terça-feira, 14 de novembro de 2017

Análise: Expulsão do governo seria derrota para o PSDB
Partido perderia chance de reencontrar discurso ético com vista às eleições de 2018
Silvia Amorim - O Globo
Se há algo em que cabeças brancas e pretas estão de acordo no PSDB é que uma expulsão do partido do governo Temer seria o pior dos cenários hoje para o tucanato. Ela não deixaria vencedores e vencidos, mas apenas derrotados — tanto os que pregam o desembarque quanto os que sempre defenderam a permanência.
A explicação é simples. A razão maior do movimento de tucanos pelo afastamento do PSDB do governo Temer é recuperar a credibilidade do partido para a próxima eleição. A ruptura com "os caras" do Planalto daria ao PSDB a chance de se reencontrar com o discurso ético, perdido desde que o então presidente nacional da sigla, Aécio Neves, foi flagrado pedindo R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista. É isso com que sonham todos os tucanos que enfrentarão as urnas em 2018, como o governador Geraldo Alckmin, principal nome do PSDB à Presidência da República.
O problema é que um pé na bunda público vindo de Temer neste momento bagunçaria todo esse enredo e, portanto, não interessa nem aos que tanto desejam estar longe do PMDB. Afinal, o objetivo primordial de tanto barulho no tucanato — resgatar a narrativa eternizada por Franco Montoro na fundação do partido "Longe das benesses do poder e perto do pulsar das ruas" — se tornaria fumaça.
"Humilhação" é a palavra mais dita hoje por tucanos quando incitados a calcular os efeitos para a imagem do partido de uma saída pela porta dos fundos, para usar a expressão mais corrente hoje no tucanato para referir-se a um desembarque pelas mãos de Temer.
— Tem uma grande diferença entre pedir demissão e ser demitido, certo? É a mesma coisa com a situação do PSDB — resumiu uma liderança do partido em São Paulo.
Por motivos óbvios, a alternativa "ser saído" também não faria vencedores na turma dos que sempre defenderam ficar no governo. A retirada, independentemente da forma como se daria, representaria o afastamento desse grupo político da máquina pública e, consequentemente, o fim de todos os benefícios que ela oferece.
Quem viu os resultados da pesquisa sobre a imagem do partido concluída há poucas semanas diz que a situação do PSDB é de doente terminal, cuja única alternativa é uma terapia de choque. É preciso convencer seu eleitorado, hoje em litígio com a legenda, que uma refundação devolveria valores abandonados pelo caminho, como a moralização da política e o compromisso com o interesse público. Há quem avalie ainda que, sem uma punição a Aécio, não haveria ganhos significativos de imagem.
O discurso do senador mineiro na convenção do PSDB em Minas Gerais, no sábado passado, deixou claro que a saída do PSDB do governo Temer é questão de tempo. A dúvida que fica é se, quando ela acontecer, ainda servirá para alguma coisa ou não ao partido.

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