quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Petrobras continua a perder um tempo precioso
Se era para divulgar balancete sem as necessárias baixas contábeis e contas auditadas, a empresa não deveria esperar o fim de prazos para revelar esses resultados
O Globo
Ao divulgar o balancete do terceiro trimestre do ano passado sem as devidas baixas contábeis relativas a uma reavaliação de seu patrimônio (especialmente no que se refere a novas instalações que foram objeto de superfaturamento praticado dentro do esquema do petrolão), e ainda por cima com as contas não auditadas por uma companhia independente, a Petrobras conseguiu desagradar a todos. Não por acaso, os preços das ações da empresa despencaram quase 10%, na abertura do mercado, devido ao balancete. No final do dia, a cotação havia caído 11,2%, e o valor de mercado da companhia encolhido em R$ 13,7 bilhões.
Se era para divulgar um demonstrativo financeiro nessas condições, a Petrobras não deveria ter “cozinhado” a decisão por três meses, deixando acionistas, credores, fornecedores e clientes sem pista da situação econômica e financeira da maior empresa brasileira. A companhia parece ter esperado até o último momento para fazer essa divulgação, pois a partir do dia 31, sábado, ficaria sujeita, legalmente, à execução antecipada de dívidas. Então optou por uma divulgação formal.
De fato, pelo caráter e o vulto dos escândalos em que a empresa está diretamente envolvida, não será fácil promover uma baixa contábil que espelhe a real situação patrimonial da companhia, ainda mais sem contar com o auxílio do auditor independente mais familiarizado com a contabilidade da estatal. No entanto, é também esdrúxulo que somente em cima do dia 31 a empresa tenha anunciado que recorrerá aos órgãos reguladores do mercado de ações, a SEC, nos EUA, e a CVM, no Brasil, para obter algum tipo de orientação.
E, com tudo isso, a Petrobras ainda apresentou em seu balancete resultados sofríveis. A empresa promete há tempos uma recuperação, com o aumento da produção de óleo e gás, e, mais recentemente, com a elevação dos preços da gasolina e do óleo diesel. Ao menos no terceiro trimestre do ano passado tal recuperação não se refletiu no balanço oficial, o que é mais um motivo de preocupação, devido aos expressivos compromissos de investimento já assumidos pela companhia. A empresa esgotou sua capacidade de endividamento, e, com o desgaste de imagem que sofre a cada dia, não tem a mínima possibilidade de recorrer ao mercado para se capitalizar.
A estratégia que o governo adotou em relação à Petrobras é a mais estranha que se poderia imaginar. Pouco faz para reverter esse quadro. A empresa agora está exposta a ações judiciais de toda a ordem, no Brasil e no exterior, por parte de acionistas minoritários que viram o valor de mercado de seus papéis se esfumaçar. Além de prejuízos que essas disputas judiciais poderão causar a uma companhia já financeiramente debilitada, esse tipo e contencioso causa perdas de imagem que talvez levem anos para serem recompostas.

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