PC do B triplica filiados com PT no poder
JOÃO DOMINGOS - Agência Estado
A entrada do Partido Comunista do Brasil (PC do B) no século 21 foi marcada pela contradição, a palavra preferida de seus dirigentes quando se referem ao capitalismo, segundo eles "agonizante", ao jogo de poder e aos parceiros das alianças que o levaram para o governo e até lhe reservaram um ministério, o do Esporte. Ministério que na última semana foi alvo de denúncias de irregularidades na distribuição de verbas, aparelhamento por parte de entidades de seu círculo íntimo e supostas cobranças de propinas.
Nesse processo de contradição política e ideológica, ao mesmo tempo em que o PC do B mantinha em seu estatuto a doutrina marxista-leninista (artigo 1.º) como princípio de tudo, adaptava-se rápida e facilmente aos tempos da social-democracia do PT. A mesma social-democracia que usa o "welfare state" (Estado do bem-estar social), sistema criado nos países escandinavos justamente para brecar o avanço das revoluções comunistas.
O estatuto do PC do B mostra que o partido dá importância vital à ocupação dos cargos públicos, o que pode servir de explicação para o aparelhamento dos órgãos que ocupa. Diz o artigo 59.º do documento que os cargos eletivos ou comissionados dos governos dos quais a legenda participe constituem "importante frente de trabalho e está a serviço do projeto político partidário, segundo norma própria do Comitê Central". Os mandatos eletivos alcançados pela legenda do PC do B pertencem ao coletivo partidário soberanamente.
Entre os deveres dos militantes do PC do B, está a obrigatoriedade de destinar, pelo menos, 1% do salário mensal ao partido. Os que detêm cargos eletivos ou em comissão pagam contribuições especiais a serem especificadas pelos órgãos partidários. Embora o PC do B não revele o montante, há a informação de que, nesses casos, pode chegar a 40% do salário.
Ainda na clandestinidade, no fim dos anos 70 e início dos 80, o PC do B atuou dentro do MDB e PMDB, na ala denominada "Movimento Popular".
Depois da redemocratização, tornou-se um parceiro avançado de Luiz Inácio Lula da Silva, tanto nas derrotas quanto nas vitórias do ex-presidente, sempre numa aliança de "apoio crítico". Na base da coligação nas eleições proporcionais - ora com o PMDB, ora com o PT e outras legendas de centro-esquerda -, triplicou sua bancada de deputados desde 1985, ano do registro definitivo do partido.
PC do B expande no Rio hegemonia sobre setor
Partido governa nenhum município fluminense, mas detém cinco pastas de Esporte
Bruno Boghossian - O Estado de S.Paulo
O ministério também destinou R$ 686 mil do Segundo Tempo à Prefeitura de Maricá, município da região metropolitana que teve dois secretários de Esportes ligados ao PC do B nos últimos dois anos.
Volta Redonda, no sul do Estado, recebeu repasses de R$ 3 milhões do programa Segundo Tempo em 2010. O PC do B não tem vínculos com a Secretaria de Esportes do município, mas guarda interesses políticos ambiciosos. Nas próximas eleições, a legenda pretende indicar o candidato a vice na campanha de reeleição do prefeito Antônio Francisco Neto (PMDB). O partido também anunciou que vai pleitear uma pasta na administração municipal.
Silêncio. A direção do PC do B fluminense não se pronunciou sobre a participação do partido em secretarias municipais e sobre os convênios firmados com as prefeituras.
A crise política que envolve o ministro Orlando Silva fez com que integrantes do partido adotassem uma dose extra de discrição e evitassem comentar informações ligadas à pasta do Esporte.
A reportagem do Estado procurou a presidência do PC do B fluminense, mas a secretaria de comunicação do partido no Rio não respondeu às ligações.
A deputada federal Jandira Feghali, única representante fluminense da legenda na Câmara, não quis dar entrevistas.
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