Nunca
houve uma queda de popularidade como a de Dilma
José Roberto de Toledo - O Estado de S. Paulo
Não há precedente na curta história desde a redemocratização brasileira de
uma queda tão abrupta da popularidade de um presidente quanto a experimentada
por Dilma Rousseff nas últimas três semanas. Considerado apenas o saldo da
avaliação do governo (ótimo+bom descontado de ruim+péssimo), a presidente perdeu
2 pontos por dia entre 7 e 28 de junho, segundo o Datafolha.
A velocidade da queda da popularidade de Dilma tem sido 3 vezes mais rápida
do que foi a vivida por Luis Inácio Lula da Silva entre agosto e setembro de
2006, por causa do mensalão. É 3,8 vezes mais intensa do que a de Fernando
Collor após o confisco da poupança, e 4,5 mais acelerada do que a de Fernando
Henrique Cardoso após a desvalorização do real no começo de 1999.
Chega-se à mesma conclusão analisando-se a série histórica de pesquisas do
Ibope, que inclui também o governo de José Sarney. Em nenhum período da história
do Brasil desde março de 1986, quando há o primeiro registro de pesquisa de
avaliação presidencial, um governante do país perdeu tantos pontos de
popularidade em tão poucos dias. É um recorde.
Isso não significa, porém, que a atual presidente esteja tão impopular quanto
tornou-se, por exemplo, FHC após desvalorizar o real, ou Sarney e Collor ao
final de seus mandatos. Nem que sua queda foi maior que a deles. Dilma ainda tem
saldo positivo de cinco pontos no Datafolha. Por outro lado, é cedo para saber
se o mergulho de sua popularidade chegou ao fundo do poço. Só novas pesquisas
dirão se a queda persiste.
A causa da queda recorde da popularidade de Dilma é econômica. Os protestos
de rua serviram apenas para catalisar uma insatisfação mais profunda e que pode
ser aferida pelo mergulho de outro indicador: o que mede a confiança do
consumidor. O INEC (Índice Nacional de Expectativas do Consumidor) registrou em
junho sua maior queda desde a crise de 2009.
Esse índice reflete um aumento do pessimismo dos brasileiros em relação à
inflação, ao desemprego e ao poder de compra. O INEC mostra uma mudança da
percepção das pessoas quanto ao que está acontecendo com sua renda pessoal e,
pior para Dilma, quanto ao que elas acham que vai acontecer com a própria renda
no futuro.
É como se a percepção popular tivesse demorado seis meses para registrar o
que mostravam os indicadores objetivos de desempenho da economia desde o final
do ano passado. A pressão da economia sobre a opinião pública foi aumentando ao
longo desse tempo e, como uma avalanche que cai de repente, acabou liberada de
uma vez só pelos protestos de rua das última semanas.
Mais do que os números, o problema de Dilma é a tendência que eles apontam. A
presidente, que durante dois anos e meio se beneficiou da inércia positiva do
fim do governo Lula, agora luta contra ela. O sentimento popular embutido nas
pesquisas é um desejo de mudança – algo oposto ao que elegeu Dilma em 2010.
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