe de colegas e evitar qualquer pronunciamento formal, Barbosa saiu
antes de encerrada a sessão de terça-feira, a sua última no STF. Agora,
espera a publicação da aposentadoria no Diário Oficial.
Mas já
aproveitou os primeiros momentos fora da Corte para, em entrevista, dar
opiniões fortes sobre a atuação de ministros. No julgamento do mensalão,
de que foi relator, já fizera acusações a alguns de seus pares de atuar
com o objetivo de ajudar condenados.
Terça, sem a toga, foi mais
explícito: “Aqui (STF) não é lugar para pessoas que chegam com vínculos a
determinados grupos. Não é lugar para privilegiar determinadas
orientações". E mais adiante: “(...) aquilo que falei da constante queda
de braço, da tentativa de utilização da jurisdição para fins
partidários, de fortalecimento de grupos, de certas corporações, isso é
extremamente nocivo, em primeiro lugar, à credibilidade do tribunal, e
também à institucionalidade do nosso país”.
Joaquim Barbosa tem razão, e precisa, à primeira oportunidade, aprofundar este tema do uso do Supremo para fins privados.
Quem
acompanhou sessões do julgamento percebeu em algumas manobras a defesa
de interesses dos mensaleiros. Por exemplo, na lentidão forçada dos
trabalhos na primeira fase das sessões, para que os ministros Cezar
Peluso e Ayres Britto se aposentassem votando o mínimo possível, por
serem favoráveis à condenação dos acusados. Deu certo, infelizmente.
A
visão crítica de Joaquim Barbosa não reduz a importância histórica do
julgamento, nem seu êxito. Pode ter havido frustrações, mas deve-se
relembrar que nunca no Brasil políticos de partidos no poder — ou mesmo
fora dele — foram condenados e presos por corrupção. Neste sentido,
importa menos o rigor das penas, mas o ineditismo da punição, essencial
para o consolidação das instituições da democracia representativa.
O
mesmo aconteceu no impeachment de Collor: o fato de ele não ter sido
condenado pelo Supremo não reduziu a contribuição do Congresso à
estabilidade institucional.
Esta primeira entrevista de Joaquim
Barbosa fora do Pleno do STF tem a ver com os critérios de indicação de
candidatos a ministros ao Senado, prerrogativa da Presidência da
República. A própria escolha de seu sucessor será um teste para a
presidente Dilma Rousseff, caso ela decida fazê-la antes de apuradas as
urnas de outubro.
Será muito ruim para as instituições se Dilma,
permeável a pressões de alas petistas radicais em função do quadro
eleitoral, fizer uma indicação inadequada ao Supremo, a última linha de
defesa do estado democrático de direito. Agravará as distorções
mencionadas por Barbosa.
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