Petrobras divulga balanço do 3º trimestre sem calcular perdas com corrupção
Estatal registrou lucro de R$ 3 bilhões, uma queda de 38% em relação ao trimestre anterior
O Globo
A Petrobras divulgou na madrugada desta quarta-feira seu
balanço financeiro do terceiro trimestre do ano passado sem incluir as
perdas contábeis referentes a desvios por corrupção no âmbito da
Operação Lava-Jato. Em fato relevante enviado à CVM, a Petrobras disse
que não conseguiu determinar um critério para calcular o pagamento de
propina, como estabelecer um percentual médio para somar as propinas
pagas nos projetos que foram alvo de corrupção. E que, por isso, disse a
estatal, vai buscar outros critérios que atendem às exigências da CVM e
da SEC para calcular as baixas contábeis.
Sem
as perdas contábeis, a estatal registrou lucro de R$ 3,087 bilhões no
terceiro trimestre do ano passado, uma queda de 38% em relação ao
trimestre anterior. Na comparação com o mesmo período de 2013, o recuo
foi de 9%. Entre janeiro e setembro, o ganho acumulado foi de R$ 13,4
bilhões, valor 22% menor que o registrado no ano anterior. A empresa
atribuiu o resultado pior no trimestre ao aumento dos custos
operacionais, principalmente por causa da construção das refinarias
Premium I e Premium II.
"Concluímos ser impraticável a exata quantificação destes
valores indevidamente reconhecidos, dado que os pagamentos foram
efetuados por fornecedores externos e não podem ser rastreados nos
registros contábeis da companhia", diz texto assinado pela presidente da
Petrobras, Graça Foster.
"A divulgação das demonstrações contábeis não revisadas
pelos auditores independentes do terceiro trimestre de 2014 tem o
objetivo de atender obrigações da companhia em contratos de dívida e
facultar o acesso às informações aos seus públicos de interesse,
cumprindo com o dever de informar ao mercado e agindo com transparência
com relação aos eventos recentes que vieram a público no âmbito da
Operação Lava-Jato", diz o comunicado divulgado pela estatal.
"A companhia entende que será necessário realizar ajustes
nas demonstrações contábeis para a correção dos valores dos ativos
imobilizados que foram impactados por valores relacionados aos atos
ilícitos perpetrados por empresas fornecedoras, agentes políticos,
funcionários da Petrobras e outras pessoas no âmbito da Operação
Lava-Jato", acrescenta a nota.
"Com objetivo de divulgar as demonstrações contábeis do
terceiro trimestre de 2014 revisadas pelos auditores independentes, a
companhia está avaliando outras metodologias que atendam às exigências
dos órgãos reguladores (CVM e SEC)", afirma o texto.
A decisão de publicar o balanço sem as perdas contábeis, foi
tomada na terça-feira após reunião do Conselho de Administração, que
foi presidida pelo ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, e durou mais de
sete horas. A estatal já havia adiado a publicação de seu balanço por
duas vezes.
O valor de baixas contábeis é referente ao que foi pago em
propinas a ex-funcionários da Petrobras, entre eles Paulo Roberto Costa,
ex-diretor de Abastecimento. A Petrobras usou como base os depoimentos
feitos durante a delação premiada à Justiça Federal de ex-funcionários
da estatal e executivos do setor envolvidos no esquema de corrupção no
âmbito da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal (PF).
No fim de dezembro, a Petrobras também proibiu a contratação
de 23 empresas envolvidas em supostos esquemas de cartel para a
obtenção de contratos na estatal. Na lista estão companhias como Andrade
Gutierrez, OAS, Queiroz Galvão, Odebrecht, UTC, Mendes Júnior, entre
outras. A Petrobras também é alvo de diversos processos judiciais nos
Estados Unidos e alvo de investigação da CVM, Securities Exchange
Comission (SEC, a CVM dos EUA) e o Departamento de Justiça dos EUA.
Entre as várias medidas que estão sendo aplicadas pela
companhia no sentido de combater à corrupção, está a criação da
diretoria de Governança da estatal, cujo diretor é João Elek, que tomou
posse semana passada.
ENTENDA O CASO
A publicação
dos resultados do terceiro trimestre do ano passado foi adiada duas
vezes. Inicialmente, a previsão era que o resultado fosse publicado no
dia 14 de novembro. Naquela data, a estatal citou a Operação Lava-Jato
para justificar o adiamento. Uma das dificuldades era justamente a
recusa dos auditores (PricewaterhouseCopers, a PwC) em aprovar os
resultados financeiros. A Petrobras, na época, adiou o anúncio para o
dia 12 de dezembro, que foi novamente postergado para fins de janeiro
sob o argumento de que seria difícil calcular os valores pagos em
corrupção para dar a baixa contábil em seus ativos. Na lista, estão
projetos como a refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, e o
Comperj, no Rio.
No dia 12 de dezembro, a Petrobras divulgou apenas algumas
informações sobre o seu resultado do terceiro trimestre que não seriam
afetadas pelas baixas contábeis. Entre janeiro e setembro do ano
passado, o endividamento líquido da empresa somou R$ 261,445 bilhões,
uma alta de 35% em relação ao mesmo período do ano anterior. A receita
de vendas, por sua vez, subiu 13%, para R$ 252,221 bilhões nos primeiros
nove meses do ano passado. A produção no período subiu 3%, para uma
média de 2,627 milhões de barris por dia.
No dia 29 de dezembro, a empresa havia informado que a
divulgação dos resultados até o fim de janeiro visava atender a suas
obrigações com os credores donos de títulos emitidos pela estatal no
exterior. Assim, com a divulgação dos resultados até o fim deste mês sem
o aval da PwC, a Petrobras consegue evitar o vencimento antecipado de
sua dívida pelos credores, o que, segundo alguns analistas, a colocaria
em “calote técnico”.
No primeiro semestre do ano passado, a Petrobras acumulou um
lucro líquido de R$ 10,4 bilhões, inferior aos R$ 13,8 bilhões em igual
período de 2013. Em 2014, a estatal se limitou a informar que estava
implementando uma série de ações para preservar o caixa da companhia,
que no fim de setembro era de R$ 62,4 bilhões. Além disso, a Petrobras
informou à época que, com o preço do petróleo em torno de US$ 70 por
barril e taxa de câmbio em torno de R$ 2,60, não teria necessidade de
captar recursos junto ao mercado em 2015. Ontem, a cotação do barril do
tipo Brent fechou a US$ 48,16.
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