CELSO MING - O Estado de S.Paulo
Às vezes, os curtos-circuitos de comunicação são causados apenas por
diferença de tom. Mas, no caso do ministro da Fazenda, Guido Mantega, é mais que
isso. Ele parece enxergar diferente dos demais.
O tom é essencial na comunicação. Muitas vezes, é mais importante do que o
conteúdo do que é dito. Tomemos as nossas tradicionais cantigas de ninar. Quem
se apega apenas às letras fica horripilado. É a cuca que está logo ali, pronta
pra pegar o nenê; é o pai que está na roça e a mãe, também longe, no cafezal,
situação que aponta para uma solidão inexorável; é o assustador boi da cara
preta, também predador de pequenos. Essas coisas foram, e ainda são, marteladas
sobre almas desprotegidas... E, no entanto, a criança dorme. Por quê? Porque o
tom aconchegante prevalece sobre os horrores da letra.
É por isso, também, que as análises de economia e política precisam sempre perseguir o tom correto, sob pena de pôr a perder o essencial.
Um dos problemas do ministro Mantega na comunicação com o público é o tom inadequado com que diz as coisas. Ele ignora os problemas que não poderia ignorar, especialmente quando o País e a economia, como agora, estão alvoroçados, esfolando renda e patrimônio financeiro.
Não é apenas o tom errado. As intervenções do ministro Mantega são frequentemente tomadas por exasperante irrealismo. Depois de ter afirmado que não vira nas manifestações nenhum cartaz contra a política econômica, no pronunciamento de quarta-feira na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, Mantega apontou coisas que só ele vê.
Ele garantiu, por exemplo, que a inflação está caindo e que vai convergir para a meta ainda neste ano. Vá lá, pode ser que, de um mês para outro, fique mais baixa. Mas é inevitável que pelo menos "no curto prazo", como aponta o Banco Central, a acumulada em 12 meses estoure o teto. A projeção do Banco Central para a inflação deste ano é 6,0%, enquanto a meta é 4,5%.
Depois de passar meses a fio prometendo entregar um crescimento do PIB em torno de 4,0% a 4,5%, Mantega limita-se agora a avisar que o País avançará neste ano "mais do que em 2012", como se fosse feito extraordinário crescer mais do que o mísero 0,9% obtido então. Hoje, sabemos, vai ser difícil o PIB evoluir em 2013 mais de 2%.
O ministro também deitou louvação no "novo mix de políticas econômicas" colocado em prática no governo Dilma. Esse mix é um fracasso. Não garante crescimento sustentável do PIB acima de 3%; produz inflação que, no momento, perfura o teto da meta; provoca séria deterioração das contas externas; não segura os juros baixos, perseguidos tão obsessivamente; e, finalmente, é responsável por avarias nas contas públicas. Esse é outro ponto do qual o ministro discorda. Para ele, o equilíbrio orçamentário é exemplar, embora a percepção dos que se debruçam sobre o assunto seja a de que a política fiscal é uma bagunça, como até mesmo o ex-ministro Delfim Netto tem advertido. O próprio Banco Central projeta um resultado fiscal mais baixo do que o ministro.
Fica difícil a criança dormir ao ouvir cantigas com esse tom e conteúdo.
É por isso, também, que as análises de economia e política precisam sempre perseguir o tom correto, sob pena de pôr a perder o essencial.
Um dos problemas do ministro Mantega na comunicação com o público é o tom inadequado com que diz as coisas. Ele ignora os problemas que não poderia ignorar, especialmente quando o País e a economia, como agora, estão alvoroçados, esfolando renda e patrimônio financeiro.
Não é apenas o tom errado. As intervenções do ministro Mantega são frequentemente tomadas por exasperante irrealismo. Depois de ter afirmado que não vira nas manifestações nenhum cartaz contra a política econômica, no pronunciamento de quarta-feira na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, Mantega apontou coisas que só ele vê.
Ele garantiu, por exemplo, que a inflação está caindo e que vai convergir para a meta ainda neste ano. Vá lá, pode ser que, de um mês para outro, fique mais baixa. Mas é inevitável que pelo menos "no curto prazo", como aponta o Banco Central, a acumulada em 12 meses estoure o teto. A projeção do Banco Central para a inflação deste ano é 6,0%, enquanto a meta é 4,5%.
Depois de passar meses a fio prometendo entregar um crescimento do PIB em torno de 4,0% a 4,5%, Mantega limita-se agora a avisar que o País avançará neste ano "mais do que em 2012", como se fosse feito extraordinário crescer mais do que o mísero 0,9% obtido então. Hoje, sabemos, vai ser difícil o PIB evoluir em 2013 mais de 2%.
O ministro também deitou louvação no "novo mix de políticas econômicas" colocado em prática no governo Dilma. Esse mix é um fracasso. Não garante crescimento sustentável do PIB acima de 3%; produz inflação que, no momento, perfura o teto da meta; provoca séria deterioração das contas externas; não segura os juros baixos, perseguidos tão obsessivamente; e, finalmente, é responsável por avarias nas contas públicas. Esse é outro ponto do qual o ministro discorda. Para ele, o equilíbrio orçamentário é exemplar, embora a percepção dos que se debruçam sobre o assunto seja a de que a política fiscal é uma bagunça, como até mesmo o ex-ministro Delfim Netto tem advertido. O próprio Banco Central projeta um resultado fiscal mais baixo do que o ministro.
Fica difícil a criança dormir ao ouvir cantigas com esse tom e conteúdo.
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