A porteira da corrupção
FSP
SÃO PAULO - Orlando Silva foi o quinto ministro a cair por suspeita de irregularidades. E muito provavelmente virão o sexto e o sétimo. A corrupção, que já está, em algum grau, inscrita na natureza humana, encontra no Brasil um sistema político que a favorece, a tal da porteira fechada de que falam os jornais.
Como mostra Jerome Barkow, no clássico "The Adapted Mind", três traços psicológicos -busca por status, nepotismo e capacidade de formar alianças- estão na origem da política partidária e da corrupção.
Indivíduos buscam sempre as melhores condições de vida para si e para seus filhos. Com o advento da agricultura, tornou-se possível gerar riquezas que podiam ser transmitidas a familiares. Para fazê-lo, porém, era preciso conseguir a ajuda de não parentes. E aqui vale citar Barkow: "Se essa análise é correta, pais se punham a estabelecer trocas sociais com outras pessoas, na verdade organizando uma conspiração política para garantir que seus filhos e os de seus parceiros obtivessem posições de poder".
As sociedades se sofisticaram e desenvolvemos uma cultura protorrepublicana que nos faz condenar nepotismo e corrupção. O problema com a cultura é que ela nem sempre consegue sobrepor-se a nossos pendores mais primitivos. Precisa de uma ajudinha das instituições, e é aí que o Brasil emperra.
Um dos principais focos de problemas aqui são as indicações para cargos políticos, que possibilitam esquemas como o do PC do B. Segundo estudo da OCDE, os postos de livre nomeação na esfera federal no Brasil chegam a 22 mil, contra 7 mil nos EUA e 780 na Holanda.
Assim, apenas reduzir de milhares para centenas esses cargos já representaria uma revolução administrativa (o funcionário concursado é mais competente que o apadrinhado) e política (governo e partidos teriam de negociar outro modo de formar maiorias). Não acaba com a corrupção, mas seria uma bela faxina.
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