2014 foi o ano em que vivemos as novidades que definirão os rumos do século
Luiz Felipe de Alencastro
Dentre os acontecimentos e revelações marcantes de 2014, três se
destacam pelas consequências que terão ao longo do século 21. O primeiro
é a importância da espionagem eletrônica e dos ciberataques lançados
por governos, empresas e hackers.
No passado mês de fevereiro, a invasão da Crimeia pela Rússia mostrou
que as operações de ciberguerra estão efetivamente integradas ao arsenal
militar das grandes potências. Neste mês de dezembro, os estragos do
inédito ataque à firma Sony revelaram outro aspecto do problema.
Quer tenha sido perpetrado pela Coreia do Norte, como acusou o
presidente Obama, ou desencadeado por hackers a serviço de outros
interesses, o ciberataque à Sony ilustrou a vulnerabilidade da teia
digital americana às investidas externas.
Grandes e médias empresas, países visados e menos visados, agora já sabem: a cibersegurança conta tanto quanto a cotação na bolsa ou os porta-aviões.
O segundo fato capital do ano foi a consagração da China como a maior potência mercantil do planeta. Publicado no último mês de abril, um estudo do banco londrino Standard Chartered sublinhou a nova realidade geopolítica.
Correspondendo a 11,5% do comércio mundial e a 47% do seu próprio PNB,
as trocas externas da China a transformaram numa megapotência mercantil.
No começo do século 20, o império britânico granjeava de um peso
similar ao da China atual no comércio mundial.
Porém, antes disso, os britânicos haviam derrotado a França (em
Trafalgar e Waterloo), a Rússia (na Crimeia), a China (na guerra do
Opium) e abocanhado a Índia (em 1858), impondo sua lei em todos os
mares. Quantas batalhas e quais zonas de influência Pequim deverá ganhar
para consolidar seu poderio no século 21?
O terceiro dado relevante de 2014 terá sido a divulgação, no mês de
agosto, de um relatório do UNICEF (órgão das Nações Unidas dedicado à
infância) sobre a pujança do crescimento demográfico africano.
Em 1950, a África continha apenas 9% da população mundial. No final do
século 21, a proporção será de 40%. Na mesma altura, perto da metade das
crianças e adolescentes menores de 18 anos será africana.
Como explicita o relatório do UNICEF, retomado pela "Economist",
"o futuro da humanidade será crescentemente africano". Pelas projeções
dos dados vê-se também que a língua portuguesa será cada vez mais falada
na África onde viverá a maioria dos lusófonos no final do século.
Este é o ponto que faz toda a diferença entre os acontecimentos
mencionados acima. Virado para os países africanos, tendo a maior
população de afrodescendentes vivendo fora da África, contando com mais
embaixadas nas capitais africanas do que nas capitais latino-americanas,
o futuro do Brasil também será crescentemente africano.
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