Dilma assume ajuste fiscal, mas precisa ser coerente
Merece registro o entendimento, enfim, da
presidente de que, sem a nova política econômica, para que a economia
volte a crescer, não se pode avançar na área social
O Globo
A presidente Dilma Rousseff assumiu, enfim, o ajuste fiscal anunciado
há algumas semanas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Este seria um
detalhe menor, pois, se ministros divulgam medidas, elas, por óbvio,
têm a chancela do governo. Mas, como se trata de uma política oposta à
adotada no primeiro mandato de Dilma, contrária à própria ideologia
“desenvolvimentista” da presidente, havia uma importância política no
fato de ela citar o necessário corte de gastos — e elevação de receitas —
num pronunciamento formal.
E aconteceu na primeira reunião da inchada equipe de 39 ministros,
realizada terça-feira, quando a presidente definiu diretrizes para o
segundo governo. Ficou visível a necessidade de Dilma praticar
contorcionismos para justificar alterações de política econômica sem ter
de reconhecer o fracasso da que adotou a partir de 2011.
Mais uma vez, foi usado o recurso fácil de culpar supostas causas
fora do controle do Planalto: seca, queda mundial de preços de
commodities, problemas econômicos na Europa e China etc. Na essência,
porém, a presidente Dilma foi ao ponto certo: “São passos na direção de
um reequilíbrio fiscal que irá permitir preservar as nossas políticas
sociais”, afirmou na abertura da reunião ministerial, depois de se
referir à meta de um superávit primário de 1,2% do PIB para este ano.
Dilma repetiu o correto conceito a que se referiu Nelson Barbosa na
entrevista que concedeu em novembro, ao ser anunciado como futuro
ministro do Planejamento. Segundo ele, não há política social que
sobreviva a uma inflação em alta e a um PIB em retrocesso ou estagnado.
Merece registro o entendimento, enfim, de Dilma Rousseff de que o
ajuste já em curso é condição imprescindível a fim de que a economia
volte a crescer e dê “meios para a execução de políticas que melhorem o
bem-estar da população.”
A presidente necessitará manter a coerência nos próximos meses,
quando o ajuste gerar previsíveis efeitos negativos: mais alguma
inflação — devido à correção de preços públicos irreais — e desemprego,
resultado de uma provável curta recessão. Serão desdobramentos
colaterais da rearrumação da economia, para ela voltar a crescer em
bases saudáveis. O oposto do que aconteceria sem a correção de rumos:
haveria também mais inflação, recessão e desemprego, mas sem perspectiva
de retomada da expansão, a não ser mais crise.
Dilma pediu, ainda, que a equipe de ministros reaja aos “boatos”,
trave a “batalha da comunicação”, negue “em alto e bom som” quando
disserem que serão revogadas conquistas dos trabalhadores. É o que a
própria Dilma terá de fazer junto a companheiros de facções do PT
opositores, por sectarismo ideológico, à mudança de política econômica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário