sábado, 22 de outubro de 2011

RUBEM BRAGA

O Pavão

Eu considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d'água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas.
Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade.
Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! minha amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.
Rio, novembro, 1958

Do Blog:
Rubem Braga foi o maior cronista do Brasil.  Escreve simples, textos curtos e com uma carga poética muito grande.  Comecei a ler suas crônicas na escola primária e me encantei com sua capacidade de fazer uma coisa tão cotidiana se tornar tão bela aos nossos olhos. 

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