Um conselho que Roquinho pediu a Deus
FOLHA DA REGIÃO - EDITORIAL
O deputado biriguiense Roque Barbiere (PTB) não será obrigado a comparecer ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Assembleia Legislativa de São Paulo na próxima quinta-feira. O parlamentar que denunciou - em primeira mão ao Grupo Folha da Região - a existência de tráfico de emendas parlamentares promovido por 30% dos seus colegas, foi apenas "convidado" a dar explicações. Se tivesse sido convocado, teria obrigação de esclarecer tudo e, principalmente, dar nomes dos deputados que estão enriquecendo ilicitamente.
O convite, e não a convocação, é resultado claro de um lobby para colocar panos quentes nas graves afirmações do deputado. Ele disse que de 25% a 30% dos deputados recebem dinheiro em troca da intermediação de recursos do Estado para as prefeituras. De acordo com as denúncias de Roquinho, assim que determinado município é agraciado com o enorme favor, o prefeito trata logo de recompensar o nobre autor da emenda pornográfica com um generoso percentual da verba liberada. Estratégia confirmada pelo secretário e deputado licenciado Bruno Covas (PSDB) que, amedrontado pela repercussão, agora tenta negar o que afirmou.
A argumentação do Conselho de Ética para apenas convidar Roquinho - e não fazer nem isso com Covas - é de uma fragilidade impressionante. A maioria do conselho (composto por nove membros, sete deles governistas) entende que denunciante não deve ser confundido com denunciado. A tática é confundir alhos com bugalhos para protelar e provocar a ineficiência da investigação.
No caso em questão, a denúncia colocou todos os deputados no mesmo balaio - afinal, todos são suspeitos de estar entre os 30% se Roquinho não citar nomes. Diante disso, o Conselho de Ética só terá chance de fazer uma apuração decente se o deputado prestar depoimento. Neste caso, se o denunciante não provar o que disse, por certo os 70% dos colegas que não praticam as tais maracutaias vão sentir a necessidade de, enfim, transformar o denunciante em denunciado por quebra de decoro parlamentar - pode dar até cassação de mandato.
O deputado Roquinho também pode simplificar tudo isso se, gentilmente, aceitar o tal convite e comparecer ao Conselho de Ética - não só para citar dois ou três nomes, mas para revelar toda a extensão do dano, porque segundo ele o número de parlamentares é muito maior que isso: são de 25% a 30% dos deputados. O nobre parlamentar de Birigui continua tendo a oportunidade de detonar uma grande faxina na Assembleia Legislativa. Basta ir lá, contar tudo o que sabe e responder até mesmo perguntas que o Conselho de Ética não quiser fazer.
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