quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Em 20 anos, patrimônio do deputado Jorge Picciani cresceu 893%
Leandro Resende - FSP
O patrimônio do deputado estadual Jorge Picciani (PMDB-RJ) evoluiu de forma considerável ao longo das últimas duas décadas – e sempre à medida em que ele se tornava um dos políticos de maior destaque no Rio de Janeiro.
Entre as eleições de 1994 e 2014, a alta no patrimônio do atual presidente da Assembleia Legislativa (Alerj) foi de 893%. Em 1994, em valores já corrigidos pelo IPCA, Picciani declarou ao TRE-RJ que possuía R$ 1.237.470,49 em bens. Vinte anos depois, em 2014, o valor declarado (também já corrigido pelo IPCA) foi de R$ 12.284.013,21. Se desconsiderada a correção, a evolução patrimonial teria sido ainda maior: de 4.370%.
Jorge Picciani é alvo da ‘Operação Cadeia Velha’ deflagrada na manhã desta terça-feira (14) e teve sua prisão preventiva pedida pelo Ministério Público Federal. Ele e outros dois parlamentares (Paulo Melo e Edson Albertassi, ambos do PMDB) são investigados por corrupção, associação criminosa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Felipe, filho de Picciani, é alvo de pedido de prisão temporária. Em nota, Picciani afirmou que seu patrimônio é “absolutamente compatível” com a renda oriunda de suas empresas. O texto diz, ainda, que sua família atua “há 33 anos no ramo da agropecuária”. Leia a íntegra aqui. Veja aqui a nota enviada por Paulo Melo.
Picciani é deputado estadual do Rio desde 1990, tendo sido reeleito em todos os pleitos exceto em 2010, quando tentou, sem sucesso, uma vaga para o Senado. Atualmente, é presidente da Alerj pelo sexto mandato. De acordo com o MPF, “Picciani é imprescindível na organização criminosa (sob investigação), pelo expressivo poder político e influência sobre outros órgãos estaduais”.
Em todas as vezes que concorreu a um cargo público, Picciani declarou bens à Justiça Eleitoral. De acordo com a legislação vigente, as declarações são feitas pelo próprio candidato e não necessariamente refletem o que foi declarado no imposto de renda enviado à Receita Federal. A Lupa obteve todos os dados para esta reportagem junto ao Tribunal Regional Eleitoral do Rio. A imagem a seguir foi retirada dos arquivos do TRE-RJ e mostra a declaração mais antiga de bens feita por Jorge Picciani – a de 1994.
picciani 1994
Em 1994, quando se reelegeu deputado pela primeira vez, ele tinha três carros: um Santana, um Monza e uma pick-up Toyota. Entre suas propriedades, havia dois apartamentos na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, um terreno no bairro de Anchieta, na Zona Norte do Rio, uma casa em Cabo Frio, na Região dos Lagos, e uma propriedade de 168 hectares em Rio das Flores, no Sul do estado.
Em 2014, o patrimônio de Picciani se diversificou. A Agrobilara, empresa agropecuária da família, passou a responder por cerca de 78% de seus bens. “O aumento do patrimônio de Picciani é quase todo na aquisição de ações de empresas agropecuárias”, afirma o Ministério Público Federal. No lugar dos quatro imóveis declarados em 1994, apenas um foi mencionado 20 anos depois: uma casa em Jacarepaguá, na Zona Oeste da capital fluminense, no valor de R$ 1,5 milhão.
Veja a seguir todos os documentos oficiais obtidos pela Lupa juntou ao TRE-RJ:
Declaração de bens de 1994: parte 1 parte 2.
Declaração de bens de 1998: parte 1 parte 2.
Declaração de bens de 2002: parte 1; parte 2 e parte 3.
Declaração de bens de 2006.
Declaração de bens de 2010.
Nota 1: Para fazer a comparação do que foi declarado, a Lupa usou o mês de agosto de cada ano eleitoral como referência e submeteu os valores à correção pelo IPCA de outubro de 2017. Agosto foi o mês escolhido porque, em geral, é quando os partidos e os candidatos devem registrar suas candidaturas na Justiça eleitoral, apresentando suas declarações de bens.
Nota 2: A declaração de bens de 1990, ano em que Picciani se tornou deputado estadual pela primeira vez, não foi encontrada.
Nota 3: A declaração de bens de 1994 foi feita em UFIR (Unidades Fiscais de Referência). Para convertê-la, a Lupa contou com o apoio de técnicos da Receita Federal.

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