Aplicativos e serviços com dispositivo de SOS viram febre contra a violência
Botão do pânico começa a se espalhar por casas, estabelecimentos comerciais e escolas
Selma Schmidt - O Globo
Osmar Alfena mostra o botão do pânico embaixo da mesa de seu escritório:
ele tem mais dois dispositivos: um fica numa parede, e o outro é um
controle de bolso
- Marcio Alves / Agência O Globo
No comércio há 23 anos, Osmar Alfena Júnior diz que tem sido
protegido por seu anjo da guarda, pois nunca foi vítima de assalto à mão
armada. Mas, com a violência batendo à porta de quem tem negócios no Rio, optou por se cercar de muita segurança. Guardado num bolso da calça quando ele sai do escritório de sua loja no Centro
para supervisionar a área de venda, um discreto controle é seu fiel
companheiro. O aparelhinho — com menos de 20 gramas e seis centímetros
de comprimento por três de largura — tem o chamado botão do pânico. Ao
apertar a tecla SOS, tudo que fala é ouvido pela
central de monitoramento de uma empresa de segurança, que, constatando a
emergência, aciona a polícia.
O botão do pânico
começa a se espalhar por casas, condomínios, estabelecimentos
comerciais, escolas e creches. Pode ser físico, como o do comerciante
Osmar. Ou digital e gratuito, obtido por meio de aplicativos de
celulares, como o Linha Direta PM, idealizado por um morador da Barra, e o Emergência RJ, da Secretaria de Segurança.
Diretor regional da Verisure no Rio, Ricardo Carrera
conta que vendeu no mês passado 600 kits com tecnologia israelense,
como o de Osmar. Uma quantidade três vezes maior do que a empresa, de
origem sueca, fornecia há um ano.
— Nossa expectativa é passar a vender, em breve, mil kits por mês.
Estamos no Rio há três anos e já fazemos monitoramento para dez mil
clientes — afirma Carrera.
Além do controle de bolso, Osmar conta com dois outros botões do
pânico: um debaixo de sua mesa de trabalho; o outro, num painel. Com uma
chave inteligente, ele arma um sistema de alarme, para evitar
arrombamentos à noite. Sensores instalados em pontos estratégicos mandam
fotos para a central de monitoramento sempre que o botão de pânico ou o
alarme disparam. São muitos dispositivos, que podem ser acionados
inclusive pelo celular, por meio de um aplicativo. Contudo, o
comerciante quer mais proteção:
— O que acontece na loja são furtos. Por isso, instalei 16 câmeras,
que acompanho do meu escritório. Os vidros da sala são espelhados.
Ninguém me vê, mas eu vejo quem circula. Se observo alguém tentando
furtar algo, ligo a sirene que mandei colocar. O barulho é tão alto que a
pessoa se assusta.
Já
a advogada X, vítima de um assalto na madrugada do dia 8 do mês
passado, tomou a decisão de instalar um kit com botões SOS em seu
apartamento, em Botafogo. Como o bandido entrou pela
sala, após escalar o muro de um edifício vizinho e passar pelo
playground de seu prédio, X. colocou inclusive sensores magnéticos nas
janelas. A iniciativa de instalar o kit foi copiada pelo seu condomínio,
que achou por bem ampliar a segurança, até então limitada a câmeras.
— As câmeras ajudaram a identificar o bandido, que ficou oito minutos
dentro do meu apartamento, enquanto dormíamos. Só ficamos sabendo do
que ocorreu quando encontraram minha bolsa no play. Esse assaltante foi
preso dias depois em flagrante, ao invadir outra casa. O que me deixa
indignada é que ele foi solto no mesmo dia — lamenta a advogada.
Nas últimas duas semanas, três condomínios vizinhos, em Botafogo, instalaram kits com botões SOS. Todos os porteiros foram treinados para utilizar os equipamentos.
— Não ocorreu nada no meu prédio. Mas na rua, vi um assalto. Como o
painel central do equipamento tem uma tecla que permite ligar para o
190, fiz isso — diz o zelador de um dos condomínios.
Em média, a central da Verisure recebe por mês 250 pedidos de socorro de seus clientes. Em 98% dos casos, segundo a empresa, a PM entra em ação. Nos 2% restantes, faltam meios para a polícia atender aos chamados.
O valor de um kit básico com botão do pânico custa R$ 1.600. Pelo monitoramento, o mínimo que o cliente paga é R$ 169 por mês.
LINHA DIRETA PM: 50 MIL DOWNLOADS
Sem custo para a Polícia Militar e para quem baixa o aplicativo, o Linha Direta PM foi lançado em agosto, limitado à área do 31º BPM: Barra e Recreio. O aplicativo deu tão certo que já chegou a Jacarepaguá (18º BPM) e a Copacabana e ao Leme
(19º BPM), com cerca de 50 mil downloads realizados, segundo Leonardo
Gandelman, administrador que reuniu cinco técnicos para criá-lo.
— A polícia abraçou a ideia. A média de tempo entre o alarme ser
disparado e a PM acionar uma viatura é de 36 segundos — comemora
Gandelman, que, na última sexta-feira, se reuniu com o coordenador de
assuntos estratégicos da PM, coronel Roberto Vianna. — Em dez dias, o
aplicativo deve ser expandido para a área do 2º BPM, atendendo Botafogo,
Flamengo, Cosme Velho, Glória e Urca. Queremos levá-lo para toda a
cidade.
Ao abrir o aplicativo, o usuário cadastrado no Linha Direta PM se
depara com um botão vermelho. Quando clica nele, é acionado um comando
de voz e, durante dez segundos, o som ambiente é transmitido. Em
seguida, o aplicativo sai do ar, para garantir a segurança da suposta
vítima. O SOS chega ao centro de operações do batalhão da área.
— Imediatamente, toca um alerta sonoro para que os policiais saibam
que se trata de uma ocorrência do aplicativo — explica o coronel Vianna.
Por enquanto, embora seja georreferenciado, o aplicativo só pode ser
acionado nos endereços cadastrados. Após a implantação no 2º BPM, no
entanto, o coronel pretende fazer uma experiência na Urca: em qualquer
rua do bairro, quem estiver cadastrado poderá usá-lo.
— Vamos expandir o sistema à medida que sentirmos que temos condições
de dar uma boa resposta aos cidadãos — ressalta o coronel. — A
tecnologia, seja a dos aplicativos gratuitos, seja as fornecidas por
empresas, ajuda e dá mais celeridade no atendimento a casos de
violência.
Lançado durante a Olimpíada, o Emergência RJ alcançou
15 mil downloads. Quem se cadastra pode acessar o serviço de onde
estiver, e também deve apertar um botão vermelho. Em seguida, o usuário
clica opções de respostas sobre a situação de risco, informando se a
potencial vítima é ele mesmo e o tipo do crime. Depois, descreve o
chamado por mensagem de áudio ou texto. Ao fim do processo, a chamada
vai para o 190.
— O objetivo do aplicativo sempre foi oferecer uma alternativa ao
serviço 190. Turistas nacionais e estrangeiros o viram como uma forma
prática, ágil e confiável de denunciar um crime — afirma o subsecretário
de Comando e Controle da Secretaria de Segurança, Rodrigo Alves.
Há quem invista bem mais em tecnologia para segurança. Além de
equipamentos com botões do pânico, clientes procuram câmeras full HD,
identificadores faciais e sensores de perímetro. Desde 2005 no mercado
do Rio, a Sunset informa que, de agosto até o início deste mês,
registrou aumento de 23% nos pedidos de orçamento para vigilância e
atendimento em portarias. Os botões do pânico estão instalados em todos
os condomínios atendidos por ela — são mais de 30.
Sem divulgar números, a Arion, que há dez anos atua no Rio no ramo de segurança,
confirma que a procura por serviços aumentou nos últimos meses. E o
gerente comercial da Alfatec Blindagem Eletrônica, Rubem Albiagli,
revela que 80% da receita no mês passado corresponderam à instalação de
vidros blindados. Outra solução tem sido a colocação de cercas
elétricas, o que foi feito por donos de parte das 30 casas do condomínio
Gávea Parque, próximo à Rocinha. Outros optaram por duplicar a altura
dos muros, que tinham cerca de dois metros, ou compraram cães treinados.
Em busca de proteção, associações de bairros estão mobilizadas para
garantir a tranquilidade de moradores. Após a do Leblon anunciar que
busca recursos para montar um programa nos moldes da Operação Segurança Presente,
a da Tijuca reuniu, na semana passada, empresários e autoridades para
apresentar um projeto de monitoramento do bairro por câmeras. Na Tijuca,
o projeto prevê ainda uma articulação com o 6º BPM, para que a chamada
do usuário do Emergência RJ vá diretamente para o batalhão.
O projeto da Associação de Moradores e Empresas da Grande Tijuca (Amoti) é elaborado com a ONG Viver Bem, que atua em Niterói, e a Associação Comunitária Barra Segura. Em Niterói,
aliás, onde imagens de mais de 400 câmeras da Viver Bem e da prefeitura
são monitoradas na central de operações do 12º BPM, o botão do pânico
também entrou em pauta.
— A Associação dos Quiosqueiros da Orla de Niterói está instalando o
equipamento nos quiosques, que acionarão diretamente o batalhão. Com
isso, a orla estará mais monitorada — diz o comandante do 12º BPM,
tenente-coronel Márcio Rocha.
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