Ninguém conseguiria ser racista e não se descoberto ao longo de mais de 40 anos de atuação pública
Ah, não se faz piada assim! Não, é? Sei: sou pernambucana neta de um pretinho que morreu aos 101 anos de idade e tive de lidar com frases do tipo “isso é coisa de preto” e “isso é coisa de nordestino”, não necessariamente ditas a mim. Na maioria das vezes que me vi alvo desse tipo de preconceito, foi depois de dizer que sou pernambucana e ter de ouvir “Ah, mas você é diferente”. Não percebiam que isso pode ser até mais ofensivo. Mas não me ofendi, não sou de melindres e tentei discernir entre rir quando era só gracejo – porque, sim, se fazem piadas e por gente que é gente, não semideuses – e me indignar quando era só burrice. E o que dizer de outros clássicos como “isso é coisa de viado”, “isso é coisa de gaúcho”, “isso é coisa de macumbeiro”, “isso é coisa de evangélico”, “isso é coisa de judeu”, “isso é coisa de argentino”, isso é coisa de caipira” e tais?
Garota idealista e rebelde, levei só alguns meses para entender, dentro da Juventude Trotskista abrigada no PT, que o comunismo combatia Deus para se colocar no lugar dele na figura do presidente do partido, o ente que deveria substituir a sociedade. Na versão atual da esquerda que se ramificou em tantas frentes, o combate-fetiche à “opressão judaico-cristã” (aquela que nos salva pela culpa, e não da culpa que a esquerda transfere do indivíduo – a minoria mais minoritária que elas não toleram – para o capitalismo e a sociedade burguesa-patriarcal e, assim, esvaziar o indivíduo da responsabilidade que ele tem de ter sobre si e passar à tutela das bandeiras vermelhas) quer somente substituir essa opressão pelo patrulhamento-pega-mata-e-come.
Para isso, tenta penetrar nossas consciências pelo confinamento da linguagem ao tatibitate ideológico do miserável politicamente correto; invadir nosso banheiro e xeretar o armarinho; o feminismo inspirado nisso aí quer violar nossa cama para saber quem come quem (desculpem-me o grafismo, mas tem hora que uma linguagem com mais pegada é do que precisamos) e nossa cozinha para saber quem vai lavar a louça.
É asfixiante, é emburrecedor, é chato, é triste.
Quero o claustro do desejo, como dizia Nelson Rodriques (minha paixão mal-resolvida, daquelas que, passando, ficam); quero o direito ao recato e à nudez como escolhas pessoais, não bandeiras que manipulam a individualidade fingindo que a arejam; quero um pouco de bactérias, o extermínio total delas na água puríssima e na comida hiper-super-megassaudável me deixa doente; quero a reflexão antes da ação; quero a coragem de homens e mulheres íntegros porque se apresentam estilhaçados em dúvidas, hesitações, paixões desorganizadas, amores que erraram de coração, receios e a serenidade e a força de gente que sabe que a vida é assim mesmo, vivida entre o erro e a vontade de acertar, gente que falha falhando, e não em reconhecer que errou. Pois foi o que Waack fez, reconheceu a falha. Basta de semideuses: Fernando Pessoa me socorre e pergunta comigo “onde há gente nesse mundo?”.
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