Cristãos perseguidos. O Natal nem sempre é como o homem quer
Marta F. Reis - MSM
Nos países que este ano viveram a “primavera árabe” muitos temem agora o "inverno cristão". Desde março, 100 mil cristãos fugiram do Egito com receio da Sharia, após a eleição de grupos islâmicos fundamentalistas. No Paquistão, um dos países onde a fé cristã tem menos expressão, as missas de Natal vão ser vigiadas por snipers. No Iraque, depois da retirada das tropas norte-americanas, as lojas de famílias cristãs foram saqueadas. No Cazaquistão há uma nova lei que prevê censurar todos os livros sobre religião que entrem no país e pode-se ir preso por rezar em sítios não autorizados. Em ano de revoluções, a liberdade religiosa ainda não é um direito universal.
Nigéria
80 milhões (50% da pop.)
Alerta
Apesar do diálogo entre líderes islâmicos e cristãos (já existe um conselho nacional inter-religiões), continuam as ameaças. Depois do presidente do Conselho Supremo Islâmico desejar aos cristãos um feliz Natal, a Associação Cristã alertou para o risco de atentados em igrejas, ameaça dos Boko Haram, que exigem a imposição nacional da Sharia. Desde 1999, quando a lei islâmica foi adotada em Zamfara (Norte), os confrontos já fizeram milhares de mortos. A Nigéria é hoje o país com mais cristãos da África subsaariana, com a quebra de cultos tradicionais e o crescimento da igreja protestante/pentecostal.
China
67 milhões (5% da pop.)
Emigrar?
Com apenas duas igrejas cristãs oficiais no país, cada vez há mais famílias chinesas a inscrever os filhos em escolas religiosas dos EUA – seis vezes mais em cinco anos, segundo o New York Times. Mas começa a haver sinais de mudança. Há um universo florescente de igrejas protestantes em casas particulares, ilegais. Esta semana a polícia invadiu uma festa da Igreja de Xintan, autoproclamada Vila do Natal, com uma produção de 78 mil milhões de dólares em artigos natalícios. Argumento: são proibidas manifestações religiosas ao ar livre e os budistas queixaram-se. O caso foi denunciado no YouTube.
Índia
31,8 milhões (2,6% da pop.)
Uma questão social
Segundo o estudo recente do think tank Pew sobre o cristianismo, é difícil apurar o número de cristãos na Índia porque os fiéis de extratos sociais mais baixos optam por dizer que são hindus, siques ou budistas para ter acesso a apoios sociais. A perseguição ainda é uma realidade em algumas zonas. Este mês, um tribunal popular em Orissa (Leste) apresentou um relatório que atesta que o governo foi negligente e recusou apoio às vítimas durante os ataques de Kandhamal, em 2008, contra cristãos que recusaram converter-se à fé hindu. Os ataques fizeram 100 mortos e destruíram 295 igrejas.
Indonésia
21,1 milhões (8,8% da pop.)
Frágil numa altura em que a “primavera árabe” começa a ser chamada de "inverno cristão", com a emergência política dos fundamentalistas islâmicos. Com 21 milhões de cristãos, a Indonésia tem mais fiéis que os 20 países da região Médio Oriente-Norte de África. Porém, representam apenas 8% da população e 90% professam o islamismo. Segundo o Fórum de Jacarta para o Cristianismo, até setembro houve 31
incidentes em igrejas, mais que em 2010. Na quarta-feira, uma imagem da Virgem Maria foi decapitada numa capela em Java Central.
Coreia do norte
480 mil (2% da pop.)
Terror
Os dados do Pew indicam 480 mil cristãos no país, mas não é fácil conceber onde. Num trabalho de 2005 de David Hawk para a comissão de liberdade religiosa dos EUA, vários refugiados testemunham que no país se defende que “ter fé em Deus é um ato de espionagem. Apenas Kim-II Sung é deus”. A morte de Kim Jong-il – filho do dito deus –, renovou os apelos à liberdade religiosa. O número de cristãos em campos de trabalho pode chegar a 70 mil. O site da organização North Korean Christians pede a denúncia de perseguição e execuções por crimes como “posse de Bíblia”, como ocorreu em 2009.
Afeganistão
30 mil (0,1% da pop)
Caça às bruxas
São a minoria mais reduzida nesta lista de dez países. No Afeganistão, apenas 0,1% da população professa o cristianismo. Nos sites de organizações contra a perseguição religiosa são denunciados vários casos de exilados afegãos na Noruega ou na Índia ameaçados mesmo no estrangeiro por terem se convertido à fé cristã. No ano passado, um grupo de 150 exilados na Índia denunciou uma ordem de execução de um ministro de Hamid Karzai a novos cristãos denunciados num programa de televisão. A constituição afegã pune com pena de morte o abandono da fé islâmica, a religião do Estado.
Paquistão
2,7 milhões (1,6% da pop.)
Snipers nas igrejas
2.500 polícias paquistaneses foram destacados para proteger a comunidade cristã nas celebrações dos próximos dias. A polícia afirmou que 433 igrejas, sobretudo em torno da cidade de Lahore, vão ter proteção de snipers e entradas controladas num ano em que a tensão religiosa aumentou e pelo menos duas pessoas foram condenadas à morte à luz da Sharia, por blasfêmia. Este mês, o presidente do partido cristão PCC, Nazir Bhatti, pediu à ONU que investigue atentados contra 20 milhões de cristãos afegãos: violações, raptos, execuções de padres e conversões forçadas. (N. do E.: A jornalista se confundiu. A denúncia de Nazir Bhatti diz respeito à perseguição sofrida pelos cristãos paquistaneses. O número dado por Bhatti é bem mais alto que os dados oficiais e os de outras agências, como, por exemplo, a Portas Abertas, que dá um percentual de 2,5% para a população cristã do país).
Cazaquistão
4,1 milhões (26,2% da pop.)
Lei aperta
Apesar de a fé cristã ser a segunda no país (26% para 70% de muçulmanos), a Lei da Religião, adotada em Outubro, restringiu a liberdade religiosa. Para “combater o extremismo”, há agora quotas para missionários e registro de locais de culto. A importação de literatura religiosa será sujeita a censura. A iniciativa nasceu de um relatório do partido no poder, que criticou a importação de cultos não tradicionais (igrejas protestantes, por exemplo) e disse que as pessoas precisavam de ajuda. Este mês, três batistas foram multados por participarem de encontros de oração. Um deles ficou detido por 48 horas.
Egito
4,2 milhões (5,3% da pop.)
Em fuga
Pelo menos 100 mil cristãos deixaram o país desde março, segundo dados da União Egípcia de Organizações de Direitos Humanos. Depois da queda de Mubarak, a eleição da Irmandade Muçulmana e de radicais salafistas alarmou a minoria cristã. Os partidos eleitos querem repor a Sharia como lei nacional. Cynthia Farahat, ativista política no Cairo, diz que, embora a perseguição fosse real e os cristãos considerados “cidadãos de segunda”, os atentados estão mais explícitos. A igreja ortodoxa do Egipto (coptas) fala de 17 milhões de cristãos no país. Oficialmente são 4 milhões.
Iraque
270 mil (0,9% da pop.)
Em extinção
A retirada do Iraque está a acentuar as tensões religiosas, não só entre sunitas e xiitas, mas, num último golpe, também em relação à debilitada minoria cristã. Há lojas saqueadas no norte e estima-se que os cristãos tenham sido reduzidos a um quinto desde 2003. Em Dora (arredores de Bagdá), as mulheres foram obrigadas a cobrir-se. Mais de 40 mil fugiram de bastiões da Al-Qaeda como Mossul. Michael Youash, do Projeto para a Sustentabilidade Democrática do Iraque, alertou já que daqui a 20 anos pode já não haver cristãos no país. No fim do ano passado, um atentado contra uma igreja de Bagdá fez 60 mortos.
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