Reinaldo Azevedo - VEJA
E a
Petrobras divulgou, na calada da noite, o seu balanço trimestral. Sem
incorporar as perdas decorrentes da corrupção. Sem pôr na conta a
roubalheira, a estatal registrou lucro de R$ 3,087 bilhões no terceiro
trimestre do ano passado, uma queda de 28% em relação ao mesmo período
do ano anterior. Entre janeiro e setembro, o ganho acumulado foi de R$
13,4 bilhões, recuo de 22% ante o ano anterior.
E as safadezas? O documento, assinado
por Graça Foster, explica: “Concluímos ser impraticável a exata
quantificação destes valores indevidamente reconhecidos, dado que os
pagamentos foram efetuados por fornecedores externos e não podem ser
rastreados nos registros contábeis da companhia”.
E por que divulgar um balanço no qual
ninguém acredita? A empresa explica: “A divulgação das demonstrações
contábeis não revisadas pelos auditores independentes do terceiro
trimestre de 2014 tem o objetivo de atender obrigações da companhia em
contratos de dívida e facultar o acesso às informações aos seus públicos
de interesse, cumprindo com o dever de informar ao mercado e agindo com
transparência com relação aos eventos recentes que vieram a público no
âmbito da Operação Lava-Jato”.
O que se estima é que a empresa teria de
incorporar uma perda de US$ 20 bilhões — ou R$ 52 bilhões. Sabem o que
isso significa? Praticamente a metade do que ela vale hoje na Bolsa de
Valores — R$ 107 bilhões no começo deste mês.
Dilma comandou nesta terça, como se
sabe, a maior reunião ministerial do planeta. No discurso, ela disse não
haver contradição entre o que diz e faz. Num grupo de 192 palavras,
repetiu “Petrobras” oito vezes, segundo ela, a “mais estratégica empresa
do Brasil”. Defendeu que se investiguem as irregularidades, mas sem
enfraquecer a estatal. E seguiu com outras platitudes.
Enquanto a governanta, em suma,
anunciava amanhãs sorridentes, a Petrobras, depois de 12 anos sob os
cuidados da companheirada, é obrigada a publicar um balanço na calada da
noite, sem auditoria, no qual ninguém acredita. É a suprema
desmoralização.
Que ironia! Houve um tempo em que o PT
fazia terrorismo eleitoral, acusando os adversários de querer vender a
Petrobras, o que sempre foi mentira. Se a estrovenga fosse posta à venda
hoje, haveria o risco de ninguém querer comprar…
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