Pessimismo vira arma contra chineses
Indústria têxtil traça cenário desfavorável para conseguir convencer o governo a adotar medidas contra asiáticos
Em carta, setor vai dizer que haverá desemprego, queda de faturamento e aumento das importações
AGNALDO BRITO/PEDRO SOARES - FSP
A indústria têxtil adotou as previsões mais pessimistas sobre o destino do setor como principal arma para tentar tirar do governo mais medidas de proteção contra a invasão de importados asiáticos, sobretudo os chineses.
O plano parece que começou a funcionar. Após encontro na terça-feira passada com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em São Paulo, representantes da indústria acham que enfim conseguiram sensibilizar o governo para os riscos de uma crise que possa destruir o setor.
A primeira medida em estudo é mudar o regime tributário. A ideia é passar a cobrar um valor fixo por quilo de produto -sistema usado para commodities e chamado de alíquotas específicas- em substituição aos percentuais que incidem sobre o valor de cada item importado.
A mudança está em estudo pela área técnica da Camex (Câmara de Comércio Exterior) e depende da aprovação de um conselho de ministros (Fazenda, Desenvolvimento, Agricultura, Casa Civil e Planejamento) que toma as decisões finais do órgão. A mudança pode estar pronta em três meses.
Há, porém, o receio de que a medida seja contestada na OMC (Organização Mundial do Comércio).
Esses benefícios ainda não estão ligados a contrapartidas. A indústria afirma que manter uma atividade que emprega 1,8 milhão de pessoas já equivale a uma oferta relevante, mas admitiu a possibilidade de investir e empregar mais.
"Não posso dizer agora quanto de emprego vamos gerar, mas o compromisso do setor é continuar investindo e contratando", afirma Aguinaldo Diniz Filho, presidente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção).
O setor prepara uma petição que será entregue ao governo até o fim do mês de janeiro. Nesse documento, a indústria pretende mostrar a queda do nível de emprego, a redução do faturamento, a estagnação das exportações e a escalada das importações. Tudo, de acordo com a indústria, em decorrência da invasão de importados.
A desindustrialização não é um fenômeno que atinge somente o setor têxtil.
A indústria de transformação está em declínio. Em 1986, respondia por 27,2% do PIB. Hoje, são 15,8%.
SEM PROTEÇÃO
Beneficiada por medidas pontuais de antidumping e de desoneração da folha de pagamento -as confecções deixaram de pagar 20% de INSS sobre a folha para pagar 1,5% sobre o faturamento-, a cadeia têxtil diz que somente busca igualdade de condições para competir.
A Abit mostra que o deficit comercial dos têxteis em 2011 vai atingir US$ 4,8 bilhões. Em 2010, foi de US$ 3,6 bilhões. Segundo Diniz, neste ano a produção da indústria têxtil caiu 15%. As confecções recuaram 4%.
Ao mesmo tempo, o varejo têxtil crescerá 5% em volume e 10% em faturamento. "Os produtos da indústria local estão sendo substituídos pelas importações."
O setor dirá ao governo que terá saldo líquido negativo de 15 mil postos de trabalho neste ano. Em 2010, houve a criação de 80 mil vagas.
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