domingo, 30 de junho de 2013

Empresas de Eike têm dívida com 11 bancos
Para professor do Insper, problema maior é a incapacidade do grupo de gerar caixa, daí a necessidade de vender ativos
'É como alguém que estoura o cheque especial e agora vende o carro para cobrir o rombo', diz analista
RAQUEL LANDIM - FSP
Os representantes de Eike Batista estão correndo os bancos na tentativa de renegociar as dívidas de curto prazo do "império X", que chegam a R$ 7,9 bilhões, conforme levantamento feito pela Folha nos balanços das empresas do primeiro trimestre.
Isso significa que OGX (petróleo), MMX (minério), LLX (logística), OSX (estaleiro), MPX (energia) e CCX (carvão) precisam pagar ou renegociar todo esse volume de dinheiro até março de 2014. Pelo menos R$ 1,5 bilhão tinha que ter sido equacionado até a sexta-feira passada.
A LLX renovou com o Bradesco um empréstimo de quase R$ 590 milhões que venceu em abril. A empresa diz que está em "negociações avançadas" com Bradesco e BNDES para estender o prazo de pagamento de quase R$ 900 milhões.
As demais companhias não disseram em que ponto está a renegociação das dívidas. Em comunicado ao mercado, o grupo EBX informou que só tem dívidas de longo prazo, mas estava se referindo apenas à holding. O nó está nas empresas, enquanto a holding tem pouca dívida.
Os números ajudam a entender a aflição dos investidores com as companhias de Eike, que sofrem uma crise de confiança e vêm sendo castigadas na Bolsa. Nos últimos 12 meses, as ações das empresas caíram entre 24,6% (MPX) e 85% (OSX).
Se for excluída a MPX, que depois da venda de uma fatia para a alemã E.ON deixou de ter sua dívida consolidada no grupo EBX, o endividamento de curto prazo das empresas cai para R$ 5,6 bilhões.
CREDORES
Para os analistas, a tendência é os bancos não serem tão duros nas negociações, porque têm muito a perder. Os principais credores são Itaú BBA, Bradesco e BNDES, que emprestaram pelo menos R$ 1 bilhão cada um para pagamento no curto prazo.
Em seguida, vem a Caixa, com R$ 750 milhões. As empresas de Eike têm dívidas de curto prazo com 11 bancos diferentes. A distribuição por banco não inclui as dívidas da MMX, única companhia aberta do grupo que não divulga essa informação.
O endividamento de curto prazo das empresas do "império X" representa 33% das dívidas totais do grupo, que chegam a R$ 23,7 bilhões. Cerca de R$ 9 bilhões dos empréstimos de longo prazo foram feitos pelo BNDES.
Para Sérgio Lazzarini, professor do Insper, o problema de Eike não é o tamanho da dívida, mas a incapacidade das empresas de gerar caixa.
"São projetos de infraestrutura de longa maturação, que exigem altos investimentos e não estão produzindo o que se imaginava", disse.
A crise de confiança do grupo começou há um ano, quando um campo de petróleo da OGX frustrou significativamente as expectativas de produção. A partir daí, os investidores começaram a questionar a capacidade do empresário de "entregar".
As dúvidas sobre a OGX contaminaram a OSX, estaleiro criado para produzir as plataformas para a petroleira. Os negócios de Eike são todos interligados, o que significa ganhos de sinergia, mas também rápida deterioração em caso de crise.
QUEIMA DE CAIXA
Com exceção da MMX, todas as outras empresas de Eike "queimaram caixa" no primeiro trimestre, o que significa destruir riqueza. Isso em razão do alto endividamento e/ou porque a operação ainda não consegue produzir o suficiente para fazer frente aos compromissos.
A OGX e a OSX, as duas empresas em situação mais delicada hoje, tiveram geração negativa de caixa de R$ 1,07 bilhão e R$ 399 milhões, respectivamente. Por isso, não basta apenas renegociar as dívidas. Eike também precisar cortar os investimentos e vender ativos para injetar capital nas empresas.
VENDA DE ATIVOS
Com a ajuda do banco BTG, de André Esteves, Eike já vendeu uma fatia da MPX para a E.ON, uma participação num campo de petróleo da OGX para a Petronas e está em negociações com Trafigura e Glencore para vender parte da MMX.
Também está em busca de investidores para LLX e OSX, mas até agora as conversas não avançaram. Praticamente todos os ativos do grupo estão à venda, inclusive o hotel Glória, no Rio.
"É como uma pessoa física que estoura o cheque especial e agora tem que vender o carro para cobrir o rombo. Ele está vendendo pedaços das empresas", diz Pedro Galdi, analista da SLW Corretora.
A tendência é Eike manter uma fatia minoritária nos negócios que criou, podendo até chegar a perder o controle. O que ninguém sabe ainda é se isso será suficiente para salvar o império daquele que já foi o sétimo homem mais rico do mundo.

Alta do dólar é mais uma preocupação para Eike
Na OGX, por exemplo, percentual da dívida em moeda estrangeira é de 92%
Oscilação do câmbio é contabilizada no balanço financeiro; petroleira afirma que tem proteção
MARIANA SALLOWICZ - FSP
Endividadas em dólar, empresas do grupo EBX, de Eike Batista, têm mais um motivo para preocupação: a recente valorização da moeda estrangeira.
A OGX, petroleira do grupo, possui a situação mais crítica. O percentual da dívida em moeda estrangeira chegou a 92% no primeiro trimestre do ano, período do balanço mais recente. Na OSX, indústria naval e "offshore", o número era de 72%.
A oscilação do câmbio é contabilizada no balanço e se reflete nos resultados financeiros. A consequência é um lucro menor ou um prejuízo maior. No ano, até junho, a moeda norte-americana se valorizou em 8,97%.
"As empresas de Eike que são operacionais pouco produzem. A geração de caixa dessas companhias ainda é baixa e, com uma dívida alta em dólar, vai ser um festival de prejuízos", diz Pedro Galdi, economista-chefe da SLW Corretora.
Do ponto de vista dos investidores, resultados negativos das empresas do grupo EBX devem abalar ainda mais a confiança do mercado.
Nos últimos meses, a petroleira de Eike viu a cota- ção das suas ações despencar com a frustração dos investidores em relação a sua produção.
O valor de mercado da companhia caiu de R$ 41 bilhões, em junho de 2008 (data de ingresso na Bolsa), para R$ 4,47 bilhões, no mês passado.
PROTEÇÃO
A OGX informa que possui um "hedge" (proteção) natural por ter receita em moeda estrangeira, mas o efeito pode não ser total.
"Se a receita não for no mesmo patamar da dívida, a empresa não estará completamente protegida", afirma Marcos Piellusch, professor da FIA (Fundação Instituto de Administração).
A OGX acrescenta que a sua dívida em moeda estrangeira é de longo prazo.
Os vencimentos serão em junho de 2018 e abril de 2022. Ou seja, só nessa data precisará desembolsar o pagamento.
Mesmo assim, as variações que ocorrerem até lá entram na conta do balanço finan ceiro: sem desembolso de caixa, mas com o reflexo no resultado.
Por outro lado, há um efeito positivo na variação cambial. A depreciação do real resulta em uma base menor de cálculo para o Imposto de Renda.
REESTRUTURAÇÃO
Uma das principais preocupações do mercado com o grupo é o endividamento das companhias.
Com o objetivo de acalmar os investidores, Eike anunciou recentemente que a holding EBX concluiu a restruturação da sua dívida.
Segundo ele, restaram apenas as dívidas de longo prazo, que têm um custo menor.
Em meio a essa reestruturação e com limitação de caixa, o grupo também tem negociado a venda de ativos.
Para um analista que preferiu não se identificar, a dívida maior (quando é feita a conversão para o real) pode ser um fator negativo nas negociações.
Na opinião dele, quem pretende comprar alguma empresa do grupo pode oferecer menos por ela usando o argumento do aumento da dívida.

Patrimônio caiu 62% neste ano
Segundo a Bloomberg, o patrimônio de Eike, que já chegou a ser um dos dez homens mais ricos do mundo, agora é de US$ 4,7 bilhões --ele não aparece mais no ranking de 200 pessoas mais ricas. Hoje, a principal fonte de riqueza é formada por dinheiro e outros ativos (US$ 1,25 bilhão).

Interligadas, empresas X caem em 'efeito dominó'
Crise de confiança se iniciou há um ano em petroleira e se espalhou pelo grupo
JEB BLOUNT - REUTERS
À medida que o império de Eike Batista desmorona, a sua situação cada vez mais se parece com a construção do Porto do Açu, um dos empreendimentos mais visíveis do empresário e que se assemelha a um monte de areia no meio de um pântano.
Todas as seis empresas do grupo EBX, com exceção de uma, perderam mais de 90% de seu valor desde que atingiram as suas máximas. As ações da OGX Petróleo e Gás, principal empresa do grupo, estão sendo negociadas a níveis que sugerem que um calote é iminente.
Eike, que foi o mais bem-sucedido empresário do Brasil durante o boom de commodities, tem sido obrigado a ver uma das maiores fortunas do mundo desaparecer. Ela encolheu em mais de US$ 20 bilhões e isso lhe custou o título de mais rico do Brasil.
"A situação de Eike é incrível, no sentido verdadeiro da palavra", diz Chris Kettenmann, analista da Prime Executions, corretora de Nova York. "É espectacular ver o quanto de valor foi corroído."
Os empreendimentos da EBX em petróleo, construção naval, energia e transporte podem sobreviver em uma versão reduzida. Eike, porém, provavelmente não será o controlador, sendo obrigado a vender a sua parte para pagar dívidas.
LIGAÇÕES
No ano passado, as "sinergias" e as ligações financeiras entre as empresas do grupo EBX, que ajudaram Eike a vender cerca de US$ 7 bilhões em ações desde 2006, tornaram-se passivos.
Em junho de 2012, a petrolífera OGX revelou que a produção de seu primeiro campo foi menor que o esperado, aumentando as preocupações de que o estaleiro da OSX receberia menos pedidos da OGX, seu principal cliente.
Como a OSX é âncora de Açu, detido pela LLX Logística, do grupo EBX, as ações da LLX também caíram.
E os dominós continuam caindo, graças em parte aos níveis elevados do endividamento das empresas do grupo EBX e à falta de transparência nos negócios com a holding pessoal de Batista, a Centennial Investments.
Ao mesmo tempo em que Eike propôs comprar mais ações da OGX e da OSX para acalmar investidores, ele também trouxe ajudas externas.
Em março de 2012, vendeu 5,63% da Centennial à Mubadala Development Corp, um fundo soberano de Abu Dhabi, por US$ 2 bilhões.
O que Eike não disse na época foi que ele concordou em se desfazer de uma participação da EBX em favor da Mubadala, caso o investimento na Centennial não proporcionasse um retorno anual de 5%, informou a Bloomberg em dezembro.
Desde então, aumentaram as especulações de que Eike luta para cumprir os termos de Mubadala, bem como os de seus próprios banqueiros.
Diante de tal dúvida, nem mesmo a injeção de mais de US$ 1 bilhão da petrolífera malaia Petronas em maio, e em março da alemã E.ON, além do apoio do banco de investimentos BTG Pactual, de André Esteves, conseguiram deter a queda da EBX.
A dívida de Eike é alta, diz Frank Holmes, executivo-chefe da US Global Investors, do Texas, que conhece Eike desde o final da década de 1980.
No final de março, a dívida de longo prazo das empresas OGX, MPX, OSX e LLX, que detém Açu, estavam em mais do triplo dos níveis médios de endividamento de empresas similares e representavam de um terço a um quinto do capital total de cada empresa. Tais níveis implicam grande risco.
FALHA NA GESTÃO
Sem fluxo de caixa positivo ou lucro, pagar a dívida exige que as empresas do grupo EBX gastem um dinheiro que seria mais bem utilizado para concluir projetos e aumentar receita.
O BNDES e o Fundo da Marinha Mercante do Brasil emprestaram ou ofereceram empréstimos à EBX. Eles podem intervir para proteger o seu investimento, mas o fluxo de caixa prometido para o pagamento de dívidas está sendo atrasado pela burocracia brasileira e pelas próprias falhas de gestão de Eike.
"O cara alavancou tudo, e os banqueiros, como todas as outras pessoas, acreditaram na visão dele", diz Holmes.
Para ele, o problema de Eike é principalmente de administração. Há uma década, erros semelhantes forçaram Eike a vender a TVX Gold para a Kinross Gold Corp após projetos de ouro empolgantes na Rússia e na Grécia acabarem sendo levados a um tribunal.
"Eu realmente respeito Eike como um empreendedor visionário, um pioneiro. Ele não é uma fraude, ele não é um mentiroso", afirma Holmes. "Onde há problemas é na execução."
"Eu não sei o que vai acontecer com Eike", disse em entrevista o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico do Rio de Janeiro, Julio Bueno, cujo governo tem ajudado Eike a desapropriar terras para o porto.
"Nós precisamos do porto, e outros investidores querem construir portos nas proximidades. O porto ainda será construído? Sim. É uma boa ideia? Sim. Será Eike o seu controlador? Isso eu não posso dizer."

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