quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

O IRÃ E A GUERRA

Irã desafia pressão internacional
Najmeh Bozorgmehr e Roula Khalaf

Financial Times
O regime islâmico do Irã provou em suas mais de três décadas no poder que há uma regra chave que ele segue quando se vê diante de ameaças externas ou domésticas: não recuar.
"Se você der um passo para trás diante de poderes arrogantes, isso permitirá que eles deem um passo à frente", já declarou em um discurso o líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei.
A abordagem ficou evidente na repressão brutal pelo Irã aos maiores distúrbios antirregime do país, que tomaram conta do país após a eleição presidencial de 2009. O movimento Verde de oposição foi esmagado e o regime não fez concessões.
Também em seu programa nuclear, o Irã permanece desafiador, absorvendo a lista cumulativa de sanções contra investimentos e transações financeiras que enfrenta, sem qualquer indício de recuo em suas ambições nucleares.
Na última terça-feira (29), Teerã emitiu a mesma mensagem quando manifestantes invadiram a embaixada britânica, a denunciando como sendo um "ninho de espiões", o mesmo termo usado durante a tomada da embaixada americana na revolução de 1979, quando 52 pessoas foram mantidas reféns por 444 dias.
A causa imediata para as tensões foi a decisão do Reino Unido de ir além de seus pares ocidentais e impor sanções ao banco central iraniano, parte de um esforço para intensificar a pressão sobre o Irã devido ao seu programa nuclear.
A resposta de Teerã foi rápida e agressiva: no fim de semana, ele decidiu expulsar o embaixador britânico e rebaixar os laços ao nível de charge d’affaires. Então empunhou uma vara maior com a invasão da embaixada.
Mas o Irã está olhando além do Reino Unido e além das sanções ao banco central. Pela primeira vez, os países europeus estão discutindo a perspectiva de impor um embargo ao petróleo contra o país, visando uma de suas armas mais potentes.
Após o relatório do mês passado pela agência de energia atômica da ONU, que detalhou os esforços anteriores do Irã para militarizar seu programa nuclear, e do aumento da preocupação de que Israel possa lançar ataques militares contra as instalações nucleares iranianas, as potências ocidentais foram estimuladas a agir.
À medida que o programa nuclear de Teerã, que foi ofuscado neste ano pela onda de levantes árabes, retorna ao centro do palco diplomático global, os governantes da República Islâmica estão alertando que estão longe de impotentes.
Nas últimas semanas, altos comandantes da Guarda Revolucionária de elite e do Ministério da Defesa têm alertado repetidamente que são capazes de contra-atacar, graças em parte ao seu arsenal de mísseis.
"Ironicamente, o Irã se tornou ainda mais agressivo sob pressão internacional", diz um ex-alto funcionário. "Saddam Hussein (do Iraque) ou (Muammar) Gaddafi (da Líbia) costumavam abrir as portas aos inspetores ou encerrar as atividades nucleares assim que eram pressionados", acrescentou o alto funcionário. "Mas o Irã não fará o mesmo."
"Eles querem enviar a mensagem de que o aumento da pressão pelos europeus não será sem custo e que o Irã tem meios de retribuir", disse Karim Sadjadpour, o especialista em Irã do Fundo Carnegie para a Paz Internacional.
Por anos, o Irã desdenhou as sanções americanas e europeias contra seu programa nuclear como sendo ineficazes, alegando que elas fortaleciam a República Islâmica ao promover uma maior independência econômica.
Rostam Ghassemi, o ministro do Petróleo do Irã, disse nesta semana que o Irã não teria problemas para vender seu petróleo e prometeu vencer "a guerra econômica contra os países ocidentais".
De fato, o Irã adotou medidas para se proteger. Ele deslocou seus laços comerciais para o oriente. Hoje, cerca de 30% de seu petróleo é vendido na Europa, com grande parte do restante tendo a Ásia como destino.
Mas mesmo um embargo europeu limitado contra o Irã aumentaria a intensidade do confronto para um novo patamar.
Graças a cerca de US$ 80 bilhões em receitas anuais de petróleo, Teerã tem conseguido atenuar o impacto das sanções financeiras. Um relatório deste ano do Fundo Monetário Internacional apontou que a economia iraniana cresceu 3,2% no ano fiscal até março, devido aos preços mais altos do petróleo e a uma recuperação na agricultura.
As autoridades em Teerã apontam para a fragilidade da economia global e para o golpe que ela sofreria com um aumento dos preços do petróleo, de modo que permanecem confiantes de que um embargo ao petróleo permanece uma possibilidade distante.
Mas o Irã sem dúvida está preocupado com o que pode acontecer à frente. E, caso um embargo robusto ao petróleo venha a se tornar realidade, os cálculos de Teerã poderiam mudar.
Outra regra da República Islâmica poderia ser usada: altere seu comportamento apenas quando estiver encurralado e não possa mais seguir em frente. Isso aconteceu durante a guerra Irã-Iraque dos anos 80, quando Teerã aceitou um cessar-fogo para colocar um fim a oito anos de conflito, em resposta à opinião pública negativa e uma queda dramática nos preços do petróleo.
Tradução: George El Khouri Andolfato

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