domingo, 30 de junho de 2013

Insegurança econômica aumenta o impacto político dos protestos
Recuperação do apoio pode depender da ajuda de Lula, considerado o mais indicado para lidar com protestos
MAURO PAULINO/ALESSANDRO JANONI - FSP
Os resultados atuais do Datafolha confirmam a crise de representação como marca das manifestações que ocorreram nas últimas semanas pelo país. O aumento drástico da rejeição ao Poder Executivo é apenas um dos impactos que as imagens de mobilização social provocaram no cenário político nacional.
A frustração da população com os canais tradicionais de participação política e com seus representantes pulverizou-se por diferentes estratos da opinião pública, inclusive nos segmentos que mais apoiam o governo.
Como exemplo, a maioria dos entrevistados pelo Datafolha recusa-se a dizer espontaneamente um nome como candidato para presidente em 2014, comportamento que cresceu 9 pontos percentuais em 20 dias. Dilma, que nessa questão já chegou a ser lembrada por 35%, tem agora apenas 16%.
A mesma tendência é observada na intenção de voto estimulada, em que o índice de sem candidato chega a crescer 12 pontos percentuais em uma das situações propostas pelo instituto.
Outro dado que também ilustra a conclusão é que, nesse mesmo curto período de tempo, cresceu significativamente o percentual dos que negam ter um partido político de preferência.
Assim, não é surpresa o apoio majoritário às alternativas de participação direta sem intermediários, como o caso do plebiscito, e à proposta de uma reforma política. Como também é compreensível o fato de Joaquim Barbosa, sem partido, "top of mind" de combate ao mal político, ser a figura que mais capitalize na crise de representação.
Mas por que neste momento? O campo minado fertilizado pela repressão aos jovens de São Paulo foi a crescente insegurança em relação a variáveis econômicas, especialmente as próximas do dia a dia --desemprego e poder de compra dos salários.
Após a redemocratização do país, impactos negativos na popularidade dos presidentes da República, apesar de nunca tão intensos como o verificado agora, guardam alta correlação com economia, denúncias de corrupção e repressão policial. Os fracassos de planos econômicos dos governos Sarney e Collor, o massacre dos sem-terra em Eldorado dos Carajás em 1996 e a desvalorização do real nos mandatos de FHC, assim como as denúncias sobre o "mensalão" sob Lula, são exemplos de fatos que derrubaram a aprovação de quem ocupava o cargo na ocasião.
Sobre Dilma, a recuperação do apoio popular pode ou não acontecer. E, se acontecer, a velocidade com que isso ocorrerá pode depender da ajuda de seu padrinho político --para a maior parte da população, Lula é o mais indicado tanto para administrar a economia como para lidar com os protestos.

Governo teme que inquietação das ruas afete economia
Orientação no Planalto é para que equipe opere com cuidado no sentido de tentar esvaziar as manifestações que tomaram conta do país
FSP
Depois do tombo em sua popularidade, a prioridade da presidente Dilma tem de ser "baixar a temperatura" das ruas para restaurar a sensação de ordem no país e evitar que a economia, que já sente impacto das manifestações, sofra maiores danos e jogue o crescimento para menos de 2% neste ano.
A avaliação reservada é de assessores presidenciais ouvidos ontem pela Folha. Para eles, a pesquisa Datafolha indica um "sentimento de falta de liderança e de pulso" associada a um momento ruim na economia.
Um auxiliar disse que o governo da presidente Dilma está no seu pior momento, mas tem tempo para se recuperar. Para isso, diz, terá de reaver a credibilidade da política econômica para criar um clima de segurança aos investidores e consumidores.
A operação, reconhece o Palácio do Planalto, tem de ser colocada em prática, mas requer cuidados. O governo não pode nem pretende atropelar os movimentos de rua, mas precisa pôr um fim nas ações de baderneiros e vândalos no país.
Nessa área, a avaliação é que o governo ainda não deu um sinal "forte de autoridade" e precisa fazer isso nos próximos dias. Segundo um assessor, a presidente precisa oferecer ajuda aos governadores. Em última instância, acionar até o Exército.
O Palácio do Planalto conta com uma perda de intensidade dos protestos nos próximos dias depois do término da Copa das Confederações e após a presidente ter saído do isolamento e da defensiva, reunindo-se com governantes, ativistas e movimentos sociais.
Além disso, o governo conta com um "cansaço" por parte da população que está sendo prejudicada pelos protestos. Na semana passada, ministros receberam ligações de empresários do comércio preocupados com depredações e saques de lojas. Houve até pedido para que o governo federal enviasse tropas do Exército.
Segundo um assessor, os episódios de quebra-quebra nas principais cidades do país têm dois efeitos negativos sobre a economia.
Um, de curto prazo, afetando as vendas, que já recuaram nas capitais. Outro, de médio prazo, assustando investidores que se preparam para disputar os leilões de concessões de rodovias e ferrovias no segundo semestre.
O impacto econômico negativo dos protestos acendeu o sinal amarelo no Planalto porque ocorre num momento delicado na economia, com dólar em alta gerando mais pressão inflacionária.
A conjugação desses dois fatores já leva o governo a temer que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas nacionais) fique abaixo de 2% neste ano, quando o Planalto esperava que ficasse próximo de 3%.
FOCO
Um empresário ouvido pela Folha diz estar preocupado porque a presidente, que estava focada em buscar a retomada do crescimento da economia, foi obrigada a mudar sua agenda nas duas últimas semanas para controlar a crise vinda das ruas.
Antes de a onda de protestos tomar contar do país, ele transmitiu à presidente a mensagem de que a recuperação da economia pode não ser sustentável e que o governo precisava fazer ajustes para recuperar a "credibilidade de sua política econômica".
Dilma prometeu ao empresário que iria abrir maior espaço na agenda para conversar com o setor e analisar suas ponderações.

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