Supremo ordena devassa no Esporte e complica ministro
STF abre inquérito policial para apurar as acusações contra Orlando Silva
Ministro diz que pediu a investigação e que, por isso, não há fato novo; Palácio, porém, acha a sua situação delicada
NATUZA NERY/FELIPE SELIGMAN
DE BRASÍLIA - FSP
O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou ontem uma devassa nos convênios e programas do Ministério do Esporte, complicando ainda mais a situação do ministro Orlando Silva.
O ministro é alvo de inquérito no STF desde a última sexta-feira, data em que recebeu da presidente Dilma Rousseff um voto de confiança para tentar seguir na função. Ontem, porém, o clima começou a mudar.
Isso ocorreu logo após o Planalto receber a notícia de que o tribunal atendeu pedido da Procuradoria-Geral da República e solicitou aos órgãos federais de fiscalização documentos sobre todas as ações do Esporte que estão sob suspeita.
No Planalto, chegou-se a considerar a situação de Orlando perto do insustentável. Não houve, porém, nenhuma definição de seu futuro até a conclusão desta edição.
Até mesmo alguns defensores da permanência do ministro julgavam que uma troca só não teria se viabilizado ainda pela dificuldade de encontrar um sucessor.
Colegas de partido também já falam em tom de desânimo. "Já saiu, né? Se a situação estava difícil, imagine agora", disse Protógenes Queiroz (PC do B-SP), referindo-se à noticia de que o STF autorizou o inquérito.
Um interlocutor da presidente afirmou que Orlando conseguiu na última sexta sobreviver à denúncia do policial militar João Dias Ferreira -que o acusa de desviar recursos de programas do ministério- mas está sendo derrotado pela política.
Essa análise leva em conta três fatores: 1) o ministro não estaria conseguindo reverter a crise; 2) a imprensa continua a noticiar problemas em convênios; 3) sua equipe decidiu partir para cima dos jornais no lugar de admitir erros e adotar providências.
No domingo, Orlando apostava numa agenda positiva para virar o jogo. Decidiu ir à Câmara ontem para tratar da Lei Geral da Copa, mas foi alvejado pela oposição.
Na Câmara, ao comentar a abertura de inquérito, Orlando disse que não há fato novo que altere sua condição de inocente.
A decisão do STF de abrir inquérito para apurar as suspeitas contra Orlando foi tomada na sexta-feira pela ministra Carmen Lúcia.
Ela determinou prazo de dez dias para que o TCU (Tribunal de Contas da União), a CGU (Controladoria-Geral da República) e o ministério enviem os documentos ao STF.
Ao Esporte a ministra ordenou o fornecimento de informações de todos os convênios do Programa Segundo Tempo, que desenvolve atividades esportivas em áreas carentes e o é alvo principal das acusações contra a pasta.
Solicitou ainda que o STJ (Superior Tribunal de Justiça)envie a seu gabinete, em 48 horas, o inquérito contra o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), ex-ministro do Esporte, alvo de investigação da Polícia Federal sobre o mesmo tema.
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu ao STF autorização para interrogar representantes das ONGs, Orlando e Agnelo.
Ministro diz que não há nenhum fato novo no caso
DE BRASÍLIA
O ministro Orlando Silva (Esporte) afirmou ontem que "não há nenhum fato novo" que altere a sua condição de inocente, ao responder sobre o inquérito aberto pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
"Quem solicitou que fosse feita toda a apuração daqueles fatos fui eu. Para mim, não há nenhum fato novo que altere a minha condição de inocente", disse após participar de audiência na Câmara.
O ministro também indicou que não será dele a iniciativa de pedir demissão do cargo por conta das denúncias: "Quem nomeia e exonera ministros é a presidenta da República. A função de ministro de Estado é uma função de confiança. Não é fruto de eleição, é feita de opção do chefe do Poder Executivo".
Ele repetiu que as provas contra ele não apareceram.
O advogado do ministro, Antônio Carlos de Almeida Castro, afirmou que juridicamente o caso é "simples", pois é "inteiramente baseado por recortes de jornais e representações" da oposição: "Não tem nenhuma prova da participação do ministro".
Temer afirma que imagem de Orlando é 'indestrutível'
DE SÃO PAULO
O vice-presidente Michel Temer disse ontem que o ministro do Esporte, Orlando Silva (PC do B), tem uma reputação "indestrutível".
Temer foi questionado sobre carta que Orlando escreveu a seu partido em que diz se sentir "indestrutível", em referência a um texto do poeta Pablo Neruda.
"Acho que ele faz um belíssimo trabalho. A reputação dele, acho que, sem dúvida alguma, é indestrutível", disse Temer.
Em seguida, o vice-presidente ressalvou: "Agora, em questões de governo, é examinar, esperar os acontecimentos para verificar o que o governo vai fazer".
Sobre as novas acusações contra o ministério, o vice disse que a decisão, "até hoje [ontem], é manter" Orlando.
Temer ressaltou que a presidente Dilma defende a presunção de inocência. Ela manteve o ministro sob argumento de que não se condena sem provas.
"Enquanto houver essa presunção, tendo em vista a natural combatividade do ministro Orlando Silva, o jeito é deixá-lo no lugar. Agora, o que o futuro vai dizer, nem eu sei responder."
(RODRIGO VIZEU)
Do Blog:
Todos do governo dizem que Orlandão é inocente, inclusive ele mesmo. Mas a sua bizarra figura fica cada vez mais difícil de ser defendida diante de tantos "causos" cabeludos que pipocam todos os dias na imprensa. De tão honesto, a sua presença no governo do Zagueirão se torna cada vez mais inconveniente e a sua permanência, insustentável.
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