Putin e Medvedev ignoram denúncias e pedem votos
Enquanto isso, ONG que denunciou violações eleitorais do partido dos líderes é multada
O Globo
MOSCOU - A despeito das inúmeras denúncias sobre fraudes eleitorais que assolam a Rússia às vésperas da eleição parlamentar de domingo, o presidente Dmitry Medvedev disse nesta sexta-feira que os partidos políticos desfrutam de uma “competência livre e equitativa”, mesmo fazendo propaganda para que o governo obtenha a maioria no parlamento. Enquanto isso, uma ONG que denunciou violações eleitorais de seu partido foi multada, sob a alegação de ter desrespeitado a lei eleitoral.
Em um discurso televisionado, Medvedev fez o que pareceu ser um pedido de voto para o partido Rússia Unida, ao qual ele e o primeiro-ministro Vladimir Putin pertencem, e alertou que um parlamento composto por diversos grupos políticos seria incapaz de trabalhar pelo bem do país.
- Teremos um corpo legislativo dividido por conflitos irreconciliáveis, incapaz de tomar uma decisão - algo que, infelizmente aconteceu em nossa história? Ou teremos um corpo legislativo capaz, dominado por políticos, que possa ajudar a melhorar o nível de vida de nosso povo, que será guiado por suas ações pelos interesses dos eleitores e da nação? - indagou.
Putin adotou o mesmo discurso de Medvedev, dizendo que o parlamento pode não conseguir trabalhar de forma efetiva caso seus membros “estejam se socando, puxando o cabelo dos outros, como ocorre em certos países vizinhos”, uma referência à Ucrânia.
Rússia Unida domina a vida política do país e recebeu uma cobertura favorável da televisão nacional, controlada pelo Kremlin. Entretanto, o partido está cada vez mais impopular, sob acusações de respaldar uma burocracia corrupta e é frequentemente chamado de “o partido dos ladrões e vigaristas”.
O centro de pesquisas independente Levada Center estimou na semana passada que o Rússia Unida receberá 53% dos votos, uma quantidade inferior aos 64% recebidos em 2007.
Golos, outra respeitada organização independente de observação, documentou mais de 4.500 violações a leis eleitorais, em sua maioria relacionadas com o partido do presidente e do primeiro-ministro.
No domingo, Putin acusou governos ocidentais de tentar influenciar as eleições através de financiamentos de ONGs russas. Como a Golos recebe fundos dos Estados Unidos e da Europa, a pressão sobre a instituição aumentou. Nesta sexta-feira, a corte e promotores russos sentenciaram que a Golos violou a lei que proíbe a publicação de pesquisas de opinião pública a cinco dias de uma eleição. A ONG recebeu uma multa de 30 mil rublos (cerca de R$ 1.750).
- Eles têm medo de que a Golos conte a verdade. Eles estão preocupados porque não podem nos controlar. Eles podem silenciar a Golos, mas eles não vão silenciar as pessoas que testemunham essas violações todos os dias - afirmou o vice-diretor da organização, Grigory Melkonyants.
Ele insistiu que a Golos vai conseguir continuar com suas atividades, dizendo que os russos têm o direito constitucional de reportar violações. A ONG revelou que planeja enviar três mil ativistas para observar as eleições no domingo. Já o advogado da Golos foi menos otimista:
- Esse poderia ser um caso para fechar a organização. Depende da forma como eles querem usar a lei.
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