Sem dinheiro, pais gregos entregam filhos a adoção
Com aumento da pobreza, crescem também casos de crianças abandonadas
País enfrenta grave crise econômica e as medidas de austeridade do governo pesam sobre a classe média grega
DO “GUARDIAN”
Mesmo antes de a crise econômica atingir a Grécia, Dimitris Gasparinatos já encontrava dificuldade de sustentar seus seis filhos e quatro filhas. Sua mulher, Christina, que tentava pagar as contas com o salário mensal de € 960 do marido, estava infeliz e desesperada.
Atolado em dívidas, o casal devia dinheiro para o açougueiro, para o padeiro e para o dono da mercearia -as mesmas pessoas que haviam lhes permitido continuar vivendo em Patras, a oeste de Atenas. Em seu minúsculo apartamento, a família vivia em meio à imundície.
"Psicologicamente estávamos todos em meio a uma bagunça", disse Gasparinatos. "Dormíamos em colchonetes no chão, não pagávamos o aluguel por meses, tínhamos que fazer alguma coisa."
E, então, às vésperas do Natal, aos 42 anos de idade, Gasparinatos decidiu entregar ao Estado a guarda de três de seus filhos e de uma filha.
"Tenho vergonha de dizer, mas cheguei ao ponto de não ter nem € 2 (R$ 4,8) para comprar pão", afirmou. "Não queríamos separar a família, mas achamos que seria melhor para eles, se quatro dos nossos filhos fossem enviados para uma instituição por dois ou três anos."
No dia seguinte, sua mulher, de 37 anos, foi à prefeitura e solicitou que seus filhos fossem "salvos".
"Ela estava visivelmente transtornada", disse Theoharis Massaras, o prefeito da cidade. "Os pedidos de auxílio social dispararam. No ano passado, demos comida para 400 famílias em Patras no Natal. Neste ano, 1.200 pediram ajuda e elas não eram de baixa renda. Muitos tinham bons trabalhos até este ano, quando seus comércios e negócios fecharam", afirmou o prefeito.
Segundo ele, "pedir para recolher crianças foi algo novo". Ele disse não ter podido acreditar quando foi à casa da família e viu as condições de pobreza e sujeira.
Em uma nação orgulhosa como a Grécia, onde a família vem em primeiro lugar, o pedido de ajuda dos Gasparinatos rapidamente virou notícia. Mas testemunhos de ONGs, médicos e enfermeiros sugerem que eles não são um caso único no país.
Enquanto a Grécia se prepara para enfrentar o quinto ano de recessão, a crise se amplia, a pobreza e o desemprego aumentam, crescem as evidências de que a sociedade está aos pedaços.
De bebês recém-nascidos abandonados na porta de clínicas a crianças entregues para doação, a luta da nação para pagar suas contas ganha proporções dramáticas.
Com o avanço da pobreza, 500 famílias recentemente entregaram seus filhos para abrigos da ONG SOS Children's Village, segundo o jornal grego "Kathimerini". Um bebê foi deixado em um berçário, com um bilhete que dizia: "Não voltarei para pegar a Anna. Não tenho dinheiro. Sinto muito. Sua mãe".
"Infelizmente, houve um aumento enorme de famílias passando necessidade", afirmou Dimitris Tzouras, assistente social da organização.
Na semana passada, Gasparinatos recebeu boas novas. Ao saber do caso da família pela TV, a viúva de um magnata doou dinheiro para se mudarem para outra casa.
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