Novos problemas com o Enem
O Estado de S.Paulo
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) voltou a apresentar problemas de vazamento de questões pelo terceiro ano consecutivo. Desta vez, o incidente ocorreu em Fortaleza, onde 14 questões da prova de 2011 foram usadas dez dias antes num simulado aplicado a 639 estudantes por uma escola particular - o Colégio Christus. Pelas redes sociais, circulam informações de alunos de outras escolas que também teriam obtido previamente as perguntas do Enem. Com 180 questões e uma redação, a prova foi aplicada no último fim de semana e teve a participação de 4 milhões de estudantes. As notas serão utilizadas para selecionar 260 mil vagas em universidades. Os resultados do Enem são usados pelos colégios para autopromoção.
Como é candidato a prefeito de São Paulo, desta vez o ministro da Educação agiu rapidamente. Antes que o Ministério Público tomasse a iniciativa de pedir a anulação da prova e a Justiça começasse a conceder liminares a estudantes que se sentiram prejudicados, como ocorreu nos dois últimos anos, Fernando Haddad determinou que os 639 alunos do Colégio Christus façam nova prova nos dias 28 e 29 de novembro - quando ela será aplicada a presidiários de todo o País - e acionou a Polícia Federal.
As autoridades da área da educação não acreditam que o vazamento tenha ocorrido na gráfica que imprimiu a prova. Elas alegam que as questões vazadas já haviam sido utilizadas num pré-teste realizado no ano passado. Para definir as questões de cada versão do Enem, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) costuma testar, em colégios sorteados, centenas de questões. O pré-teste também permite ao MEC comparar os graus de dificuldade da prova entre um ano e outro. Formuladas por docentes contratados pela Fundação Cesgranrio e pelo Centro de Seleção e Promoção de Eventos da UnB, essas questões fazem parte de um banco com 20 mil perguntas. Um dos estabelecimentos selecionados para o último pré-teste foi o Colégio Christus.
Na ocasião, foram distribuídos 16 cadernos de questões. Após a aplicação, eles foram recolhidos, levados para Brasília, corrigidos e incinerados. Segundo o ministro da Educação, nenhum caderno foi extraviado. Em entrevista coletiva, Haddad afirmou que funcionários do Colégio Christus teriam subornado um fiscal do Inep por ocasião do pré-teste e copiado o caderno. Independentemente da suspeita do ministro, os especialistas em educação alegam que os sucessivos problemas de vazamento das questões do Enem decorrem da inépcia com que o MEC vem reformulando a função dessa prova. Previsto pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, o Enem foi criado em 1998, no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, com o objetivo de medir a qualidade do ensino médio. Era, basicamente, um mecanismo de avaliação. Em 2009, durante o segundo governo do presidente Lula, o MEC passou a usar os resultados da prova para classificar os vestibulandos das universidades federais. Com isso, o Enem se transformou num vestibular nacional unificado. Para os pedagogos, a partir do momento em que o governo converteu a expansão das universidades federais em bandeira política na eleição presidencial de 2010, Haddad teria tomado medidas equivocadas, implementadas às pressas.
Além de considerar o banco de 20 mil perguntas pequeno demais, tal a magnitude que o Enem alcançou, os especialistas lembram que a direção do Inep foi trocada três vezes nos dois últimos anos e acusam o MEC de açodamento. Para Tufi Machado Soares, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora e considerado um dos principais especialistas em avaliação do País, a mudança da função do Enem só deveria ter sido iniciada depois que o Inep tivesse um banco com pelo menos 10 mil questões por disciplina. "O problema foi a pressa. A mudança no Enem deveria ter levado de três a quatro anos. Se o banco de perguntas fosse maior, não haveria a necessidade de testar questões em um ano para aplicá-las já no outro", diz Soares.
Nenhum comentário:
Postar um comentário