terça-feira, 14 de novembro de 2017

Estratégia do PSDB se aproximar do PMDB equivale a #DateRuim
Celso Rocha de Barros - FSP
Surpreendentemente, a estratégia dos tucanos de apostar que não seriam traídos pelo PMDB, que havia acabado de trair o PT, deu errado. Por ordem de Michel Temer, Aécio Neves derrubou o presidente interino do PSDB, Tasso Jereissati, que vinha tentando distanciar os tucanos do governo federal.
Em entrevista recente à BBC, o filósofo Marcos Nobre disse que Aécio passaria a desempenhar o papel que foi de Eduardo Cunha. Ao menos no que se refere ao papel de derrubar os aliados que o PMDB trai, foi o que se viu na semana passada.
É a maior crise da história do PSDB, e tem uma chance razoável de acabar em cisão. Dependendo de como for conduzida a eleição para a presidência da legenda, é bem possível que o grupo perdedor se retire do partido. Para onde irão os dissidentes, se os governistas forem vitoriosos? Suspeito que Luciano Huck esteja prestes a receber de presente aliados de peso.
João Doria, a propósito, apoiou Aécio e Temer. Para quem não se lembra dele, Doria foi um sujeito que foi presidenciável mais ou menos pelo tempo que durou a moda do fidget spinner, aquele brinquedinho de rodar no dedo. Outro dia desses matou o serviço para ir no congresso do MBL. Rapaz, se você prefere ir no congresso do MBL a ir trabalhar, você deve odiar de verdade seu emprego.
A crise política dos últimos anos colocou os piores partidos políticos do Brasil no poder. PT e PSDB foram, de longe, as melhores legendas do período democrático. Representavam interesses claramente distintos, tinham ideologias diferentes, mas convergiam para o centro; copiavam os melhores programas um do outro, aprendiam um com o outro, e respeitavam os resultados das eleições quando perdiam. Não teríamos os esforços de combate à corrupção recentes sem o jogo de denúncias e contradenúncias que tucanos e petistas jogaram durante mais de 20 anos.
Mas, até por serem os cabeças de chapa nas eleições presidenciais, PT e PSDB sempre estiveram diante dos holofotes e pagaram o preço por isso. Os escândalos de um são enfaticamente denunciados pelo outro, e cada um mantém a memória dos escândalos passados do outro. Um escândalo com Lula ou Aécio gera muito mais interesse público do que o 20º escândalo envolvendo o PMDB ou os outros partidos especializados em vender apoio para quem vencer a presidencial. Ninguém espera nada dessa turma.
E nem PT nem PSDB podem denunciar o PMDB ou o Centrão com o mesmo entusiasmo que denunciam um ao outro. Os dois sabem que, se vencerem a eleição presidencial, precisarão do apoio da turma de sempre para conseguir maiorias parlamentares. A tentativa da direção do PT de se aproximar dos partidos que votaram a favor do impeachment não é masoquismo: dois terços dos congressistas votaram para derrubar Dilma. Se não houver uma inesperada modificação na relação de forças no Congresso, o vitorioso de 2018 precisará conversar com gente que apoiou Temer, qualquer que seja sua preferência ideológica.
Ao longo dessas duas décadas, torcemos para que PT e PSDB eventualmente esvaziassem essas máquinas de picaretagem. Perdemos. Nesses últimos dois anos, o que vimos foi a derrota de nossas duas legendas mais ou menos modernas diante do que tínhamos de mais atrasado.

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