domingo, 12 de novembro de 2017

Valentina de Botas: Fernando Pessoa e William Waack
Ninguém conseguiria ser racista e não se descoberto ao longo de mais de 40 anos de atuação pública
Não conheço a legislação, mas não creio que seja crime de racismo ou algo assim se alguma dessas afirmações for feita a alguém que não pertença ao grupo citado e o que as pessoas dizem em privado não deveria ser de conhecimento público numa sociedade em que a consciência não estivesse sitiada. William Waack vai ser condenado no tribunal da santa inquisição patrulheira não porque falhou, mas por sua intolerável independência. Arde na fogueira da hipocrisia nos discursos politicamente corretos de ingênuos e de oportunistas, todos semideuses que aproveitam para intimidar quem ainda é apenas gente. Aos doentes ideológicos, esclareço que não estou relativizando o racismo, estou dizendo que ninguém conseguiria ser racista e não ser descoberto ao longo de mais de 40 anos de atuação pública; a coisa transpiraria em alguma linha dos textos magistrais e de livros essenciais de Waack, em alguma fala de concorridas palestras que ele faz. Simplesmente, Waack não é racista, apesar da frase infeliz, porque uma frase não define uma personalidade e não resume uma trajetória de décadas. Eis a oportunidade que certa indestrutível metafísica esquerzoide procura para lançar mais um na fogueira santa; uma doxa patife que gruda na pele e no cabelo; mete-se embaixo das unhas; irrita as mucosas; alcança os ossos; confunde o juízo. Já é institucional, oficial, legal, ampla como a xaropada que a consubstancia.
Garota idealista e rebelde, levei só alguns meses para entender, dentro da Juventude Trotskista abrigada no PT, que o comunismo combatia Deus para se colocar no lugar dele na figura do presidente do partido, o ente que deveria substituir a sociedade. Na versão atual da esquerda que se ramificou em tantas frentes, o combate-fetiche à “opressão judaico-cristã” (aquela que nos salva pela culpa, e não da culpa que a esquerda transfere do indivíduo – a minoria mais minoritária que elas não toleram – para o capitalismo e a sociedade burguesa-patriarcal e, assim, esvaziar o indivíduo da responsabilidade que ele tem de ter sobre si e passar à tutela das bandeiras vermelhas) quer somente substituir essa opressão pelo patrulhamento-pega-mata-e-come.
Para isso, tenta penetrar nossas consciências pelo confinamento da linguagem ao tatibitate ideológico do miserável politicamente correto; invadir nosso banheiro e xeretar o armarinho; o feminismo inspirado nisso aí quer violar nossa cama para saber quem come quem (desculpem-me o grafismo, mas tem hora que uma linguagem com mais pegada é do que precisamos) e nossa cozinha para saber quem vai lavar a louça.
É asfixiante, é emburrecedor, é chato, é triste.
Quero o claustro do desejo, como dizia Nelson Rodriques (minha paixão mal-resolvida, daquelas que, passando, ficam); quero o direito ao recato e à nudez como escolhas pessoais, não bandeiras que manipulam a individualidade fingindo que a arejam; quero um pouco de bactérias, o extermínio total delas na água puríssima e na comida hiper-super-megassaudável me deixa doente; quero a reflexão antes da ação; quero a coragem de homens e mulheres íntegros porque se apresentam estilhaçados em dúvidas, hesitações, paixões desorganizadas, amores que erraram de coração, receios e a serenidade e a força de gente que sabe que a vida é assim mesmo, vivida entre o erro e a vontade de acertar, gente que falha falhando, e não em reconhecer que errou. Pois foi o que Waack fez, reconheceu a falha. Basta de semideuses: Fernando Pessoa me socorre e pergunta comigo “onde há gente nesse mundo?”.

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