Titular das Cidades é excluído de decisões de sua própria pasta
Negromonte não é convidado para discutir programas do ministério e recebe menos recursos que colegas
Único representante do PP na Esplanada e alvo de acusações, ministro quase perdeu o cargo por pressão do partido
DIMMI AMORA/NATUZA NERY -FSP
O ministro das Cidades, Mário Negromonte, passou a ser tratado na Esplanada dos Ministérios como se fosse um fantasma.
Ele deixou de ser chamado para reuniões sobre os preparativos para a Copa 2014, tem recebido menos recursos do que outros grandes ministérios e não influi mais no desenho dos principais programas da sua área, como o Minha Casa, Minha Vida.
Negromonte nem sequer foi informado quando a presidente Dilma Rousseff convocou três outros ministros para discutir os projetos de transporte associados à Copa, antes do feriado de Sete de Setembro.
A ausência de Negromonte, cuja pasta é responsável por analisar e aprovar essas ações, foi estranhada pelos outros ministros, que viram ali um sinal de esvaziamento do poder do colega, que na época era alvo de várias acusações de irregularidades.
Dias depois, quando as mudanças nos projetos foram anunciadas, Negromonte foi questionado pela imprensa sobre os efeitos das desapropriações para as obras. Ele não soube o que responder.
MINISTRA DE FATO
No programa Minha Casa, Minha Vida, carro-chefe do Executivo, tudo é tratado com a secretária Nacional de Habitação, Inês Magalhães.
Da cota do PT e no cargo desde a gestão Lula, a subordinada de Negromonte atua com amplo aval de Dilma e é vista dentro e fora da pasta como a verdadeira ministra.
Segundo servidores da pasta, ajustes no atual programa de transportes públicos também não são comandados por Negromonte.
Eles são feitos diretamente pela ministra do Planejamento, Miriam Belchior, com funcionários do segundo e terceiro escalões.
Os sinais de desprestígio de Negromonte se refletem também na liberação de recursos. Parlamentares de seu partido, o PP, reclamam que não têm suas emendas liberadas na própria pasta.
Em um levantamento das emendas individuais do Orçamento de 2010 já pagas, o PP aparece atrás do PPS, partido de oposição. Na mais recente leva de emendas pagas, não foram repassados recursos das Cidades aos projetos dos pepistas.
Das seis áreas campeãs em gastos com obras (Transporte, Educação, Cidades, Defesa, Saúde e Integração Nacional), o ministério de Negromonte foi o que menos recebeu dinheiro.
Entre as despesas previstas com obras neste ano (excluídas as dívidas), o Planalto só autorizou o pagamento de 4% do que o ministério previa gastar. A média dos outros cinco é de 12%, e a dos demais ministérios, 7%.
DESPRESTÍGIO NO PP
Negromonte é o único titular do PP na Esplanada e comanda o terceiro Orçamento do governo para investimentos (R$ 7,6 bilhões).
Ele assumiu o cargo por pressão da legenda, mesmo sem contar com o entusiasmo da presidente. Dilma preferia manter Márcio Fortes no posto, mas a sigla preferiu mudar o nome.
Em oito meses de gestão, o ministro quase perdeu o cargo por pressão do próprio partido. O argumento era que ele não representava mais a legenda. A divisão foi contida às pressas quando o PP viu que Dilma poderia repetir o que fez com o PR no caso dos Transportes: trocá-lo por um técnico de sua confiança.
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