quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Caso PCdoB põe fisiologismo em xeque

O Globo - Editorial

Seis mudanças de primeiro escalão em dez meses de governo têm dimensão de reforma ministerial. Com as exceções de Antonio Palocci — desvio ético — e Nelson Jobim — incompatibilidade de gênios —, os quatro restantes, com a defenestração ontem de Orlando Silva, do Esporte, foram abatidos por evidências de corrupção no entorno e dentro dos próprios gabinetes.
É provável que retorne a discussão sobre se Dilma voltou a usar a vassoura da “faxina”, que tanto melhorou sua avaliação no eleitorado de oposição no Sul/Sudeste. Este debate ao menos já delimitou alguns pontos: a presidente herdou uma equipe montada pelo mentor, Lula, e, se procura não compactuar com “mal feitos”, tem limites.
Afinal, não pode desmontar parte da sua base parlamentar, construída no toma lá dá cá praticado como poucas vezes se viu em Brasília.
Conta ponto a favor da presidente, como no caso dos ministérios dos Transportes (Alfredo Nascimento/PR), Agricultura (Wagner Rossi/PMDB) e Turismo (Pedro Novais/PMDB), o fato de reagir às evidências de que o ministro usava o cargo para irrigar a legenda de dinheiro público e/ou enriquecer correligionários.
Tem comportamento oposto ao de Lula, que, em nome do correto princípio da presunção da inocência, fechava os olhos a atos hediondos de corrupção.
Nestes quase dez meses de gestão Dilma, ficou visível a existência de um mosaico de operações criminosas, contra o interesse do contribuinte: do uso de verbas dos Transportes para financiar caixa dois do PR — além de atrair parlamentares para a legenda — às ligações descabidas de Rossi com pelo menos um fornecedor da Agricultura, até a manipulação de ONGs no desvio de dinheiro público arrancado do Tesouro por emenda parlamentar, no Turismo.
A partir de Brasília, um capilarizado esquema de corrupção aciona vários tipos de gazuas para assaltar o Erário. A situação de Orlando Silva teria ficado insustentável com a decisão do Supremo, terça, de aceitar o pedido da Procuradoria Geral da República para investigá-lo e o antecessor, Agnelo Queiroz, antes também do PC-doB, partido ao qual a Pasta foi cedida na partilha fisiológica.
Queiroz, hoje no PT, governa Brasília. Na verdade, a insustentabilidade dele ficou evidente logo após a revista “Veja” trazer a história do ex-PM João Dias, ex-PC-doB, e, como vários outros “camaradas”, dono de ONG receptadora de dinheiro liberado pelo ministério de Orlando Silva, com a obrigação — denuncia Dias — de pagar um pedágio ao gabinete ministerial.
A partir dali, surgiu uma enxurrada de casos semelhantes, configurando-se o uso do orçamento do Esporte, pasta chave diante dos eventos marcados para o Brasil nos próximos anos, para irrigar de dinheiro sujo as finanças da legenda. Isso no mínimo.
O ministério está desde 2003 sob controle do PCdoB. Houve tempo para a montagem deste enorme sistema de dragagem de dinheiro público. Ele simboliza o fisiologismo com que o lulopetismo governou a partir de 2003 e montou a equipe de Dilma.
Mais uma queda de ministro, pelas mesmas razões de outras três, coloca o fisiologismo em xeque. A sociedade parece ter acordado para os efeitos deletérios dessa maneira de manter-se no poder. E instituições republicanas se mostram mais atentas ao acúmulo de casos idênticos, em que áreas aparelhadas da máquina pública cometem assaltos, à luz do dia, ao Tesouro.
Dilma tem limites, mas a realidade costuma se impor.







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